quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Cheiros da vida

De muitos tempos para cá, eu comecei a perceber o quanto o cheiro das coisas me deixa emocionado e me dá muito mais prazer do que outras coisas. Não sei se o porquê seja os meus óculos de três graus ou minha audição não muito aguçada, mas o olfato é o sentido que mais me intriga.

Fazendo uma pequena pesquisa, eu descobri que o olfato é o primeiro dos sentidos humanos a amadurecer. Na verdade, o olfato foi o primeiro sentido desenvolvido pelos homens primitivos.

Uma pesquisa sueca mostra que a memória aromática é longa e persistente: um grupo de suecos de 75 anos participou dessa experiência. A conclusão foi que os indicadores aromáticos evocavam pensamentos relacionados à primeira infância.

Não sei se meu interesse despertou minha sensibilidade olfativa, mas eu me emociono muito com uma lembrança vinda com o cheiro.

Claro que todas as pessoas tem cheiros gravados em suas mentes, como o cheiro de um livro, o cheiro da comida da sua mãe ou do perfume do namorado, mas eu não sei se todas as pessoas chegam a chorar por um cheiro.

Por várias vezes, eu estava andando na rua e senti um cheiro conhecido. Eu paro imediatamente, fecho os olhos e sinto aquele aroma. Dependendo, meus olhos se enchem de lágrimas. É muito estranho. Poderia me emocionar se fosse o cheiro da roupa de um parente falecido ou de um amigo que foi embora, mas não. São coisas muito simples.

Andando pelas ruas, eu parei atrás de um carro. Corolla, não me lembro. Só sei que ali, atrás daquele carro, eu conseguia sentir o cheiro de um amigo que eu conhecia há seis meses. Mais tarde, em frente a um velho hotel aqui da cidade, eu senti o cheiro de outra amiga. Eu não a conhecia muito bem, mas aquele cheiro era idêntico ao dela.

Será que alguém já se emocionou desse jeito?

Num supermercado, eu senti o cheiro de uma amiga que conheço há seis anos. Era a seção de limpeza. Nesse dia foi sério. Eu fiquei ali parado por muito tempo, sentindo aquele cheiro. Eu não converso com ela com tanta frequência, como anos atrás, mas aquele cheiro, sem dúvida, era dela. Quando fui para a escola dias depois, eu procurei por ela. Queria dar um abraço nela. Me deu uma vontade tão grande de chorar quando eu senti o cheiro dela, o aroma do cabelo dela.

Essa outra lembrança foi mais perturbadora. Eu precisava ligar para meu pai e parei num orelhão. Eu tinha uns 13 anos aproximadamente. Quando eu entrei debaixo desse orelhão eu senti um cheiro que me arrepiou todo. Eu liguei para o meu pai e, depois, fiquei ali tentando descobrir que eu conhecia aquele cheiro. Quando eu lembrei que aquele cheiro era da minha sala de aula do jardim de infância eu fiquei mais assustado. Fazia uns 7 ou 8 anos que eu não ia naquela antiga escola! Foi desde então que eu comecei a me interessar por isso.

Hoje, eu estava sem inspiração para escrever e esse assunto me veio na cabeça quando outra experiência me aconteceu. Quando eu estava voltando para casa, há uma hora, eu senti um cheiro maravilhoso. Estava de bicicleta e não consegui sentir aquele cheiro perfeitamente. Tentei reconhecê-lo. Era cheiro de carne assada e shampoo. É. Se eu fosse seccionar aquele cheiro seria em carne assada e shampoo.

Amanhã, vou passar pelo mesmo caminho e tentar me lembrar em que momento da minha vida esse cheiro ficou gravado na minha memória.

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