sábado, 17 de dezembro de 2011

Pensamentos mórbidos



Não sei se isso é saudável, mas pensar na nossa própria morte é uma coisa, no mínimo, interessante. O meu cansaço deve ter contribuído para esses pensamentos mórbidos, mas, nessa última noite, eu sonhei com a minha morte e as reações das pessoas.

Pensei primeiro na minha amiga Ana Paula, que foi minha companhia principal nas últimas 48 horas. Ela contaria pra todo mundo o quanto eu estava animado na quinta-feira quando fomos beber e dançar; ela contaria o quanto eu fiquei emocionado com o coral de Natal na sexta de manhã e o quanto eu me dediquei para escolher presentes no shopping. A Ana também seria responsável em explicar o monte de coisas que eu tinha comprado: esse presente é pra tal pessoa, esse outro é o do amigo oculto... Com lágrimas nos olhos, ela sorriria lembrando-se dos nossos infortúnios dentro do ônibus.

Logo em seguida, lembrei-me de mais duas amigas: Nathália e Gabriela. A Nathália ficaria com remorso por não ter me acompanhado nas compras de Natal e a Gabriela ia comentar com todo mundo o quanto eu parecia feliz no bate-papo do Facebook.

Por último, lembrei-me do meu amigo Igor, que eu não vejo desde julho, que ficaria olhando para a tela do seu celular olhando a mensagem que eu tinha lhe enviado na quinta-feira! E ficaria arrependido de não ter me feito algumas perguntas pessoais antes.

Pode parecer idiota para quem está lendo, mas, com isso, eu me lembro de uma coisa que eu sempre digo e que revela um traço da minha personalidade: eu sinto necessidade de ser lembrado. Talvez seja por isso que eu às vezes sinto necessidade de ser extravagante.

Esse relato, em que eu transformei os meus amigos em personagens — como se eu conhecesse os sentimentos mais íntimos deles —, é só um desejo inconsciente. Sim, desejo. Porque eu quero ser lembrado. Não tem nada mais egocêntrico do que isso, mas eu só estou abrindo meu coração.

E eu ainda me lembrei de um diálogo entre eu e outro amigo: 

— Porque, quando alguém morre, tem pelo menos uma pessoa pra chorar por ela — ele disse.

— Ah, eu quero que os outros chorem no meu velório — eu respondi.

— Eu não — ele completou. — Quero todo mundo alegre.

Aí, eu já não sei se eu quero que as pessoas chorem ou festejem no meu velório. Só quero ter pessoas pensando em mim quando eu me for. Na verdade, prefiro pensar como Chico Xavier: “Se não quiser chorar, não chore. Se não conseguir chorar, não se preocupe. Se tiver vontade de rir, ria.”

Minha mãe já teria me mandado calar a boca, mas... Gente, todo mundo vai morrer! Por que conversar sobre uma notícia de jornal é diferente de conversar sobre a minha morte? A morte é minha, uai!

O mais louco é que, depois da morte, nosso corpo se torna responsabilidade de pessoas que, às vezes, nunca tínhamos visto antes. Nós já não teremos mais controle sobre as nossas vontades; as pessoas farão as escolhas por nós. Aí vem uma coisa muito tensa e eu vos peço:

Gente, pelo amor de Deus: coloquem uma foto descente na minha lápide!

3 comentários:

Jota disse...

Se isso acontecesse eu lembraria de você por ter escrito um texto lembrando da sua morte: "Aqui jaz um bom escritor".
Eu já pensei nisso e prefiro não mais me prender a esse pensamento. Quero viver, errar, acertar. Mas você me fez refletir: o que as pessoas iriam lembrar de mim se eu morresse hoje? Enfim.

Abraço guri, se cuida!

Ғelipe Eller disse...

Se voce tivesse morrido por agora, eu realmente sentiria remorso por eu ser o seu único amigo que você nunca ouviu a voz. Precisamos conversar um dia desses. Abraço :)

Ériquinha ' ♥ disse...

Não quero pensar no dia em que vc vai morrer, se eu vou estar aqui ou não, mas se estiver, não vou deixar que coloquem uma foto feia na lápide, pod'eixar (y)
érica reis