domingo, 4 de dezembro de 2011

A Gorda



[ou “A Rechonchuda” para os politicamente corretos]

Não tenho nada contra quem está acima do peso e essa história nem é tão interessante quanto outras, mas, se alguém me perguntasse o motivo de eu ter gasto o meu tempo com essa gorda, eu responderia... Não sei! Na verdade, eu nunca tinha vista mais gorda. Mas ela é uma daquelas personagens que eu encontro na rua e não me saem da cabeça. É uma das personagens que precisam ter suas histórias contadas.

Cinco horas da tarde e o sol está insuportável! Não é como o sol quente do meio-dia, é um sol que entra por todos os nossos poros e nos impede de respirar. É um mormaço que faz com que você chame todos os santos para que o ônibus chegue o mais rápido possível; é um mormaço que faz com que você se sinta como se estivesse numa estufa de boteco de esquina.

E foi justamente de uma dessas estufas que saiu o salgado que a gorda comia. Sentei-me ao lado dela no ônibus enquanto ela mordia o risole e bebia guaraná. O óleo ultrapassava o guardanapo fino e escorria entre seus dedos roliços, enquanto o cheiro de fritura entrava pelas minhas narinas quase impossibilitadas de respirar por causa do calor. Aquilo me revirava o estômago.

Ela terminou o salgado e limpou os dedos no guardanapo quase transparente e bebeu o resto de refrigerante numa única chupada no canudinho. O ônibus se aproximava do ponto em que ela deveria descer e eu atrapalhava a sua passagem. Ela se virou para mim e disse mal-humorada:

— Sai que eu quero descer!

Educação mandou lembranças... Saí como ela tinha mandado e quase pedi desculpas por eu existir. E ela desceu com a mesma cara amarrada e com a mesma delicadeza com que ela tinha me pedido passagem.

Para terminar, uma menininha de uns 6 anos gritou:

— Olha, vó! É aquela mulher ali, ó. É mais gorda que a senhora.

Ai, ai... a sinceridade das crianças.

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