terça-feira, 27 de abril de 2010

Atire a primeira pedra


Não conseguimos calcular o quanto a música mexia com os adolescentes de décadas atrás. Até hoje, que vivemos num mundo relativamente liberal, os jovens querem ser contestadores. Imaginem há 40 anos! Uma sociedade conservadora, um governo rígido, a censura... A música era a válvula de escape dos jovens daquela época.


A expressão de sua revolta através da música deveria ser muito importante para eles. Imagine viver cercado de caretices e injustiças e não ter voz para protestar? Se as vozes não são ouvidas, então, que façam barulhos!

As melodias, as letras com duplo sentido... Era a mesma sensação de um jovem do nosso século colocando um piercing ou fazendo uma tatuagem sem o conhecimento dos pais.

Como todos sabem, as coisas mudaram e algumas pessoas pensam apenas no retorno financeiro. Não só na música, mas nas artes plásticas, no cinema e na literatura. Mas leia bem: apenas algumas pessoas.



Ainda há artistas que se preocupam com a qualidade do trabalho, que não fazem as coisas de qualquer jeito. E se é pra falar de contestação, temos bons exemplos: Marcelo D2, Mv Bill, Túlio Dek e Gabriel, o pensador, falam da realidade dos subúrbios da cidade e o U2 fala em suas letras sobre amor, futuro e meio ambiente. Outros também estão preocupados com os problemas sociais e ambientais, como Nx Zero, Madonna, Black Eyed Peas e ColdPlay.


Não podemos generalizar dizendo que todos estão acomodados, de braços cruzados diante dos problemas sociais. A música ainda é, e sempre será uma forma de liberdade, expressão e inclusão social.

E mesmo indignados com a música atual, a gente gosta das letras românticas e músicas próprias para consumo. Duvido que pelo menos uma vez você não tenha gostado de cantores com Lady Gaga, Justin Bieber ou qualquer dupla sertaneja por aí. ;)

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Aquele pescoço não sai da minha cabeça

Dois amigos conversam sentados num banco de praça. Edgar, cabelo castanhos, olhos com cor de mel e sorriso branco. Amanda, de cabelos pretos presos num rabo de cavalo, olhos de um verde profundo e um corpo esbelto.

São apenas amigos.

EDGAR: Hoje eu descobri uma coisa, que eu nunca tinha pensado em todos os 19 anos de minha existência.

AMANDA: Tá. Se você for dizer que é gay, eu vou te aceitar…

EDGAR: (interrompe) Não! Eu descobri que eu sou apaixonado por… pescoços.

AMANDA: Pescoços?! Tipo, pescoços de galinha?

EDGAR: Não. Estou dizendo pescoços humanos. De pessoas.

AMANDA: Gosta, tipo, que nem os vampiros?

EDGAR: Você não está entendendo. Tem gente de gosta dos olhos, do sorriso, das mãos, dos pés das pessoas… Eu gosto do pescoço. Gosto de admirar a beleza de um belo pescoço.

AMANDA: Você tá parecendo aquelas pessoas que dizem que gostam de joelhos e de cotovelos. Sei lá! Tem gente que gosta até do branco do olho.

EDGAR: Mas nada se compara aos pescoços. Descobri essa minha paixão andando hoje pela rua. Foi de longe que eu vi aquele pescoço moreno, certinho, perfeito…

AMANDA: Pescoço certinho?! Será que tem alguém com o pescoço torto?

EDGAR: Sei lá! Só sei que quando eu vi aquele pescoço eu não parei de pensar nele. Um calor maravilhoso passou por todo meu corpo como se eu tivesse segurado um fio desencapado.


AMANDA: Isshhh… Ficou maluco!


EDGAR: Fiquei apenas imaginando o perfume que estaria impregnado naquele pedaço de corpo… Fiquei imaginando a maciez daquele pescoço, a textura daquela pele morena… Ai, ai!

AMANDA: Credo! Deu pra imaginar isso tudo? A mulher deve que já tava pensando que você queria assediá-la.

EDGAR: Mas eu só estava olhando para o pescoço.

