Trabalho numa papelaria aqui num bairro da cidade. E meu nome é Sabrina. Eu acho que minha mãe me deu esse nome por causa daqueles livros de romance que vendiam na época dela. Talvez por causa desse nome, eu tenha essa personalidade romântica, uma aura que me cerca.
Qualquer sorriso, qualquer olhar é capaz de me tirar do eixo. Imagina um sorriso bonito… Foi um cliente que apareceu por aqui.
A casa ao lado da papelaria estava para alugar e uma nova família mudou depois de um tempo. Eu nem sabia quem eram. Depois de alguns dias, apareceu uma mulher de uns 40 anos: a moradora da nova casa.
Só não pensava que ela tinha um filho.
A primeira vez que eu o vi, ele queria um monte de coisa: trabalho da faculdade. Papéis, cola, tesoura, isopor. Eu nem prestei muita atenção ao que ele comprou. Eu também nem dei papo pra ele, coitado. Ele também nem levantou a cabeça direito. Eu acho que esse trabalho tava deixando ele um pouco preocupado.
O garoto apareceu novamente uma semana depois. Ele tava mais relax nesse dia: tava de bermudão, chinelos e boné. Tava acompanhado de um amigo. Tinham ido comprar uns CD’s virgens. Enquanto eu lhes servia, ouvi um pouco da conversa dos dois. O amigo se chamava Felipe. O do garoto do lado não foi citado.
Ele passou a ir à papelaria quase todos os dias comprar CD’s. Muitos dias depois ele sorriu pela primeira vez. Eu voltei com algumas moedas de troco, nossos olhos se encontraram e ele sorriu. Eu sorri de volta.
— Obrigado.
— Obrigada a você — eu respondi.
(Suspiro) Ai, ai. Depois desse dia eu esperava ansiosa que ele aparecesse. Ele sempre ia depois das cinco e meia comprar coisa miúda, vinha com uma nota grande e eu fazia questão de encostar a ponta dos meus dedos na palma de sua mão quando eu lhe devolvia o troco. Olhávamo-nos e sorríamos. Todos os dias.
E todos os dias eu esticava o pescoço quando alguém aparecia na porta do lado esquerdo pensando que talvez fosse ele. Sempre depois das cinco e meia. Quando ele aparecia e andava entre as prateleiras eu ficava nervosa. Esperava que ele dissesse alguma coisa.
Mas talvez seja pelo seu silêncio que eu tenha ficado mais apaixonada. Era só um “obrigado” e um sorriso.
Envelopes, caderninhos, CD’s, canetas, réguas… era muita criatividade para inventar desculpas para ir à papelaria. E eu tentava desviar os olhos discretamente só para olhá-lo: os pés nos chinelos, as pernas torneadas (eu acho que jogava futebol), os ombros, os braços, as mãos lisas, os cabelos caídos de lado, o sorriso branco e tímido, o olhar estonteante…
Ele gostava muito de um bermudão laranja, sua camisa do Corinthians e um boné vermelho que tem aquelas redinhas assim do lado.
— Obrigado.
— Obrigado a você.
Tomei coragem de lhe perguntar o nome.
— É… a gente… é… você sempre vem aqui, né, e… eu nem sei seu nome.
Ele riu e eu fiquei hipnotizada. Acho que os viciados ficam mais ou menos assim quando ficam saciados.
— Eduardo.
Uma voz angelical. Grave, lisa, segura… Ele também me perguntou o nome.
— Sabrina.
Não foi uma voz constante como a dele. Foi como se eu tivesse acabado de aprender a ler e tentasse juntar as letras para formar a palavra.
Quando cheguei em casa nesse dia, eu achei que eu tinha sido a menina mais idiota do mundo. IDIOTA! Hoje, me sinto satisfeita de ter lhe perguntado o nome. Se não tivesse feito isso, ele talvez não perguntasse o meu nome, não ficaríamos mais próximos e ele talvez não tivesse criado coragem pra me fazer um convite.
— Quer sair comigo?
Aceitei e ele me recompensou com o sorriso mais lindo que ele já deu.
3 comentários:
Sabrina... Já vi vários livros desses, todos com subtitulos como 'louca paixão' ou 'amor e fogo'... kkkk
Acho mesmo que esse nome deva carregar alguma aura e essa histórinha até dava um Sabrina contemporâneo, adicionando um pouco de suspense e músculos no Eduardo, rs! Adorei...
Adoro sua tag "Elas por ele". Voce interpreta bem - sem ambiguidades, rs. Muito bom mesmo :D
Adoreiiiiiiiiii o post... o blog..
não conhecia... já to te seguindo...
não vejo a hr de sair HP7... tá demorando demais!
bjosss e boa semana
Postar um comentário