quinta-feira, 14 de julho de 2011

Aquele encontro


Saiu de casa altas horas da noite, blusa de frio e tênis. Seus pés faziam barulho pela calçada das ruas desertas onde um vento frio soprava discreto. O bairro afastado tinha pouca iluminação e uns cachorros latiam longe.

Com as mãos nos bolsos da blusa, foi andando depressa. Entrou na penumbra de um viaduto e surpreendeu-se com um vulto que saiu detrás de um muro de concreto. Agarrou-lhe pela cintura e deu-lhe um beijo desesperado.

Logo, um cheiro nauseante invadiu suas narinas. Não conseguia se concentrar em mais nada.

— Espera, espera! Assim não dá!

— O que foi? Fiz alguma coisa errada?

— Sei lá! Esse lugar... Nossa, esse... cheiro tá me dando dor de cabeça.

— Mas, sem esse cheiro, não tem o clima.

— Clima? Então, pra que você me pediu pra vir debaixo desse viaduto? Eu conheço esse clima do banheiro de um boteco lá perto de casa.

O outro estava com as mãos na cintura.

— Agora, sou eu que digo: assim não dá! Falando desse jeito, você quebra todo o... romantismo do negócio.

— Hã?

— É. A ideia era essa: eu te surpreender como um homem desconhecido...

— Escondido num lugar fedido?

— Um homem desconhecido, misterioso e atraente — ele corrigiu.

Segurou o riso.

— Tudo bem! — Voltou ao beijo.

Nenhum carro passaria por ali. As carícias eram mais quentes.

Engasgou.

— Cof! Cof! Desculpa, mas não dá! Tá muito forte. Essa... carniça...

— Eu também não consigo mais assim — saiu pisando forte. — Você esqueceu o significado de romantismo?

— Eu acho que foi você que esqueceu. Romantismo é caixa de bombons, flores, filme na televisão...

Olharam-se e concluíram que aquela não tinha sido a melhor ideia do casal.

— Meu carro tá ali na frente. — Sorriu.

— Pode ser na sua casa?

Nenhum comentário: