— Bom dia, meu
nome é Lucas.
— Oooooi, Lucas!
— Bem, eu tenho
dezenove anos e, como todos podem perceber, essa é a minha primeira sessão.
E... Eu estou aqui por causa do apoio dos meus familiares, dos meus amigos e...
—
calei.
— Você não quer nos contar a sua história, Lucas?
Eu olhei pra ele e balancei a cabeça; eu tinha que encarar tudo com
coragem:
— Bem, tudo
começou quando eu tinha uns 13 anos. Alguns ‘amigos’ sempre me chamavam pra
gente passar a tarde juntos e aí, papo vai, papo vem, a conversa acabava na
frente da tela de um computador. O meu “amigo” sempre usufruía mais da
Internet, mas ele sempre deixava que eu experimentasse rapidinho: ele ia me
ensinando como fazia e eu rapidinho fui aprendendo algumas manhas. Sabe? Era
uma coisa inocente: não tinha nenhum efeito na minha vida. Até que eu comecei a
gastar dinheiro com isso.
“Foi uma
experiência inesquecível quando eu entrei numa Lan-House pela primeira vez:
eram muitas opções disponíveis ali por um preço baratinho. No início, eu
entrava em sites inocentes: lia algumas notícias, pesquisava alguma coisa sobre
algum filme ou algum ator, via vídeos no YouTube. Tudo muito inocente. Tá
vendo? Eu podia ter parado por aí, mas a influência dos tais ‘amigos’ que é
fogo!
“Quando você vê
todo mundo usando, você também quer usar. Eu resisti por muito tempo dizendo
pra mim mesmo que eu não precisava daquilo, mas os meus ‘amigos’ me convenceram
a fazer um Orkut. Comecei aos poucos: adicionava algumas pessoas da minha turma
de escola, algumas pessoas da família e participava de umas dez comunidades. Eu
nem tinha fotos! Eu não sentia necessidade de entrar no meu Orkut, mas depois ele
se tornou um meio de comunicação entre todas as pessoas. Eu precisava entrar no Orkut quase todos os dias para
ver se alguém tinha me adicionado ou se alguém tinha comentado nas minhas
fotos.
“Eu comecei a
gastar grande parte do meu dinheiro em Lan-House. Quando o funcionário vinha
com aquela frase “Acabou seu tempo! Vai renovar?”, eu gastava até a minha última moeda. Eu precisava de só mais meia
horinha. Mas aquela meia horinha não era suficiente.
“Durante três
anos eu fiquei nessa história de ir à Lan-House e tal, mas, quando eu tinha 16
anos, meu pai comprou um computador lá pra casa. E colocou Internet! Meus
amigos no Orkut aumentaram de uma forma estrondosa. Pouco mais de um mês depois,
eu entrei no Blogger. Foi uma sensação inebriante: era um gosto diferente do
Orkut. Eu tinha mais espaço, mais liberdade e não precisava ficar preso naquele
layout pré-definido do Orkut. Mandei o meu link para todos os meus amigos e
conferia diariamente o número de visitas. Foi uma fase muito difícil.
“Os meus ‘amigos’
começaram a me pressionar para fazer um MSN. Sim, porque era obrigatório ter um
MSN nos dias de hoje: aqueles bate-papos de sites famosos eram para quem
procurava por parceiros. Os amigos íntimos tinham o MSN do outro. Eu fiz um MSN
e, ao mesmo tempo, um Skoob. Foi um baque muito forte. Era uma mistura de duas
substâncias completamente diferentes. E eu comecei a me comportar diferente! Eu fiz uma coisa que eu não fazia
antes: comecei a interagir com pessoas que eu não conhecia. Pessoas de outras
cidades e até de outros estados!
“Eu encontrava os
meus ‘amigos’ diariamente na escola, mas a gente precisava se “encontrar” no
MSN à noite. E quando você está ali, esperando a resposta do companheiro de
conversa, você se envereda por outros caminhos: 4shared, Google Earth,
Submarino e, se você não se controlar, você entra até em sites com conteúdos
adultos. Mas a pior droga de todas veio mais tarde: o Twitter.
“O microblog
atrai tanta gente e é uma sensação diferente do restante das redes sociais:
você tem a resposta dos seus seguidores na hora por um Reply, um Retweet ou um
Unfollow. É um prazer instantâneo e, naquele momento, era aquilo que eu
procurava. Eu queria me sentir integrado àquela rede e queria ter uma resposta
direta dos meus leitores.
“Tudo parecia
tranquilo até que meus ‘amigos’ largaram o Twitter e investiram numa droga mais
forte: todos migraram para o Facebook. Eu nem conheço as substâncias dessa rede
social, mas é uma coisa forte. Você se sente atraído por aquilo o tempo todo:
você quer ler o que os seus amigos postaram, Curtir e Compartilhar. Você é
levado a falar sobre política, cantores sertanejos, bandas desconhecidas,
clipes e programas de TV que você nunca viu. Seus ‘amigos’ cobram uma postura
da sua parte.
“E, depois de
todo esse martírio, eu ainda consegui chegar ao fundo do poço: troquei o meu
celular antigo por um Smartphone e agora eu consigo acessar o Twitter e o
Facebook do meu celular! Gente, eu tento me controlar, mas eu não consigo me
desconectar! As minhas senhas estão salvas no meu computador, sempre que eu
penso numa piada nova eu tenho que postar no Facebook, mas... Eu tô conseguindo
mudar:
“Eu consigo
deixar a minha foto do perfil do Facebook durante mais de dois meses, coisa
impossível antes e... o mais difícil, mas o que eu me sinto mais orgulhoso:
consegui me conter e não tenho conta no Tumblr nem no Google+.
Terminei o meu depoimento e todos me aplaudiram emocionados.