Algumas histórias que eu
escrevo por aqui são adaptações de bobagens que eu já ouvi durante toda a minha
vida. Mas eu nunca citei de onde eu as tiro. Até hoje. Mais do que uma história
interessante e engraçada, o contador do causo é uma das personagens mais
incríveis que eu já encontrei.
Ele é tio da minha mãe —
portanto, meu tio-avô — e na última quarta-feira tive a oportunidade de ouvir
algumas de suas histórias. Quando eu encontro alguém como ele, disposto a
contar histórias e com muitos anos no lombo — o tio Amir tem 70 anos — eu fico
cutucando, cutucando pra que ele me conte mais e mais anedotas.
Eu não sei o porquê, mas
por várias vezes nossas reuniões familiares terminavam com o tema assombração.
O Tio Amir disse que, quando era criança, tinha muito medo de assombração. Para
curar esse medo, os adultos o aconselharam a beijar o pé de um defunto no
caixão.
— E resolveu, Tio Amir?
— O medo ficou foi pior.
Isso muito tempo atrás.
Hoje, ele garante que já não tem medo de nada. Aí, ele contou o causo de um
homem de muita coragem. Ou não.
Tio Amir contou que, certa
vez, um grupo de amigos decidiu fazer uma aposta. Um do grupo, para provar sua
coragem, receberia uma quantia em dinheiro do resto dos amigos se ele entrasse
num cemitério e trouxesse a canela de um defunto.
E o homem entrou cheio de
coragem no cemitério. Esqueci de perguntar se isso tinha acontecido durante o
dia ou à noite, mas, essas histórias de terror, sempre acontecem à noite.
Depois da meia-noite de preferência!
Reescrevendo...
E à noite o homem entrou cheio de coragem no cemitério. Tio Amir disse que ele era um homem de
muita coragem mesmo. Abriu um dos túmulos e começou a fuçar na ossada.
Pegou a
canela do defunto e, quando se virou para voltar ao encontro dos amigos, deu de
cara com um homem.
Eu tenho a impressão que
esse homem que apareceu era um negão, porque me pareceu que em todas as
histórias do Tio Amir tem um negão.
O negão apareceu e disse:
— Aonde ‘cê tá indo com
essa canela? — Antes que o homem de coragem pudesse responder, o negão
completou: — Essa canela é minha!
— ...?
— Essa canela é minha!
Tio Amir disse que o homem
não queria pagar o dinheiro da aposta, mas não teve coragem de continuar. Jogou
a canela no meio do mato e, com as calças cheias, correu para os amigos.
Para arrematar, ainda
perguntamos para o Tio Amir:
— E o senhor, Tio Amir? O
que o senhor teria feito?
— Uai, eu acabava de
chegar.
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