[ou “A Rechonchuda” para os
politicamente corretos]
Não tenho nada contra quem está
acima do peso e essa história nem é tão interessante quanto outras, mas, se
alguém me perguntasse o motivo de eu ter gasto o meu tempo com essa gorda, eu
responderia... Não sei! Na verdade, eu nunca tinha vista mais gorda. Mas ela é
uma daquelas personagens que eu encontro na rua e não me saem da cabeça. É uma
das personagens que precisam ter suas histórias contadas.
Cinco horas da tarde e o sol está
insuportável! Não é como o sol quente do meio-dia, é um sol que entra por todos
os nossos poros e nos impede de respirar. É um mormaço que faz com que você
chame todos os santos para que o ônibus chegue o mais rápido possível; é um
mormaço que faz com que você se sinta como se estivesse numa estufa de boteco
de esquina.
E foi justamente de uma dessas
estufas que saiu o salgado que a gorda comia. Sentei-me ao lado dela no ônibus
enquanto ela mordia o risole e bebia guaraná. O óleo ultrapassava o guardanapo
fino e escorria entre seus dedos roliços, enquanto o cheiro de fritura entrava
pelas minhas narinas quase impossibilitadas de respirar por causa do calor.
Aquilo me revirava o estômago.
Ela terminou o salgado e limpou
os dedos no guardanapo quase transparente e bebeu o resto de refrigerante numa
única chupada no canudinho. O ônibus se aproximava do ponto em que ela deveria
descer e eu atrapalhava a sua passagem. Ela se virou para mim e disse
mal-humorada:
— Sai que eu quero descer!
Educação mandou lembranças... Saí
como ela tinha mandado e quase pedi desculpas por eu existir. E ela desceu com
a mesma cara amarrada e com a mesma delicadeza com que ela tinha me pedido
passagem.
Para terminar, uma menininha de
uns 6 anos gritou:
— Olha, vó! É aquela mulher ali,
ó. É mais gorda que a senhora.
Ai, ai... a sinceridade das
crianças.
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