AMANDA: Sei muito bem como os homens gostam de um pescoço. Gostam daqueles que ficam em cima de um decote bem grande.

EDGAR: Mas não tinha decote nenhum. E mesmo se tivesse eu não teria olhos para outra coisa a não ser…

AMANDA: Tá, tá. Aquele pescoço.

EDGAR: A gola da blusa terminava bem no pescoço. (Arrepio) Ai, ai… aquela gola.

AMANDA: Ai, meu Deus! Você se decide. É o pescoço ou a gola?

EDGAR: O conjunto da obra. Daria de tudo para tocar aquele pescoço com minhas mãos, meus lábios...

AMANDA: Pelo jeito você nem olhou para a cara da moça.

EDGAR: Não. Mas eu só tinha…

AMANDA: Tá, tá! Já chega. Você tem que se controlar, meu Deus! Que obsessão por aquele pescoço. A mulher deve que já tava imaginando: “Que homem safado que não para de olhar pr’os meus peitos!”. É assim que as coisas acontecem, Edgar. Os homens não podem ser levados a sério. Eles só pensam naquilo. E, mesmo sendo meu amigo, você é primeiramente homem, e… Edgar? Edgar?

EDGAR: Hã?!

AMANDA: Você tá me ouvindo?

EDGAR: É porque aquele pescoço não sai da minha cabeça.

sábado, 24 de abril de 2010

Simplicidade


"Livros por toda parte! Cada parede era provida de estantes apinhadas, mas imaculadas. Mal se conseguia ver a tinta. Havia toda sorte de estilos e letras diferentes nas lombadas dos livros, pretos, vermelhos, cinzentos, de toda cor. Era uma das coisas mais lindas que Liesel Meminger já tinha visto.”
A Menina Que Roubava Livros – Markus Zusak



“Nossos pés batem nos traseiros de tanto correr, e não quero que isso pare. Quero correr e rir assim pra sempre. Quero evitar qualquer momento de sem-gracice quando o diabo da realidade enfiar o tridente na nossa carne, nos deixando ali parados, juntos, com cara de manés. Quero ficar aqui neste momento e nunca ir a outros lugares, onde a gente não sabe o que dizer nem o que fazer.
Por enquanto, deixem a gente correr em paz.A gente corre direto pela madrugada na maior gargalhada.”
Eu sou o mensageiro – Markus Zusak

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A felicidade está nas pequenas coisas


A cada dia que passa eu percebo o quanto pequenas coisas podem nos deixar tristes, cabisbaixos. Mas são pequenas coisas também que nos deixam animados, pra cima.


Concluí que não precisamos de muitas coisas para sermos felizes. Não precisamos ser ricos, morar no melhor bairro da cidade, viajar pro exterior e todas essas outras coisas.

A felicidade está nas pequenas coisas.

Percebo o quanto uma música pode mudar o astral de nossas vidas. Ouvir uma música no rádio ou num CD velho que você nem se lembra mais onde comprou e ouvir aquelas canções que eram o motivo para comprar aquele disco.

Deixar que o som da harmonia, que o som das vozes e dos sons se misturem no ar ao seu redor e te façam sentir a sensação de fazer parte daquele espetáculo maravilhoso.

Percebi também o quanto um livro pode mudar nosso humor. Não precisa ser um livro de auto-ajuda, ou sobre as teorias filosóficas e as explicações psicológicas dos nossos sentimentos. Pode ser um livro de aventura que te deixa grudado até a última página, um suspense que faça você ficar arrepiado, uma comédia para você rir sozinho dentro do seu quarto...

Um bom programa de fim de semana também muda nosso estado. Como eu disse, não precisamos viajar para o exterior para sermos felizes. Um fim de semana na beira do rio, um passeio de carro, aproveitar o ócio para olhar o céu...

E os amigos. Ah! Os amigos! Como eu sinto falta dos meus amigos quando ficamos dois dias separados. É maravilhoso fazer qualquer coisa com os amigos. Sei lá! Sair numa lanchonete qualquer, uma coisa pequena, sem movimento; sair apenas para andar e falar sobre qualquer coisa; ir na casa um do outro só para comer macarrão ou para assistir a um filme; ir na caso do outro apenas para dar um abraço.

Ah! Os amigos. Talvez a amizade não seja eterna, mas que seja terna enquanto dure.

Coisas pequenas. Coisas que não tem nenhum valor financeiro, mas que enchem nossos peitos com um fogo ardente, com uma sensação de alegria; que enchem nossos olhos de lágrimas. Lágrimas de Felicidade.

São essas pequenas coisas que nos fazem felizes. Coisas que estão ao alcance de qualquer um. A Felicidade está ao alcance de qualquer um.

A Felicidade está dentro de você!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Playlist

Quero fazer uma Playlist há algum tempo, mas... Eu acho que as pessoas não ouvem as mesmas coisas que eu ouço. Não estou acostumado com o que faz sucesso atualmente. Então, resolvi fazer um Top 10 das minhas músicas favoritas, mas que fazem sucesso e estão no MP3 de (quase)todas as pessoas. MP3? Que coisa antiga!

Ne me quitte pas – Maria Gadú

My Girl – Tiago Iorc

I see you – Leona Lewis

Cherish – Marjorie Estiano

Who says – John Mayer

I look to you – Whitney Houston

A história de Lily Braun – Maria Gadú

O Vento – Jota Quest

Use Somebody – King of Leon

All Star – Smash Mouth

É isso aí! Se alguém tiver a oportunidade de baixar uma dessas músicas ou comprar um CD, fique sabendo: vale a pena cada segundo esperado ou cada centavo gasto

sábado, 17 de abril de 2010

Amar é...


Nos últimos dias, eu tento buscar um significado para o que o amor. Por algum momento pensei que o amor talvez não tivesse significado. Fosse apenas aquele sentimento inexplicável, aquele calor dentro do peito, os pensamentos flutuantes, suor na palma da mão...


Mas, ontem, uma música não me saía da cabeça e eu achei que, se o amor não fosse isso, chegaria bem perto.

Amar é...
Amar é quando não dá mais pra disfarçar

Tudo muda de valor
Tudo faz lembrar você

Amar é a lua ser a luz do seu olhar
Luz que debruçou em mim
Prata que caiu no mar

Suspirar, sem perceber
Respirar o ar que é você
Acordar sorrindo
Ter o dia todo pra te ver

O amor é um furacão, surge no coração
Sem ter licença pra entrar
Tempestade de desejos
Um eclipse no final de um beijo

O amor é estação, é inverno, é verão
É como um raio de sol
Que aquece e tira o medo
De enfrentar os riscos, se entregar


Se puderem baixar a música na voz do Roupa Nova, vocês não vão se arrepender. Dá pra sentir o gosto da música, a emoção do amor. Perfeito!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Nunca morreria dentro de mim

Foi há três dias. Exatamente três dias que eu chamei meu filho para sairmos juntos. Ele tinha acabado de chegar do seu treino de futebol e, eu, do meu trabalho. Lembrei que há muito não saíamos juntos. E um programa pai e filho não faria mal a ninguém.

Ele topou.

Tudo foi perfeito. A lanchonete foi escolhida por ele. Bom gosto. Sentamos, pedimos o lanche, comemos. Conversamos sobre tudo. Foi ótimo poder ver que meu filho ainda gostava de mim. Bobagem eu pensar que não.

Saímos da lanchonete e dispensamos o carro. Resolvemos caminhar pela rua. Sentir o vento frio do fim de tarde.

Entramos numa loja de discos e eu disse que ele poderia escolher um. Ao gosto dele. Alguma coisa nova que ele estivesse gostando.

Foi ótima a sensação de poder estar com meu filho ali. De poder dar um presente a ele. Mas hoje, três dias depois, eu me pergunto se eu deveria ter entrado com meu filho naquela loja. Carregado meu filho para sua morte. Levado meu filho para aquele lugar invadido por bandidos. Frios. Cruéis. Bandidos que não hesitaram em atirar no peito do meu menino.

Voltei para casa dois dias depois. Não tinha conseguido dormir nas últimas horas. Minhas olheiras me consumiam e o cansaço vencia o meu corpo… As lágrimas já tinham secado…

No vazio da casa, o choro seco voltou a minha garganta. Aquilo ecoava pelas paredes da casa deserta.

Eu sabia que a visita ao quarto do meu filho era algo que aconteceria mais cedo ou mais tarde. Achei que não deveria adiar por muito tempo. Não deveria adiar mais.

O quarto estava exatamente do jeito que ele havia deixado. O tênis e as meias jogados num canto do quarto, o uniforme do time de futebol deixado sobre uma cadeira com seu suor que havia secado nos últimos dias. Sua cama estava perfeitamente em ordem. A mochila da escola deixada no lugar de sempre, o violão…

Eu sabia que pelo resto da minha vida, pequenas coisas fariam que eu me lembrasse do meu garoto. Saí do quarto. Não chorei, porque não tinha mais forças. Não me faltou vontade.

Na sala, eu encontrei o livro jogado no sofá. Eu sabia que aquele livro era dele. Agora, eu me arrependi de não ter perguntado pra ele sobre aquele livro, sua história… Uma página estava marcada. Era ali que ele tinha parado de ler. E ele nunca mais saberia o final daquela história.

Deitei-me abraçado ao livro. Tinha acabado de decidir que eu terminaria aquela leitura. Contaria aquela o fim para o meu filho. E eu tenho certeza de que ele vai ouvir. Senti uma ponta dentro do meu casaco.

O CD. Seu último desejo realizado. E ele nunca chegou a usufruir, a gozar da sensação daquelas músicas. Essa banda seria minha banda preferida agora.

Tudo me fazia lembrar-se dele.

O meu filho nunca morreria. Nunca morreria dentro de mim.

terça-feira, 13 de abril de 2010

O que é isso, Doraci? (Parte II)

Veja a Parte I, clicando aqui.

(Vera está jogada no jardim da casa de David e Doraci, enquanto o casal tenta entender o que a tia estava fazendo ali.)
DORACI: O que a senhora tá fazendo aqui?

DAVID: Realmente eu tinha razão. Sua tia deve ter batido a cabeça e perdeu uns parafusos.

VERA: Calma, eu vou explicar tudo. Mas, antes, vocês podem me tirar desse barro. Tá frio demais aqui.

(David e Doraci levaram tia Vera pra dentro de casa.)
DORACI: NÃO! A senhora não tá pensando em sentar no sofá com essa bunda suja de lama, não, né?

VERA: Tudo bem. Eu fico em pé.

(David se senta no sofá.)
DAVID: A senhora não sabe o que está perdendo.

DORACI: Tia, eu tô esperando sua história.

VERA: Foi o seguinte, Doraci. Eu tava com… com… meu namorado.

DAVID E DORACI: NAMORADO?!

VERA: É. Eu o conheci na semana passada e nós começamos a namorar. Vou te contar, minha sobrinha, eu estou, quer dizer, estava perdidamente apaixonada por ele.

DORACI: Que bom, titia!

VERA: Eu disse estava.

DORACI: Mas a gente sempre se decepciona com os homens.

VERA: E hoje… (começa a lacrimejar) Eu o vi… beijando uma garota de uns quinze anos.

DORACI: Que canalha! Tia, a senhora deveria denunciá-lo por pedofilia. Isso mesmo. Esse safado fica dando em cima de uma menina. Ela é pouco mais que uma criança.

VERA: É que… ele tem… dezenove anos.

(Silêncio.)

DORACI: Hum? Eu não ouvi essa última parte direito.

VERA: Ele tem dezenove anos.

DORACI: É…

(Silêncio.)

DORACI: É… Tia, que tal um banho legal, hein. Oh, coisa boa, hein? Pois é. O banheiro é por ali, tia.

(Vera sai. Doraci senta-se no sofá ao lado de David.)
DORACI: Eu que não ia falar que o garoto tem idade de ser filho dela. Coitada! Oh, desilusão.

DAVID: Doraci, eu tô aqui pensando. O que você quis dizer com “a gente sempre se decepciona com os homens”?

segunda-feira, 12 de abril de 2010

O que é isso, Doraci? (Parte I)


DORACI: (cutucando David e cochichando) David! David! Acorda!

DAVID: Hum!?

DORACI: Acorda David! Eu acho que eu ouvi um barulho lá fora!

DAVID: Cala a boca, Doraci!

DORACI: Oh, David! (fala mais alto) Você levanta dessa cama agora ou senão… senão… Eu vou contar pra todo mundo que você tem sarna.

DAVID: O quê?!

DORACI: Eu vou contar pra todo mundo que você tem sarna.

DAVID: Mas eu não tenho.

DORACI: Eu sei. Mas eu falo que você tem pereba na virilha e aí você não poder provar que é mentira.

(David e Doraci já estavam de pé, cochichando agora)
DAVID: Como é que foi o som que você ouviu mesmo?

DORACI: Shrek! Shrek!

DAVID: Shrek?

DORACI: É. Shrek! Shrek! Tipo água. Eu acho que alguém estava andando pelo jardim.

DAVID: Andando pelo jardim?! Doraci, você só pode estar brincando. Quem andaria pelo jardim nesse frio, às três da madrugada.

DORACI: David, por acaso você acha que os ladrões trabalham à luz do sol.

DAVID: (com medo) Ladrão?! Ladrão, Doraci? Eu não vou lá, mesmo.

DORACI: Você acha que eu ia te chamar para espantar um gato, David? É claro que, se fosse seguro, eu não ia precisar de você.

DAVID: Como assim? Quer dizer que quando a parada é perigosa, você chama o trouxa do David. Tá parecendo que minha vida não tem nenhuma importância para você. E se o ladrão estiver armado, Doraci?

DORACI: David, você é um homem ou um saco de pipoca?

DAVID: Doraci, é como meu tio dizia: depois que inventou o três-oitão não existe mais homem bravo nesse mundo. Eu posso ser corajoso o tanto que for, que se esse cara me der um tiro no meio da testa… Eu morro.

DORACI: Calma, David! Relaxa. Só toma cuidado pra não fazer xixi nas calças. (Vira para trás) Segura isso aqui. Talvez te dê mais segurança.

DAVID: Doraci, um rodo não vai funcionar contra uma arma de fogo.

DORACI: Meu Deus do céu, David. Para de ser pessimista. Acredite no melhor que pode acontecer.

(Shrek, Shrek)
DAVID: Jesus, Maria e José. Que barulho é esse, Doraci? (Silêncio) Doraci! Doraci!

DORACI: Me dê esse rodo, seu pamonha, antes que você quebre a minha cabeça. (Pausa e, depois, cochicho) É esse o barulho que eu ouvi.

DAVID: É ladrão.

(Zap, tchuá!)

DAVID: O que é isso, Doraci?

DORACI: Não precisa chorar, David!

(Cuco, cuco)
DAVID: O que é isso, Doraci?

DORACI: O cuco, sua besta.

DAVID: O que tem lá de fora, Doraci?

DORACI: Oh, Meu Deus. (Atravessa a sala) Eu vou te devolver pra sua mãe. Eu achei que eu tinha me casado com um homem, não com um saco de b*sta.

DAVID: Credo! Não precisa esculachar também, né!

(Doraci abre a porta da sala. David vai atrás dela. Doraci segura o rodo e David, um terço imaginário. Não conseguem enxergar nenhuma luz. O barulho de novo. SHREK, SHREK.)
DORACI: Viu? Era só o barulho dos pés no barro.

DAVID: Ufa! Deve que era um…

VOZ: Hum…

DAVID E DORACI: AAAAAAAHHHHHH!

VOZ: Doraci…

DAVID: O ladrão sabe seu nome, Doraci? O que é isso? Você tem um caso com um ladrão?

VOZ: Doraci… Sou eu…

DORACI: Eu, quem?

VOZ: Sua tia.

