sexta-feira, 24 de maio de 2013

Uma história de amor


Nos últimos meses tenho lido e refletido bastante sobre o desenvolvimento de roteiros e livros justamente pela minha pretensão em me enveredar por esses caminhos num futuro não muito distante. É claro que enquanto penso em minhas pretensões literárias, sonho em ser um grande escritor. Ninguém sonha em ser um profissional medíocre: queremos fazer algo diferente; queremos que, de alguma maneira, tenhamos algum destaque no meio da multidão. E eu, como qualquer um, não sonho em ser um escritor esquecido na prateleira de um sebo.

Dessa maneira, vejo o quanto é importante entender o mundo para o qual queremos vender nossa obra. Se dermos sorte (na verdade, eu não sei se devo usar essa palavra), nossa ideia perdurará séculos e fará a alegria de gerações posteriores: Romeu e Julieta, do Shakespeare, A Escrava Isaura, do Bernardo Guimarães, e Titanic, do James Cameron, estão aí para não me deixar mentir.

Penso que essas são obras que emocionam geração após geração justamente pelo fato de conseguir traduzir com habilidade sentimentos muito próprios que, de certa maneira, permaneceram intactos com o passar dos anos. E que meus professores de História não leiam isso!

São histórias que tratam de questões próprias de seus tempos, mas que conseguiram ser tão universais que continuam nos convencendo até hoje. Acho que esse é o ponto-chave de um roteiro, livro ou qualquer outra obra literária ou audiovisual. Conseguir entender e traduzir sentimentos de uma época é uma habilidade imprescindível para quem produz histórias. Nesse sentido, preciso elogiar o trabalho encantador produzido no horário nobre da TV Globo.

A Globo talvez seja essa potência televisiva justamente pelo fato de conseguir dar conta dessas questões contemporâneas às suas produções: não só os medos, desejos e ambições de uma época, mas também preocupações sociais como a dependência química, o alcoolismo, a esquizofrenia e, mais recentemente, o tráfico de pessoas. A nova novela das nove, Amor à Vida, ainda não mostrou esse seu lado característico das novelas do horário, mas já teceu uma linda história de amor. Linda e, ainda mais importante, convincente!


Não posso desconsiderar que uma novela é uma obra coletiva, mas o trabalho de roteiro do Walcyr Carrasco é sublime. Carrasco é o responsável por fazer com que eu me apaixonasse pelos clichês em suas novelas das seis; errou um pouco a mão em suas novelas das sete, mas voltou com diálogos profissionais em Gabriela.

Amor à vida é cheia de clichês, mas, nas mãos certas, eles ganham outro tempero: o vilão ambicioso que tem inveja da irmã; essa irmã, uma moça rica e infeliz, cansada de sua vida monótona, se apaixona e foge com um hippie que ela conhece no Peru; esse ato causa o descontentamento (isso é eufemismo!) da mãe autoritária... 

Uma história de amor protagonizada por Paola Oliveira, a nova Regina Duarte das novelas, Malvino Salvador, que mostrou um profissionalismo surpreendente no papel do recém-viúvo Bruno (alguém sabe se ele entrou numa fonoaudióloga?), Juliano Cazarré, que emplaca o terceiro sucesso consecutivo no horário das nove com três textos excelentes, Mateus Solano, que tirou a sorte com o personagem mais interessante dos últimos anos, e Suzana Vieira, que está tendo a oportunidade de mostrar que é uma atriz de primeira linha depois de tantos anos fazendo personagens espalhafatosos (e chatos) do Aguinaldo Silva.


Walcyr Carrasco, assim como o aclamado João Emanuel Carneiro, tem senso de humor e uma habilidade com tiradas e situações inusitadas que me deixa eufórico no sofá. Consegue mostrar em Amor à Vida a classe C que é tão aguardada na recente dramaturgia, mas coloca o núcleo rico da novela no centro da história; o que já me fazia falta. É uma novela ágil, com enquadramentos de câmera que eu nunca tinha visto em novelas e que, como disse um crítico, promete consolar os viúvos da Carminha de Avenida Brasil.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Em tempo de Danilo Gentili



Acho que houve um tempo em que eu ansiava por viver emoções fortes, situações complicadas... Algo que me mostrasse que eu estava vivendo de verdade. Mas, diante do meu medo e da minha insegurança, a minha vida não passava de uma sucessão de acontecimentos mesquinhos, irrelevantes. Por causa dessa ânsia por viver, eu encontrei o meu consolo no blog nos últimos quatro anos. Foi com base nesses pensamentos que eu interpretei a minha presença assídua dois anos atrás, por exemplo, e também a minha ausência e aparente descaso nos últimos meses.

Eu desapareci nesses últimos tempos, e tenho pra mim que isso se deve ao fato de que finalmente eu estou vivendo. Estou lidando com problemas reais, preocupações reais; sinto em meu íntimo que eu consegui tomar as rédeas da minha vida e não deixar me levar pelos acontecimentos ao meu redor. Consegui tornar-me um protagonista da minha história. O blog continua sendo uma preocupação minha, mas isso já faz parte da minha adolescência que a cada dia se distancia mais.

