domingo, 14 de outubro de 2012

Beijos, sussurros e o lápis no papel



Ela chegou de surpresa e o pegou desprevenido. Ele estava sentado à escrivaninha concentrado no delicioso barulho do lápis no papel e um arrepio percorreu todo o seu corpo quando ela beijou seu pescoço. Ele sentia a sensualidade emanar daquela pele macia.

— Eu te disse para você não mais me procurar! O que você está fazendo aqui?

Ela rodeou a cadeira e sentou no colo dele olhando fundo naqueles olhos cansados da leitura. Ela era linda! Ele sabia que tudo nela era perfeito, mas ele ficava desnorteado principalmente com aqueles lábios. Ela o beijou demoradamente deixando-o bêbado. Era impossível ser indiferente àquele toque. Ele fechou os olhos e deixou que sua língua o guiasse pelos contornos daquele beijo.

— Você nunca quis que eu fosse embora.

Ela o conhecia mais do que ele imaginava ser possível. Ele tentava se convencer de que a vida sem ela seria melhor, mas nunca tinha conseguido. No íntimo, ele a queria; ela era uma de suas necessidades vitais. Ele precisava dela. E ela tinha consciência disso.

Ela desfez o beijo e sua língua desceu pelas linhas duras do queixo do homem; a barba, o pescoço... Abriu os dois primeiros botões da camisa dele e deu-lhe pequenas mordidas na pele suada do seu peito. Os olhos dele se reviravam nas órbitas e seu corpo já não lhe pertencia.

Ela era experiente; sua língua, úmida e determinada. Ela se despia e o puxava para si: fazia-o afogar na fartura de seus seios e enfiava suas unhas nas costas largas dele.

Quando ele já estava completamente imerso naquela terra de prazeres, ela se levantou e caminhou sensual para a cama. A única coisa que escondia sua nudez era a escuridão; mesmo assim, as trevas não queriam ocultar tal perfeição: a luz da lua entrava pelas frestas da janela e iluminava um pedaço daquele corpo nu.

Ele tremia. Suas roupas já estavam todas jogadas pelo chão e ele sentia uma leve cãibra nos dedos dos pés. Era uma reação natural do seu corpo. Ele queria tê-la, mas sabia que, se continuasse insistindo naquela loucura, nunca se livraria dela. Era o homem animal querendo seguir o seu instinto primitivo contra o homem racional que queria se livrar daquela loucura.

— Eu te pedi! Pedi para que você não me procurasse. Quanto mais você demorar em desaparecer, maior será meu sofrimento quando eu não puder mais ter você.

Ela se acariciava despreocupadamente.

— Você me quer. Por isso eu estou aqui.

— Você sabe que esse é um momento de fraqueza! — ele gritou. — Você só aparece quando eu não consigo me controlar. Eu não quero mais você aqui.

— Eu sei que quer. Você precisa de mim! — A voz dela era sussurrada. Sensual. — E essa sua... necessidade... é visível. — Ela riu olhando para a nudez do homem na sua frente; o membro rígido.

Ele não ficou envergonhado com aquela brincadeira:

— Eu sei que você não é real!

— Por que você acha que eu não sou real? — Ela ficou em pé e se aproximou. Tocou-o, mordeu sua orelha e sussurrou: — Isso não lhe parece bem real?

— Você só aparece quando o meu inconsciente quer que você apareça. Você não existe. Você me tenta, faz de mim o que você quer e depois some. Essa... esse... isso que a gente tem junto nunca poderá ser saudável. Não tem futuro! Não tem continuidade! Você não existe!

Ela ouvia o desabafo enquanto sua língua explorava os poros do peito dele; os pelos, o cheiro, a textura...

— Você não existe! — A cãibra nos dedos dos pés era uma sensação excitante e ele ofegava. — Não podemos continuar. Você não é real. Você é fruto da minha imaginação.

— E quem foi que te disse que a imaginação não é real? Só porque eu sou fruto da sua mente criativa, eu não posso ser real? Só por eu estar na sua mente, eu já sou real. Apenas por esse fato, eu já existo: faço parte dos seus pensamentos, da sua imaginação. — Ela sorriu. Deitou-se na cama e puxou-o pelo quadril. — Venha comigo! E saiba que o mundo imaginário é bem mais divertido que o real.