(Doraci entra em casa. David vai atrás, correndo da mulher caída no barro. Doraci volta com uma lanterna. David atrás. A lanterna ilumina o rosto da Tia Vera.)
DORACI: Tia Vera?

VERA: Oi, meu amor…

DAVID: Eu sabia que sua tia Vera não batia muito bem das ideias!

DORACI: O que a senhora tá fazendo aqui?

quarta-feira, 7 de abril de 2010

terça-feira, 6 de abril de 2010

Os "dorados"

Há muito tempo quero escrever sobre um… um… Na verdade, eu nunca pensei direito em qual categoria isso pode ser classificado. Talvez, possa dizer um povo, uma raça… Isso! Uma raça talvez seja o mais adequado. Eu quero falar sobre os “dorados”. Esse é o jeito que se fala. Se eu escrevesse “dourados” talvez eu até me perdesse pelo texto e começaria a mudar o assunto, fugir do tema… Essas coisas! Então, eu vou falar sobre os dorados.

Eu não sei se essa palavra serve para a designação de uma raça, mas aqui no interior de Minas, é só você dizer “dorado” que todo mundo sabe o que é.

Eu aprendi que os “dorados” vem de uma mistura de alemães com ciganos. Não tenho a mínima ideia de onde eles se encontraram, mas foi daí que surgiu uma das raças mais famosas da minha região.

Todos por aqui sabem as características típicas de um “dorado”. Claro que existem algumas variações de um indivíduo para o outro, mas sempre com uma coisa parecida.


O que eles comem?


Todos sabem que os “dorados” comem, principalmente, rosca. Por isso, nós todos devemos ser precavidos quando sairmos da padaria com um saco de rosca. Corremos o risco de ouvir um grito:

— Oh, dorado!

Realmente é muito constrangedor para alguém que não está acostumado, mas eu já estou habituado a isso. Meu pai me chama de dorado todo dia.

Outra situação envolvendo a rosca acontece na escola. Nas escolas públicas aqui da cidade, às vezes, eles servem rosca. E aí tem sempre um engraçadinho que fica perto da fila.

— Oh, dorado!


O que eles bebem?

Suco de groselha é a bebida mais característica dos “dorados”. Eu não sou muito chegado no suco de groselha, mas já tomei algumas vezes na vida. Eu acho que a história do suco de groselha vem da época em que vendia o pacotinho de suco de groselha por R$0,10.

E o suco de groselha também cabe nos gritos.

— Oh, dorado! Só falta a rosca e o suco de groselha.


Comportamento

Eu procurei no dicionário, mas na existe essa palavra: catirar. Talvez escreva de uma outra maneira, ou quem sabe nem exista essa palavra, mas… Seu significado é trocar.

— Dorado gosta d’uma catira.

É como catirar um móvel por uma televisão, uma pulseira por um colar, alguma coisa inútil por outra mais inútil ainda. Isso nós descendemos dos ciganos.

Outro comportamento tipicamente “dorado” é ir à praia e voltar torrado, morrendo de vontade de alguém perguntar:

— Onde ‘cê foi?

Só para dizer:

— Na praia.

Isso a gente herdou dos mineiros, mesmo.


Aparência

(Não consigui achar nenhuma foto que possa ilustrar bem a aparência dos "dorados".


Dá pra reconhecer um “dorado” pela sua aparência. Os “dorados” são sempre brancos. Claros, daqueles branquelos, mesmo. Alguns tem os cabelos loiros, os olhos claros (o que não é meu caso). E também penteiam o cabelo no meio (quando eu descobri isso, parei de fazer isso). Dá pra notar a semelhança com os alemães.


Modo de falar

Além da aparência, o modo de falar do “dorado” é muito peculiar. Quem não é muito habituado não entende o que ele disse. Não que use um dialeto diferente do português, não. É que eles usam o idioma de uma maneira distorcida.

— ‘Cê qué, Maria, tomá café lá em casa hoje?

Parece fácil lendo da maneira que estamos acostumados a ler, mas imagine a pessoa falando isso correndo dando pausas entre uma palavra e outra. É algo muito complexo para explicar em palavras.

