Lidar com pessoas sempre foi difícil pra mim. Quando eu
era criança, eu tinha tanta dificuldade em me relacionar com outras pessoas que
minha mãe achou que eu fosse anti-social. Minha dificuldade em me relacionar
vinha não só da minha aversão a qualquer tipo de sociabilidade —
relacionar-me com os livros era bem menos complicado —, mas
também por eu ter certa repulsa por manter contatos “íntimos”: aperto de mão,
abraço, beijo no rosto... Beijo na boca e sexo, mesmo na adolescência, eram
coisas completamente fora de questão!
Com o tempo eu fui aprendendo a superar essas paranoias; o
mundo me fez aprender. Quando se tem 18 anos e sua pretensão é sair da casa dos
pais e mudar para outra cidade sozinho, você é obrigado a dar conta dos seus próprios
problemas. Sendo curto e grosso: você tem que aprender a conversar com as
pessoas! Deixar de ser aquele bicho do mato que se esconde debaixo do vestido
da mãe quando encontra alguém desconhecido.
Hoje em dia, eu acho até divertido criar novos laços com as
pessoas à minha volta. Gosto de criar técnicas para me sair bem num primeiro
contato com as outras pessoas, por exemplo: que tipo de piadas contar, que assuntos
tratar num jantar, o que falar num primeiro encontro. Eu amo fazer novas
amizades. Não estou falando de fazer novos “amigos de infância”, mas de criar
vínculos amigáveis com pessoas diferentes. Isso é um desafio que eu me proponho
todos os dias!
Além disso, e eu já disse isso em outra ocasião, eu sinto
a necessidade de ser lembrado. Eu não gosto de ser apenas mais uma pessoa que
os outros conhecem e logo será esquecido. É claro que eu não consigo mudar a
vida de todas as pessoas à minha volta, mas só um ato de gentileza nesse mundo
repleto de pessoas cinzas já faz uma grande diferença. As pessoas vão se
lembrar daquele que te mandou flores, que te deu um cartão de aniversário ou
que ouviu suas lamúrias num momento difícil.
Pensar como fazer a diferença na vida das pessoas e como
fazer novas amizades tornou-se a parte mais divertida do meu dia-a-dia. E
nesses últimos meses, a vida deu-me a oportunidade de fazer uma autoavaliação:
na verdade, eu fui obrigado a rever meus conceitos do que é ser amigo, filho,
namorado, afilhado, sobrinho, irmão, colega de trabalho... Acho que depois
dessa avaliação eu estou muito mais consciente das minhas ações e já estou
muito mais seguro para os próximos relacionamentos que virão. Já consigo
argumentar melhor e traduzir em palavras muitas coisas que eu vinha refletindo
desde sempre.
Mas a maior conclusão de todas é: as pessoas não gostam da
verdade. É impressionante o quanto todos nós julgamos as pessoas por elas serem
exageradas, mentirosas, falsas, mas nós não aguentamos a verdade. Eu já menti
muitas vezes para evitar a fadiga, mas hoje eu já consigo tomar as rédeas das
situações e acho muito melhor ser sincero. Mas ninguém quer ouvir a verdade! As
pessoas querem ouvir as “verdades” que são confortáveis: mesmo que essas “verdades”
não sejam verdadeiras. Ser sincero é correr o risco de ser chamado de rude,
inconveniente, insensível e mais um milhão de termos negativos. Você é julgado
por mentir, e condenado por falar a verdade.
Mesmo eu tendo tanta experiência com relacionamentos
humanos, eu fui surpreendido com um pensamento: se as pessoas gostam apenas das
“verdades” que gostam de ouvir, todos os relacionamentos duradouros são
baseados na mentira? Eles tem que ser
baseados na mentira?
Eu não soube responder a essas questões. Só sei dizer que eu
continuarei falando a verdade quando eu achar que deva dizer a verdade. E eu
também sei ser falso, mas a minha máscara cai se você souber onde desamarrar.
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