sábado, 27 de agosto de 2011

Chega junto, morena!

De dia, um trabalhador dedicado e eficiente. Sempre saía de casa antes do sol nascer, com o uniforme azul surrado, o boné e a bicicleta de barra circular. Leva a marmita na garupa e só volta pra casa à tardinha. Dorme cedo todos os dias. Menos nas quintas: o dia do samba da comunidade!

Aí, ele se transforma!

Toma um banho caprichado e veste a sua melhor roupa. Usa um sapato lustroso, uma camisa verde por dentro de uma calça bege e abusa do gel nos cabelos ralos. Tem um relógio barato, uma corrente do camelô e o cheiro de Leite de Colônia o acompanha. Usa o celular preso no cinto e a foto de uma mulher desconhecida brilha na tela.

Ele tem uma presa pra hoje: a mulata do vestidinho curto.

E ele vai com seu jeito malandro, conversando com todo mundo, cumprimentando um conhecido ali e outro aqui e vai indo. De mansinho. Suas roupas não combinam, mas seu sorriso no rosto e seu carisma à flor da pele conquistam muitos sorrisos. Esbanja simpatia!

Na gafieira, a mulata dança sozinha. Seu vestido vermelho, que está a alguns palmos acima do joelho, balança com o seu swing. Tem os cabelos encaracolados e o sorriso branco que iluminaria um quarto escuro. E os lábios cobiçados pelo nosso personagem! Ma-ra-vi-lho-sa.

E o simpatia vai chegando devagarinho, com o seu gingado no ritmo do pandeiro. E vai rondando a morena que se anima com o molejo e dá condição. Dá espaço pro neguinho mostrar a que veio.

Do outro lado do salão, um brutamontes tá de butuca. Tá com uma camiseta listrada apertada nos braços grandes e na barriga malhada. Ele vê o neguinho com sua morena. Esse “sua” é por conta dele.

Ele se aproxima com a delicadeza de um boi estourado e já chega junto. Passa a mão em volta da cintura larga da mulata e ela se deixa levar com o sorriso sempre aberto. O nosso personagem da camisa verde se sente diminuído. Na verdade, qualquer um se sentiria diminuído ao lado daquele homem do tamanho de um armário.

O grandão resolve buscar uma cerveja. Antes de se virar, deu aquela olhada pro mirradinho da calça bege. Demarcou o território e mostrou quem é que manda. Mas o nosso personagem não se sentiu intimidado.

Na primeira oportunidade, agarrou a mulata pela cintura e foram juntos no requebrado. O cara sabia conduzir bem e a mulata era ótima parceira de dança. Pés de fada: nem tocavam o chão!

E o samba continuava. O brucutu tava longe com as latinhas na mão e a o mirradinho só na maciota com a mulata.

Mas o grandão viu aquele assanhamento e ficou irado com aquilo. Era de se esperar que um homem daquele tamanho tivesse um ego gigantesco e um cérebro do tamanho de uma ervilha.

Chegou com violência. Jogou a cerveja no chão, empurrou alguns casais que dançavam e já chegou desgrudando o homenzinho da cintura da moleca. Deu um espaço e, num golpe só, derrubou o outro no chão.

Ele ficou meio tonto. Sentiu o gosto de sangue na boca e tentou se levantar. Talvez agarrasse o brucutu pelas costas, prendesse as duas pernas no peito dele e tentasse derrubá-lo pra trás. Mas o golpe tinha sido forte. Ele estava humilhado. Preferia voltar pra casa. Segurou pra não chorar, coitado!

O grandão sorriu satisfeito e voltou-se pra morena. A dança ia continuar como se nada tivesse acontecido. Na cabeça dele, quase vazia, nada tinha realmente acontecido: era apenas um acidente de percurso.

Ia dar um beijo na morena, mas ela tava com a cara feia. Tentava afastar o rosto e se desvencilhar daqueles braços apertados. O homem a soltou sem saber o motivo daquele desinteresse repentino. Oh!

A morena mostrou que também sabia intimidar com o olhar. O grandão quase caiu de costas com aquela fuzilada que tinha levado. Ela jogou os cabelos pro lado e o vestido esvoaçou quando ela foi atrás do homem humilhado.

Ele estava de costas e só sentiu uma mão delicada no seu ombro. Ele se virou e a morena exibia o seu melhor sorriso brilhante. Ele engoliu seco. Ficou feliz, mas com a pulga atrás da orelha. Deu uma olhadinha por cima do ombro da morena. Campo limpo! Sorriu.

A morena tinha pegada. Deu-lhe um beijo no pescoço, outro na bochecha. O homem tremia dos pés a cabeça e teve a sensação de estar no corpo de outro sortudo.

Ela sorriu.

— O resto... Ah, o resto você vai ter que me convencer.

Ai, que bom que a noite é uma criança!

Um comentário:

# GabiiCiribelli disse...

aõow morena! HSAUHUSHAUS
adoreii lucas *-*
como sempre, textos super-criativos qe todos adoram! parabéns, seu lindo!