quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Cachorro que ladra, não morde

Já passei por muitas situações complicadas envolvendo animais. Mas os cachorros, mais comuns nas quebradas da vida, já me fizeram passar por algumas.

Já fui atacado duas vezes (uma em pleno aniversário), já fui perseguido por um cachorro desdentado e outras cositas mais.

Nenhum deles me metia medo de verdade; era apenas cautela que eu tinha com nossos irmãos caninos. Até que novos vizinhos apareceram na rua de cima da minha casa.

Casa de rico (e bota casa nisso) fica pronto em poucas semanas, então, os novos vizinhos se mudaram.
O muro tem algumas grades pretas, que me permitem olhar lá dentro da casa. Ver os três carros
estacionados, a finíssima decoração do interior da mansão e o tão temido: cachorro.

Por muitos dias, eu achei que aquilo fosse uma estátua, porque por vários dias eu passei diante da grade e via aquele cachorro preto na mesma posição.

Numa noite, eu não o vi mais. "Talvez mudaram a estátua de lugar."

Mas não! Eu estava redondamente, completamente, terminantemente enganado. Era um cachorro real, o motivo dos meus pesadelos noturnos e dos meus medos vespertinos.

Agora eu podia vê-lo andando por alguns lugares do jardim, mas sempre muito calado.

E aquela antiga frase me veio à cabeça: "Cachorro que ladra, não morde."

Até aí, tudo bem... Mas... Pense comigo! Se cachorro que ladra, não morde, então, cachorro que não ladra, morde.

Aquele cachorro(eu não sei a raça; nunca fui bom nessa coisas), continuava lá, calado. Comecei a perceber que ele passou a me encarar.

Eu tentava desviar o olhar, mas não conseguia. Aqueles olhos malignos me atraíam como ímã.

Voltava da escola, quando o dono da casa chegou. De dentro do carro, apertou o botão que aciona o portão elétrico e pôs o carro para dentro. Enquanto isso, o cachorro, sorrateiro que só, saiu para a liberdade da rua. Continuava a me encarar, como todos os dias, mas naquele dia foi diferente. Não estávamos mais separados por um muro.

O cachorro correu nos meus calcanhares. Continuava em silêncio.

Eu acho que foi a vez que eu fiquei com mais medo de um cachorro. Aqueles olhos frios, sem expressão, estavam fixos em mim. Eu continuava num ritmo desesperado, tentando chegar em casa.

O dono da casa, um ricaço, apareceu no portão e gritou o nome do cachorro. Ele voltou e eu não gosto nem de pensar o que seria de mim se ele não tivesse voltado.

Passando pela mansão atualmente, todos podem ver aquele cachorro preto e sua companheira: uma cadela da mesma raça com o pelo branco.

O cachorro continua me encarando. Porém, agora eu sei que, enquanto o muro nos separar, eu estarei seguro do lado da rua.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

E o tempo, hein!


Eu, Beto, confesso que eu tenho parecido um pouco cruel. Na verdade, cruel até demais. Mas todos vão concordar comigo que é horroroso ser obrigado a ouvir coisas que você não precisa ouvir. Sabe? Às vezes, todos nós somos obrigados a ouvir coisas que são inúteis. Isso nos lembra aquela frase: “podia ter dormido sem essa.”


De vez em quando eu mereço ganhar uns puxões de orelha, mas esse não é o assunto. O assunto que eu quero tratar é: eu tenho cara de quê? Padre?

Eu trabalhava num pequeno supermercado. Quanto menor o supermercado, menor o trabalho. Quanto menor o trabalho, mais tempo à toa. Quanto mais tempo à toa, mais as pessoas pensam que eu tenho tempo de sobra para ouvir suas confissões.

— Eu estou comprando esses refrigerantes para fazer um chá de berço para o meu netinho — uma senhora me disse certa vez. — A minha filha já está num barrigão. Meu netinho vai chegar daqui a alguns dias. E não vejo a hora. Ah! Eu já te disse que é menino? Vai se chamar Rosicleydson.

E eu fazia uma cara de paisagem. Às vezes, me aventurava em “Ah!” ou “Oh!”, mas nada mais que isso.

— Filho é uma cruz — uma mulher me disse. — A minha filha sai de casa altas horas da noite com um namorado que eu nem conheço e volta para casa só no outro dia de manhã. E ainda diz que eu sou uma péssima mãe.

Deu para perceber que o melhor lugar para fazer estágio de psicologia é atrás de um balcão.

E cada dia uma coisa diferente.

— O meu time perdeu!

— O meu netinho nasceu!

— Minha vizinha ‘tá com o intestino preso!

— A política no Brasil é uma vergonha.

E eu só naquele monossílabo.

— Hum!...

Um dia, um homem veio me contar sua história.

— Fui assaltado. Um homem chegou por trás e me agarrou. Me falou: “passa a carteira se não
quiser morrer aqui e agora”. Tirei minha carteira e ele levou tudo: identidade, CPF, carteira de motorista, cartão de crédito. Tudo, tudo, tudo.

— Nossa!

— Mas também, né! Com uma 38 nas costas, eu entrego até minhas calças.

E eu sorria, para o outro ver que estava prestando atenção.

— Ontem, meu filho foi numa festa — uma mulher me disse. — Chegou com os amigos tarde da madrugada. Os três rapazes são uma gracinha, sabe? Eles acamparam lá na varanda de casa e eu vou preparar um churrasquinho pra eles. Ah! Vocês tem… como é mesmo o nome?... Pé de moleque? Meu filho adora pé de moleque… — e começou outra história.

Dá vontade de gritar: E EU COM ISSO. EU TENHO UM MONTE DE COISAS PARA FAZER. NÃO DÁ PARA SIMPLESMENTE PEGAR SUAS COISAS E SAIR DA MINHA FRENTE. Mas eu nunca pude fazer isso.

E quando não tinham assunto…

— E essa chuva, hein!

— Pois é!

— Foi bom para apagar a poeira.

— Pois é!

— Foi ruim que molhou todas as minhas roupas no varal.

— Pois é!

— E o horário de verão, hein!

— Começou né?

— Começou. Deixa a gente doidinha. Escurece quando é mais de sete da noite e, quando eu
levanto, o sol ainda não saiu.

— Pois é!

— E esse sol, hein!

— Pois é!

— Choveu ontem, mas hoje ‘tá um mormaço.

—Pois é!

— Vocês são jovens. Eu estou na idade em que não pode brincar com o sol.

— Pois é!

— Pois é, o quê? ‘Tá me chamando de velha?

— Pois é. — Aí que eu percebi que ela tinha mudado de assunto. — NÃO, NÃO. Imagina…

Pegou suas sacolas e saiu pisando grosso.

domingo, 18 de outubro de 2009

A vez de Doraci

(David entra dentro de uma boate com seu amigo Juliano. É quinta-feira e os dois deixaram as esposas em casa para reviver os tempos de solteiro.)

DAVID: Cara, hoje eu quero beber o quanto eu mereço. Eu vou dormir num lugar qualquer só para Doraci não ficar reclamando.

JULIANO: Peraí, David. Você não disse que a Doraci tinha ficado em casa?

DAVID: Mas ela ficou. Eu nem voltei em casa depois do trabalho. Disse pra ela que ia ficar no escritório até amanhã de manhã.

JULIANO: Mas não é isso que estou vendo. (Juliano apontou para um balcão mais a frente.)

( Doraci estava com uma garrafa de vodka debaixo do braço, dançando em cima do balcão. David correu o máximo que pôde para chegar até a beirada do balcão.)

DAVID: (grita para sua voz sobressair ao som da música.) Doraci, o que você está fazendo aí em cima?!

DORACI: Eu estou dançando. Não está vendo?

JULIANO: O que é isso, David? Tem que impôr respeito. Desse jeito a Doraci não sai daí tão cedo.

DAVID: (GRITA) Doraci!!!!

(Doraci senta no balcão e desce.)

DORACI: Que foi, David? Não está vendo que eu estou tentando aproveitar a balada.

DAVID: Doraci, você é uma mulher casada.

DORACI: Você não pensou nisso na semana passada.

DAVID: Doraci, eu não acredito que você é desse tipo de mulher. Vingativa, que se apraz com a desgraça 
alheia.

DORACI: Vá se lascar. (Dançando, ela derruba um pouco de bebida no chão e escorrega. Cai nos braços de um homem desconhecido.)

HOMEM DESCONHECIDO: Ele está te incomodando, senhorita?

DORACI: Pode deixar. É meu marido. Esquece e vamos dançar.

(Doraci agarra-se na cintura de um go go boy e faz um "trenzinho" na boate.

JULIANO: Caraca, hein! A Doraci tomou todas hoje.

DAVID: Ela disse que eu sou o marido dela. Pois é isso que eu vou ser.

(David procura por Doraci no meio da dança. Juliano vai atrás. Uma mulher agarra sua cintura e ele não pode resistir: entra no "trenzinho". Juliano faz o mesmo.)

MULHER: Você vem sempre aqui?

DAVID: Minha filha, eu sou casado! Não está vendo a aliança?(Mostra a mão.)

MULHER: Não tem problema. Eu não tenho ciúmes.

JULIANO: (para a mulher.) Oi. Eu sou amigo dele. Será que...?

(David olhou para trás, mas os dois já tinham sumido. Ele continuou no trenzinho até achar Doraci escorada no ombro de um go go boy.)

DAVID: Solta ela, seu brutamontes. (David ameaça dar um murro.)

GO GO BOY: Calma! Não precisa desperdiçar seu tempo. É toda sua. (E jogou Doraci nos braços de David.)

DORACI: David... (Vomita na camisa de David.) Me desculpa... (Outra golfada.)

DAVID: Tá, Doraci! Tá! Quando a gente sair daqui, eu vou ter uma conversinha com você.

DORACI: Antes me responde uma coisa. O que você está fazendo numa boate gay?

DAVID: Gay?!

DORACI: É. Eu achei que aqui eu ficaria livre de homens inoportunos. (Vomita novamente.) Por isso eu vim pra cá.

DAVID: Eu não sabia que aqui... Peraí! E aquela mulher que saiu com o Juliano?

sábado, 17 de outubro de 2009

O carro que capotou na esquina da minha casa

Para escrever uma crônica é necessário que se aconteça alguma coisa muito interessante.

Não adianta contar qualquer coisa de qualquer jeito. Tem que ser um acontecimento diferente contado de uma maneira inusitada.

Tá! Hoje, então, eu resolvi contar sobre um carro que capotou na esquina da minha casa.

Então, vamos lá:

Um carro capotou na esquina da minha casa. Eu fiquei muito assustado, mas nada de mais aconteceu.

Uau! Que emoção, hein? Fiquei arrepiado!

Tudo bem! Pelo menos não fugiu do tema. Mas, que tal mudar a maneira de contar:

"Não sei se foi sorte ou azar, mas eu me atrasei. É uma coisa que acontece com alguma frequência em minha vida; Estou acostumado.

Quando se está atrasado tudo dá errado: o cadarço embaraça, a chave não entra na fechadura, o cachorro não te deixa passar...

Enfim(ufa),saí de casa. Foi um ouco complicado trancar o portão com tanto desepero. Todos que já se atrasaram sabem do que estou falando.

Quando me virei, um fusca azul, que zunia, que fazia um barulho próximo de uma metralhadora, veio em minha direção em alta velocidade.

Seu condutor, um gordo com um fasto bigode ruivo, estava com os olhos arregalados, seu rosto vermelho. Fiquei um pouco assustado. A última vez que vi aquele rosto foi quando uma vaca louca correu atrás da minha prima.

E o fusca azul continuava em alta velocidade.

Como nos filme, em câmera lenta, o fusca virou com as rodas para cima quando chegou à esquina. Deu mais uma volta até para.

Algumas pessoas ( inclusive eu) observavam a cena, como no cinema, esperando pela próxima ação do protagonista. Ou melhor, de um personagem qualquer. Pois é o personagem qualquer que morre no clímax do filme.

A porta se abriu e o ruivo apareceu de cabeça baixa. Olhou para a plateia... levantou os braços e sorriu com seus dentes amarelos.

Cheguei atrasado na escola, mas com uma ótima história para contar."

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

É melhor se sentar!

Ligaram para a casa daquele homem:

— Eu vou te contar uma coisa, mas é melhor se sentar.

A frase em si já deixa o homem nervoso. Seu coração dispara, a boca seca. Parece que engoliu o ar sem mastigar.

Mal conseguindo segurar o telefone no ouvido, ele se sentou.

