domingo, 5 de setembro de 2010

O cliente sempre tem razão

Oi! Meu nome é Beto e tenho esse espaço no blog para falar sobre o cotidiano atrás de um balcão. Quantas coisas eu já passei com essas pessoas que vão e que vem! E eu sempre aqui: atrás do balcão.

Desde os quinze anos eu trabalho com pessoas. Eu comecei num bar que não era grande coisa, mas já estive em situações melhores. Depois de muitos anos de experiência — nove —, não tem como não fazer uma crítica sobre o que eu vejo pelos comércios da cidade.

É como quando você aprende alguma coisa e depois resolve fazer crítica de tudo que vê. Bolo de aniversário, teatro, música, dança, biscuit, convite de casamento… Vender também é uma arte.

Num dia como outro qualquer eu fui a uma padaria perto da minha casa comprar alguns pães. Não era o melhor pão da cidade, mas por falta de opção…

Entrei e tinha uma mocinha do lado de dentro do balcão conversando efusivamente com uma senhorinha — de novo, as senhorinhas. Eu não estava entendendo muito bem o que elas diziam, mas deu pra perceber que falavam muito alto.

Cheguei perto para ser o próximo a ser atendido e percebi que as duas estavam discutindo. A atendente estava que era uma loucura: xingava a velhinha de um jeito que eu nunca tinha visto ninguém xingar. Ainda mais uma pessoa daquela idade.

— Vai tomar no ¢*, sua velha chata. Vai pra p%*# que te pariu.


Jesus, Maria e José! Eu não estava conseguindo nem ouvir a voz da velhinha. Eu não saberia contar agora o que ela estava dizendo: se estava pedindo desculpa, chorando ou revidando os palavrões.

E a atendente “tava que tava”. Mostrava a língua, o dedo do meio enquanto mandava a senhorinha pr’os lugares onde eu nunca mandei ninguém. Claro que de vez em quando sai um “Vai pro inferno”, mas isso era fraco perto do que a moça fazia com a cliente.

— Vai dar o ¢* na esquina.

A velha virou as costas e saiu. Enquanto isso, a atendente fazia gestos obscenos para a mulher.

Já vai tarde. Vá para o diabo que a carregue. Tomara que um caminhão te pegue na esquina.

Jesus amado! Eu acho que ela percebeu que eu estava com os olhos arregalados. Eu realmente estava com medo. Se eu falasse alguma coisa errada, ela ia me atacar.

— Mas esse pão tá preto demais.

— Vai tomar no ¢*.

Eu estava meio paralisado.

A moça, enfim, suspirou como se tivesse jogado uma caixa pesada no chão.

— É fogo, viu! — Ela falou. — Essa velha é chata demais.

Eu dei um risinho.

— Eu sei como é que são essas coisas.

Ela sorriu.

— Então… o que vai querer?

Saí correndo depois que ela me arrumou os pães. Eu fico pensando quanto tempo aquela moça deve ter aguentado naquele serviço depois da briga com a velhinha. Isso mesmo! Ela era empregada.

Ela tinha muita coisa para aprender sobre a arte de vender. E a primeira lição é: O cliente sempre tem razão.

Um comentário:

Clara disse...

A educação manda lembranças para a mocinha... Vê se pode sair xingando no meio da rua?! Vida de vendedor não é fácil, eu sempre digo que não é pra qualquer um aguentar todo tipo de gente que costuma aparecer no comércio... Tem que ter sangtue de barata às vezes, infelizmente.