Em todos esses anos, já
encontrei desde estradas bucólicas e desniveladas até grandes rodovias asfaltadas
que se estendem até onde o sol encontra a Terra. De uma estrada para a outra,
vislumbrei muitos jardins, é claro, mas eles eram menos frequentes: encontrei
mais caminhos esburacados, feios, com imensos lamaçais que me faziam atolar e
não me deixavam prosseguir.
Eu sempre tentei ser um
viajante forte e determinado: não sabia muito bem onde iria chegar, mas
encarava os obstáculos com empenho elogiável. Atravessei riachos tênues que
desfilavam por entre os pequenos pedregulhos, mas, como todas as pessoas, tive
que quebrar imensas rochas vermelhas ou subir até a copa de árvores centenárias
para prosseguir meu caminho. Mas, às vezes, eu tive vontade de desistir: sentar
numa pedra na beira da estrada e chorar foi inevitável.
Cada obstáculo me ensinava
coisas novas. Aos onze anos, eu já tinha que abrir os meus próprios caminhos no
meio da mata fechada; era sufocante, angustiante, solitário. Mas, depois,
quando outras florestas apareceram na minha frente, cortar alguns galhos e
enfrentar alguns animais já me era menos traumático. Com frequência eu tentei
olhar para esses maus momentos como lições pelas quais eu tinha que passar para
saber lidar com situações semelhantes mais a frente. Mas nem sempre era assim:
quando somos jovens, nos achamos o centro do universo e, algumas vezes, achamos
que todos esses percalços são castigos dados a nós. Somente a nós!
Pensamos que passamos por
esses maus momentos porque fomos destinados a isso. Eu já estava conformado: eu
era uma pessoa destinada ao sofrimento, à solidão, ao fracasso. Alcancei
pequenas conquistas no caminho, fiz amigos eternos e outros que nunca mais
encontrarei, mas a minha sina era ter um caminho tortuoso até o fim dos meus
dias.
Porém, não há nada como um
passo após o outro.
Essa ansiedade da
juventude faz com que sempre olhemos para frente, para o futuro; sofremos por
antecipação sabendo o que outras pessoas já passaram. Evitamos o sofrimento;
arranjamos atalhos na nossa caminhada...
Com a experiência,
entretanto, eu percebi que, para podermos seguir em frente, precisamos voltar
por alguns caminhos já percorridos. Voltar às mesmas pedreiras, aos mesmos
desertos, às mesmas cascatas e saber que não mais nos machucaremos ali: eu
consegui superar esses obstáculos e já posso me perdoar.
Eu aprendi que o lado de
fora da caverna é angustiante, mas muito mais colorido. Eu preciso voltar aos
caminhos tortuosos pelos quais passei, aqueles que me deixaram profundas
cicatrizes e traumas, para entender alguns porquês.
Eu preciso me reconciliar
com minha estrada: é preciso entender as lições, empreender algumas pequenas
vinganças e ser capaz de perdoar o meu destino e, o mais importante, perdoar a
mim mesmo!
Eu quero voltar em alguns
lugares e enxergá-los com outros olhos: olhos que já vislumbraram paisagens
exuberantes, cataratas monumentais e um grande cânion e ver que há beleza no
meu passado. Colocar um pouco de cor nesse turbilhão de lembranças em sépia.
Nada como uma estrada à
nossa frente!