— Eu estou falando do hospital Santa Gertrudes e... nós fizemos o possível e o impossível, mas...

— Mas, o quê?!

—É sua mãe...

O homem não conseguia se segurar. Com o susto, seus olhos se encheram de água.

— Ela estava andando na rua — o do hospital dizia, — e... um carro pegou ela em cheio. Ela já chegou aqui quase sem vida.

— Por que não me ligaram antes?

— Eu já te disse. O estado com que ela chegou...

O homem precisou de alguns segundos para se recuperar do choque.

— De onde você é mesmo?

—Do hospital Santa Gertrudes. — E indicou o endereço. — Eu sinto muito, Sr. Luis. — E completou.

— Sr. Luis?! Meu nome é Fernando.

— Mas não é da casa do Sr. Luis Garcia, filho da dona Mariana Garcia.

— Não! — Pausa. — Peraí! Minha mãe não saiu de casa hoje. Ela ainda está dormindo.

sábado, 10 de outubro de 2009

Erro na comunicação

GARÇOM: O que deseja?

HOMEM: Eu quero uma Coca.

GARÇOM: (cochicha) O quê?

HOMEM: Eu quero uma Coca.

GARÇOM: (olha para os lados) Daqui a pouco a gente conversa. (Vai para outra mesa. Atende alguns clientes e volta) Quanto você 'tá querendo?

HOMEM: Uma só. É só pra mim.

GARÇOM: Mas 'cê dá conta sozinho de uma?

HOMEM: Não querendo ser mal educado, mas eu acho que isso não te interessa. Eu só te pedi uma Coca...

GARÇOM: (interrompe) Shhhh... Não seja tão explícito. (Olha para os lados) Alguém pode notar. (Sai. Volta algum tempo depois com um copo de suco.)

HOMEM: O que é isso?

GARÇOM: É um suco. Só pra disfarçar. Alguém pode desconfiar. (Sai.)

HOMEM: Desconfiar, de quê?

(O garçom volta alguns segundos depois.)

GARÇOM: Vou falar rápido. Não quero que ninguém note.

HOMEM: Eu não estou te entendendo.

GARÇOM: Quem foi que te mandou aqui? Quem foi que indicou pra você?

HOMEM: Meu amigo...

GARÇOM: Que amigo? Qual o nome dele?

HOMEM: Júlio... Mas o que isso te interessa. Eu já estou ficando nervoso.

GARÇOM: Calma, calma. Eu que deveria estar nervoso. Esse tal de Júlio parece que não sabe que eu não posso ser procurado aqui. Ele não te deu meu endereço.

HOMEM: Que endereço? Você está maluco. Eu te peço uma coisa, você me traz outra. Depois vem com essa história de endereço. Você está me estranhando?

GARÇOM: Olha, aqui. Esse tal de Júlio vai complicar minha vida, tá entendendo? Por isso que eu não gosto de trabalhar com principiantes.

HOMEM: Do que você está falando?

GARÇOM: Daqui a pouco eu volto. Aquela ruiva 'tá me olhando torto. (Sai.)

(O garçom volta.)

GARÇOM: Tem certeza que só vai levar uma. Ah! Outra coisa. Precisa 'tá com a grana na mão.

HOMEM: Você está achando que eu vou dar o calote na lanchonete.

GARÇOM: A lanchonete é de verdade. É só meu trabalho que é "mascarado".

HOMEM: Olha aqui, eu vou falar para o Júlio que ele estava maluco quando me indicou esse lugar. Eu te pedi uma Coca-Cola e você me vem com uma conversa estranha.

GARÇOM: Ah!...

HOMEM: Eu nunca mais volto aqui. (Levanta e sai.)

GARÇOM: Peraí. Você precisa pagar o suco.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Se meu cachorro falasse...

Alguns dias atrás, eu contei a minha experiência com crianças. Então, eu resolvi contar porque eu prefiro os cachorros.

Dona Marta era uma mulher muito exibida que ia num supermercado que eu trabalhei. Era proibida a entrada de animais, mas ninguém se atrevia dizer isso pra ela. Luli era como uma filha para dona Marta.

Ela chegava com essa cadela no colo e, às vezes, até perguntava coisas para ela. Não sei se ela esperava uma resposta. Se esperava, eu terei a certeza de que dona Marta era louca de pedra.

De vez em quando, dona Marta preferia soltar Luli para ela passear pelo supermercado.

Não seria eu que ia dizer:

— Dona Marta, cachorros não são permitidos nesse estabelecimento.

Eu ficava até imaginando a resposta dela.

— Olha, aqui, Roberto — como minha mãe me chamava para dar bronca, — a Luli é mais humana que muita gente por aqui. Ela é mais educada que alguns adolescentes que trabalham num supermercado, mas que eu prefiro não citar o nome.

Então, eu deixava essa Luli andar pelo supermercado. Pelo menos não era macho. Porque macho que levanta a perna e urina na parede pra depois o escravo aqui limpar tudo com uma flanela.

Como todo maldito cachorro de madame, Luli tinha um latido insuportável; aquele latido agudo, com aquela boca miúda, com o nariz empinado achando que manda em alguma coisa.

Tudo bem... Um dia eu aguento. Dois, três, quatro... Já não estava mais aguentando esse bicho. Eu não podia ver essa maldita Luli na minha frente. Às vezes, ela latia tanto que eu ia dormir com o som desse animal.

E aí vem minha preferência pelos cachorros insuportáveis do que pelas crianças insuportáveis.

Quando uma criança me irrita e eu aperto o dedo dela, ela chama a mãe, mas quando é um cachorro...

Luli continuava latindo e minha cabeça já estava latejando de tanta dor. Sem que dona Marta visse, eu chutei esse maldito cachorro para longe. Ele veio latindo mais raivoso ainda. Tá. Mais um chute não faz mal a ninguém.

Ele começou a fazer aquele som agudo de choro. Dona Marta veio correndo para acudí-la.

— O que aconteceu, Luli? Você se machucou?

Luli continuou calada. O que era para se esperar.

— Você viu o que aconteceu, Beto?

— Não, dona Marta. Eu não vi nada.

Ela foi embora.

Por isso eu prefiro os cachorros.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

SE7E: o número da perfeição


O mistério que envolve o número 7 já me rendeu muitas discussões com meus amigos. É difícil alguém nunca ter percebido esse número está tão presente em nossas vidas, mas eu posso ajudar a refrescar a memória.

Vamos começar com música; as sete notas musicais: dó, ré, mi, fá, sol, lá, si. Ou se preferirem C, D, E, F, G, A, B. E, além da música, há mais 6 belas-artes: 7 no total.

O número 7 é o número sagrado em algumas religiões e muito presente em fatos de outras. Por que são sete e não seis ou oito virtudes? E quem não sabe de cor os 7 pecados capitais: Luxúria, Preguiça, Avareza, Gula, Soberba, Inveja e Ira. E alguém já ouviu falar nos 7 desastres do apocalipse?

Além disso, tem os sete sacramentos do cristianismo.

Existem também 7 planetas da Astrologia exotérica, e 7 constelações com 7 estrelas. E são sete os planetas sagrados.

Também tem outras coisas muito mais simples, como aquele joguinho que é ótimo para crianças: por que sempre é um "Jogo dos 7 erros"? Poderia ser 4 ou 9, mas não, tem que ser sete.

E os sete dias da semana, os mesmos sete dias que Deus gastou para fazer o mundo.

Vamos agora para os contos de fadas: Lembram-se daquela moça que tinha a pele branca como a neve e o cabelo preto como o ébano. Pois é. Branca de Neve e quantos anões? Exatamente. Acertou quem disse 7.

Existe um hábito das pessoas que moram a beira-mar, ou que pelo menos passam o réveillon na praia: as pessoas pulam 7 ondas quando chega o Ano-Novo.

Nas histórias fantásticas também existe aquela velha expressão: "ele cruzou os sete mares". Nessas mesmas histórias, existem mitos de que além do arco-íris existe muito ouro. E quantas cores tem o arco-íris? O mesmo tanto de cores em que a luz branca se divide.

E as coisas da vida...
Quando uma pessoa morre dizemos que ela está a sete palmos debaixo da terra e, quando temos um segredo, guardamos a sete chaves.
E as vidas dos gatos? Os seres mais místicos do mundo possuem sete vidas. Todas muito bem aproveitadas.

Existem também 7 continentes: Ásia, África, Oceania, Europa e as três Américas. E temos também sete maravilhas do mundo antigo e sete do mundo moderno.