Outra pérola, na loja de calçados:

— “Cê tem chinelo de dedo Rider?

Eu confesso que eu mesmo disse isso. Quando eu saí da loja eu quase pulei no bueiro de tanta vergonha.

Outra coisa sobre o modo de falar doradês: eles falam berrando.

É isso aí. Talvez eu faça minha tese de doutorado sobre o “dorados” e apresento a raça para o mundo todo.

— Oh, mas ‘cê é doido demais, uai!

— Oh, dorado!

domingo, 4 de abril de 2010

Companheiros e cúmplices

Quando eu era criança, eu ouvi uma frase que dizia que irmão é feito pra brigar. Naquela época, isso fazia todo o sentido: para que, além de brigar, servia nossos irmãos? Para nada. O tempo passou e as coisas evoluíram (nossas mentes são algumas dessas coisas) e percebemos que o mundo não funciona bem assim.

Posso contar tudo por experiência própria. Sou o filho mais velho e minha primeira irmã nasceu quando eu tinha três anos e meio, mais ou menos. Não lembro se eu sentia ciúmes ou inveja, mas lembro que eu aprontava muito com ela quando estávamos sozinhos. Alguns machucados na perna ou alguma esfolada no rosto eram sempre de alguma brincadeira que eu fazia, mas… eu fazia uma cara de santo e falava que ela tinha caído sozinha.

Mas me recordo que eu também não era tão maldoso assim. Lembro que eu ficava escondido num canto, chorando, quando minha irmã apanhava por alguma estripulia. Nem sabia o porquê daquela angústia, mas agora entendo que era o início de um companheirismo. Um companheirismo que só apareceria muitos anos depois.

Nós dois brigamos muito até chegar meu segundo irmão. Isso! Um garoto. Eu tinha pouco mais de nove anos quando ele nasceu. Eu, sinceramente, esperava uma menina, mas quando soube do menino não fiquei triste. Satisfeito, diria.

É uma lembrança mais recente. Era domingo e, eu e minha irmã, tivemos de fazer um grande esforço pra conseguirmos entrar na maternidade. Eu fiquei ao lado daquele menininho e estendi minha mão. Ele segurou meu dedo indicador com toda a sua mão minúscula. Eu me arrepiei todo. E até hoje me arrepio de lembrar como meu irmão era pequeno.

Nós três dormíamos no mesmo quarto (morávamos numa casa muito pequena) e talvez essa “proximidade” tenha sido a causa de algumas briguinhas de nada.

Sempre banquei um pouco o durão, não um garoto rude, mas um garoto centrado, seguro, mas respirava fundo pra não me desmanchar. Eu apenas tentava ser uma extensão dos meus pais. Lembro que minha irmã tinha menos de cinco anos quando caiu de costas de uma altura considerável e eu quase desmaiei quando vi isso. E meu irmão tinha menos de um ano quando quebrou a perna e não conseguiu aprender a andar; ele era apenas um bebê quando carregava um gesso, mesmo sem aprender a engatinhar. Eu respirava e mostrava que eu era durão.

Nas horas de raiva, a gente diz que preferia ser filho único, mas, junto com uma amiga, eu formei uma teoria de que seríamos bem mais egoístas se não fossem nossos irmãos mais novos.

Eu acho que eu tinha quinze anos quando eu percebi que os irmãos não servem apenas para brigar. Talvez eu esteja sendo um pouco metido, mas eu tento ser um exemplo para meus irmãos. Não sei se algum dia eu vou ter filhos, mas, meus irmãos eu tenho certeza de que estarão aqui pra sempre. Eu sonho no dia em que eles vão poder mostrar para os amigos: “Aquele lá é meu irmão.”

Como eu disse antes, o companheirismo só veio muitos anos depois. Claro que temos muitas coisas para melhorar, mas as coisas evoluíram muito nos últimos anos. Não gosto muito de dizer “companheiros”, mas cúmplices.

Nas horas de raiva, a gente diz que preferia ser filho único, mas ter irmãos é uma experiência inesquecível.