Acho também que não consigo lidar muito bem com internet. Vejo canais de vídeos, blogs, páginas em redes sociais ou perfis fakes de grandes personalidades sendo geridas por estudantes de jornalismo, publicidade, letras... Gente jovem com muitas ideias e muito conteúdo na cabeça. Sim, eu também tenho pouca idade e também tenho inúmeras ideias, mas eu tento lidar com esse blog e com minhas redes sociais usando a minha intuição. Mas a minha intuição é meio cega e disléxica.

Em tempo de danilo gentili e agora é tarde, com suas piadas rápidas e sacadas infalíveis, sinto-me como um programa do jô esquecido numa madrugada insone. Pior! Acho que se a blogosfera pudesse ser comparada à televisão brasileira, eu talvez fosse o ronnie von com o todo seu cheio de matérias interessantíssimas, mas que só interessam a ele e uma pequena minoria de espectadores. Sim, tem bom gosto e muito conteúdo, mas não tem o gás da juventude publicitária!

Sinto-me velho quando me lembro que eu era razoavelmente bem sucedido em minhas divulgações no falecido orkut, mas sou frustrado quanto ao facebook, twitter ou qualquer outra coisa.

Sim, estou vivendo, mas não parei de escrever. Só acho que o blog já não satisfaz todo o meu afã por literatura. Vou me tornar um visitante casual desse blog assim como a maioria de todos que por aqui passam. Ele continuará tendo a minha cara, continuarei satisfazendo os meus desejos, continuarei me preocupando com o alinhamento dos textos mesmo que ninguém se importe com isso, continuarei escrevendo textos imensos falando dos meus problemas, continuarei falando dos meus problemas para uma quantidade ínfima de leitores, sentindo-me cada vez mais esquizofrênico, mas espero sinceramente que todos compartilhem uma garrafa de vinho ao meu lado.

as letras minúsculas foram propositais!

domingo, 19 de maio de 2013

E outro semestre


Eu já nem lembro pronde mesmo que vou
Mas vou até o fim

Começa mais um semestre letivo. Depois de quatro deles, eu já deveria ter me acostumado, mas não; continuo ficando com um frio na barriga pensando tudo que me espera nos próximos meses. É um período de muitos momentos felizes, não nego, mas, às vezes, conquistados com muito estresse, cansaço e infinitas noites mal dormidas.

É quando eu vou acordar cedo todas as manhãs e, antes que eu me acostume com a luz do sol, a temperatura ou o gosto ruim do café, eu já estarei na rua com minha inseparável mochila.

Esse início de semestre serve para novas promessas: prometer a si mesmo que dessa vez você vai fazer diferente. Mas eu sempre ficarei frustrado por não dar conta de todas as leituras, por pensar em desistir de alguma das cinco disciplinas, por não conseguir acompanhar nenhum programa de televisão, por não conseguir ir ao cinema semanalmente, por não ter tempo de comer algo melhor que um miojo.

Eu vou ficar com raiva de mim mesmo por ter passado tempo demais na internet ou por eu não ter conseguido ler nenhum romance policial, fantasia medieval ou qualquer outro clássico da literatura.

Eu vou pular algumas refeições, vou dormir pra esquecer meu nome, vou passar horas a fio na frente de um computador tentando escrever um texto pro blog e, sim, vou me esquecer de pelo menos dois banhos na semana.

Vou enfiar uma coxinha goela abaixo, vou esquecer-me das minhas redes sociais por muito tempo, vou enfrentar ônibus e chuvas e filas e louças na pia. E vou andar com a mochila cheia de livros... que eu nunca vou ler.

Bem, eu não sei bem onde tudo isso vai dar, mas, surpreendentemente, eu amo tudo isso!

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Como um raposo



“Nicolás era belo como uma donzela. Herdara a delicadeza e a transparência da pele de sua mãe, era pequeno, magro, astuto e rápido como um raposo. De inteligência brilhante, sem nenhum esforço superava o irmão em tudo o que juntos empreendiam. Inventara uma brincadeira para atormentá-lo: discordava dele em um assunto qualquer e argumentava com tanta habilidade e certeza, que terminava por convencer Jaime de que estava equivocado, o brigando-o admitir o erro.

— Tem certeza de que eu tenho razão? — indagava finalmente Nicolás ao irmão.

— Sim, você está com a razão — grunhia Jaime, cuja retidão o impedia de discutir de má fé.

— Ah, alegro-me! — exclamava Nicolás. — Agora vou demonstrar-lhe que quem tem razão é você e que o equivocado sou eu. Vou-lhe dar os argumentos que você teria apresentado se fosse inteligente.”

Trecho do livro A Casa dos Espíritos, da escritora chilena Isabel Allende. A rapidez, a astúcia e essa arrogância charmosa do Nicolás me fez rir.