Para finalizar, sete é o resultado da soma dos lados oposto de um dado (1 e 6, 2 e 5, 3 e 4). Se um dado não for assim, ele foi construído errado.

Enfim, o sete é o número da perfeição.

Não é para me gabar, mas...

Hoje é dia 7. Sete de outubro. Meu aniversário.

Obrigado.

domingo, 4 de outubro de 2009

Na saúde e na doença

Veja a última publicação dessa série aqui.

(A chuva tinha acabado de cessar. Doraci entra no carro, bate a porta e espera. David entra na porta do passageiro, fecha a porta e olha para Doraci.)
DAVID: Será que você precisa mesmo dirigir?

DORACI: Eu acho que você nem merece uma resposta, David. De longe dá pra ver que você bebeu mais que motor de carro velho.

DAVID: Desnecessário, viu? Desnecessário! Podia ter dormido sem essa.

(Doraci roda a chave e o carro segue. Ela tamborila os dedos enquanto David olha para frente com um olhar perdido.)
DORACI: Você não me respeita mais, David!

DAVID: O quê? Eu não estava prestando atenção.

DORACI: Você não me respeita mais. Não há uma pessoa naquela festa que não tenha percebido que você estava dando em cima daquela mulherzinha.

DAVID: Mulherzinha? Dando em cima?

DORACI: Não se faça de imbecil. Você estava dando em cima, em baixo e dos lados. Eu percebi que você fazia de tudo para encostar seu corpo ao dela. Ia pegar um copo na mesinha, chegava o corpo para frente para encostar-se no joelho dela. Ia cumprimentar alguém, levantava a mão para depois passá-la no cabelo dela.

DAVID: Doraci você está fazendo… está fazendo… como é que é mesmo? Mau… Mau julgamento da minha pessoa. Entendeu? Você não estava… não estava vendo direito.

DORACI: Está me chamando de maluca?! David, eu vou jogar o carro nesse precipício.

DAVID: Doraci, não faça isso! Você está descontrolada!

DORACI: O QUÊ?!

DAVID: Não. É… Eu não sei o que eu disse.

DORACI: Confessa que você estava se jogando para cima daquela safada.

DAVID: Doraci, confissão com ameaça eu acho que não é válido.

(Doraci freia o carro.)
DORACI: Agora você pode me dizer?

DAVID: Olha, Doraci, você não entendeu… as coisas direito. Aquela mulher é que estava se
jogando para cima de mim.

DORACI: Isso é verdade? Isso é verdade? Porque se for verdade eu volto lá e mato aquelazinha. É VERDADE?

DAVID: É, Doraci. Mas eu acho que não tem necessidade de voltar lá, né? Bobagem.

DORACI: Eu vou matar aquela mulher.

DAVID: Doraci, não culpe a moça. Talvez ela nem estivesse fazendo por querer. Achou que eu estava no meio da brincadeira. Só quase na hora de vir embora que eu percebi que aquela loira estava me passando a mão.

(Doraci fecha os olhos e respira fundo. Olha para David com o olhar mais maligno que conseguiu.)

DORACI: Que loira? De que loira você está falando, David? Eu vi uma morena te encostando, e não uma loira.

DAVID: Ah, é! Pois é! Eu nem percebi.

DORACI: VOCÊ NÃO PERCEBEU? Quer dizer então que numa hora você estava com uma morena, depois no final da festa foi farrear com uma loira.

DAVID: Doraci, eu não estou em condições de fazer de fazer julgamentos tão complexos. Duas horas da manhã…

DORACI: Estou pensando naquela frase do padre: Até que a morte vos separe.

DAVID: Então, vá morrer sozinha. (David desce do carro. Doraci também desce do carro e dá a volta até chegar ao David que ia longe pela rua.) O que aconteceu? Resolveu pular sem o carro?

DORACI: Eu te odeio, David. (Ri. Corre e abraça-o.) Você é o ser mais desprezível do mundo.

(Se beijam. A chuva volta mais forte.)
DAVID: É melhor voltarmos para o carro antes que molhe o estofamento novo.

sábado, 3 de outubro de 2009

Live your passion


Não sei se isso é explicado cientificamente, mas é muito interessante o quanto ficamos emocionados com uma vitória brasileira.

