sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Um homem de coragem


Algumas histórias que eu escrevo por aqui são adaptações de bobagens que eu já ouvi durante toda a minha vida. Mas eu nunca citei de onde eu as tiro. Até hoje. Mais do que uma história interessante e engraçada, o contador do causo é uma das personagens mais incríveis que eu já encontrei.

Ele é tio da minha mãe — portanto, meu tio-avô — e na última quarta-feira tive a oportunidade de ouvir algumas de suas histórias. Quando eu encontro alguém como ele, disposto a contar histórias e com muitos anos no lombo — o tio Amir tem 70 anos — eu fico cutucando, cutucando pra que ele me conte mais e mais anedotas.

Eu não sei o porquê, mas por várias vezes nossas reuniões familiares terminavam com o tema assombração. O Tio Amir disse que, quando era criança, tinha muito medo de assombração. Para curar esse medo, os adultos o aconselharam a beijar o pé de um defunto no caixão.

— E resolveu, Tio Amir?

— O medo ficou foi pior.

Isso muito tempo atrás. Hoje, ele garante que já não tem medo de nada. Aí, ele contou o causo de um homem de muita coragem. Ou não.

Tio Amir contou que, certa vez, um grupo de amigos decidiu fazer uma aposta. Um do grupo, para provar sua coragem, receberia uma quantia em dinheiro do resto dos amigos se ele entrasse num cemitério e trouxesse a canela de um defunto.

E o homem entrou cheio de coragem no cemitério. Esqueci de perguntar se isso tinha acontecido durante o dia ou à noite, mas, essas histórias de terror, sempre acontecem à noite. Depois da meia-noite de preferência!

Reescrevendo...

E à noite o homem entrou cheio de coragem no cemitério. Tio Amir disse que ele era um homem de muita coragem mesmo. Abriu um dos túmulos e começou a fuçar na ossada. 
Pegou a canela do defunto e, quando se virou para voltar ao encontro dos amigos, deu de cara com um homem.

Eu tenho a impressão que esse homem que apareceu era um negão, porque me pareceu que em todas as histórias do Tio Amir tem um negão.

O negão apareceu e disse:

— Aonde ‘cê tá indo com essa canela? — Antes que o homem de coragem pudesse responder, o negão completou: — Essa canela é minha!

 — ...?

— Essa canela é minha!

Tio Amir disse que o homem não queria pagar o dinheiro da aposta, mas não teve coragem de continuar. Jogou a canela no meio do mato e, com as calças cheias, correu para os amigos.

Para arrematar, ainda perguntamos para o Tio Amir:

— E o senhor, Tio Amir? O que o senhor teria feito?

— Uai, eu acabava de chegar.

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