É mais comum uma vitória esportiva ser presenciada pelos brasileiros, por isso a televisão nos puxa para nos grudar diante dela para assistir nossos heróis.

Nós somos o único país a conquistar o pentacampeonato do mais importante acontecimento futebolístico do Mundo — ganhar uma vez é boa, cinco é melhor ainda.

Ainda tem os grandes que fizeram o seu nome: Ayrton Senna (F1), Felipe Massa (F1), Rubens Barricello (F1), César Cielo (natação), Daiane dos Santos (ginástica olímpica), Guga (tênis), Marta (futebol), e mais um punhado de gente que nos faz vibrar.

Liga Mundial de Vôlei, Copa do Mundo de Futebol, Campeonato Mundial de Esportes no gelo, até Campeonato de aviõezinhos de papel tem brasileiro no meio.

Ontem, dia 02 de outubro de 2009, é um dia para ficar na lembrança. Em Copenhague, na Dinamarca, o nome da cidade maravilhosa foi anunciado e, no resto do mundo, quem tem o sangue das cores da bandeira pulou de emoção.

“Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor!”

Em 2016, os olhos do mundo vão estar virados para o Rio de Janeiro, para a cidade que fará que todos VIVAM SUA PAIXÃO.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Tiago, o anjinho

Crianças são seres tão puros, mas de vez em quando eu, Beto, me permito ficar com raiva de algumas delas.


Trabalhava num supermercado quando eu conheci o Tiago; uma gracinha de menino. Cabelo arrumadinho, a roupa limpinha e com uma carinha de anjo: bochechas rosadas e sorriso meigo. Mas não se enganem com a aparência.


Ele chegava ao supermercado e gostava de tirar tudo dos lugares. A mãe dele, uma mulher rica e bem educada, pedia para que ele largasse as coisas, e ele imediatamente obedecia. Porém ele não estava completamente satisfeito.

Ele já tinha acabado com a sua cota de bagunças em frente à mãe, por isso, agora, ele ia aprontar escondido.

Rodeava o balcão e me jogava coisas na cabeça. Tudo bem, eu sou acostumado com algumas crianças assim.

— Olha, Tiago, não faz isso com... — ele me interrompia com outro objeto na cabeça.

Eu levantei a cabeça, com um pouco de impaciência com esses meninos mimados, e ignorei. Mas o pestinha não parou de me jogar coisas.

No dia seguinte, a mãe e o filho apareceram de novo no supermercado. O Tiago aprontou algumas, depois de a mãe ralhar com ele, ele rodeou o balcão e, com uma zarabatana, soprava pedrinhas no meu pescoço.

— Tiago, o tio não está... — ele novamente me interrompeu com uma pedrinha na testa.

Eu fiquei, realmente, muito, muito irritado. Olhei para ele com um olhar muito assustador.

— Olha, aqui, garoto. Algum dia eu vou descontar.

O menino cerrou os olhos, encheu os peitos de pulmão e gritou:

— Mamãe!

Mas que merda.

O menino trouxe a mãe pelo braço. A mulher muito preocupada perguntou para o filho o que era.

Ele olhou nos meus olhos e depois para a mãe.

— Não é nada, mamãe. — E sorriu para mim. E, assim, seguiu durante muitos dias. Numa quinta-feira, ele chegou com um estilingue. Ele trazia pedras maiores no bolso da calça e eu já esperava um calombo na testa.

Seguiu-se o ritual e ele rodeou o balcão e começou a me arremessar pedrinhas.

Eu tentei ignorar, mas ele insistia. Eu tinha um plano e esperava que não demorasse tanto, senão o menino furaria meu olho.

Rápido, rápido, rápido.

Parecia que o fundo do bolso não existia. Umas vinte pedras, eu acho, me acertaram.

— Tiago Fernandes do Nascimento!

Demorou, mas a mãe do garoto apareceu.

— Desculpa, moço, mas o meu filho é um pouco levado.

Achei sinceras suas desculpas, mas não sarou minha canela roxa do dia em que ele me deu um chute.

— Tudo bem — eu respondi.

Ela nem comprou o que queria. Saiu puxando o garoto pelo braço.

Tiago virou de costas, sem a mãe ver, e me mostrou a língua. Eu também senti muito prazer em mostrar a minha.