Não sei se isso é saudável,
mas pensar na nossa própria morte é uma coisa, no mínimo, interessante. O meu
cansaço deve ter contribuído para esses pensamentos mórbidos, mas, nessa última
noite, eu sonhei com a minha morte e as reações das pessoas.
Pensei primeiro na minha
amiga Ana Paula, que foi minha companhia principal nas últimas 48 horas. Ela
contaria pra todo mundo o quanto eu estava animado na quinta-feira quando fomos
beber e dançar; ela contaria o quanto eu fiquei emocionado com o coral de Natal
na sexta de manhã e o quanto eu me dediquei para escolher presentes no
shopping. A Ana também seria responsável em explicar o monte de coisas que eu tinha
comprado: esse presente é pra tal pessoa, esse outro é o do amigo oculto... Com
lágrimas nos olhos, ela sorriria lembrando-se dos nossos infortúnios dentro do ônibus.
Por último, lembrei-me do
meu amigo Igor, que eu não vejo desde julho, que ficaria olhando para a tela do
seu celular olhando a mensagem que eu tinha lhe enviado na quinta-feira! E
ficaria arrependido de não ter me feito algumas perguntas pessoais antes.
Pode parecer idiota para quem
está lendo, mas, com isso, eu me lembro de uma coisa que eu sempre digo e que
revela um traço da minha personalidade: eu sinto necessidade de ser lembrado. Talvez
seja por isso que eu às vezes sinto necessidade de ser extravagante.
Esse relato, em que eu
transformei os meus amigos em personagens — como se eu conhecesse os sentimentos
mais íntimos deles —, é só um desejo
inconsciente. Sim, desejo. Porque eu quero
ser lembrado. Não tem nada mais egocêntrico do que isso, mas eu só estou abrindo
meu coração.
E eu ainda me lembrei de
um diálogo entre eu e outro amigo:
— Porque, quando alguém morre, tem pelo menos uma pessoa pra chorar por ela — ele disse.
— Ah, eu quero que os
outros chorem no meu velório — eu respondi.
— Eu não — ele
completou. — Quero todo mundo alegre.
Aí, eu já não sei se eu
quero que as pessoas chorem ou festejem no meu velório. Só quero ter pessoas
pensando em mim quando eu me for. Na verdade, prefiro pensar como Chico Xavier:
“Se não quiser chorar, não chore. Se não conseguir
chorar, não se preocupe. Se tiver vontade de rir, ria.”
Minha mãe já teria me
mandado calar a boca, mas... Gente, todo mundo vai morrer! Por que conversar
sobre uma notícia de jornal é diferente de conversar sobre a minha morte? A morte é minha, uai!
O mais louco é que, depois
da morte, nosso corpo se torna responsabilidade de pessoas que, às vezes, nunca
tínhamos visto antes. Nós já não teremos mais controle sobre as nossas vontades;
as pessoas farão as escolhas por nós. Aí vem uma coisa muito tensa e eu vos
peço:
Gente, pelo amor de Deus:
coloquem uma foto descente na minha lápide!
3 comentários:
Se isso acontecesse eu lembraria de você por ter escrito um texto lembrando da sua morte: "Aqui jaz um bom escritor".
Eu já pensei nisso e prefiro não mais me prender a esse pensamento. Quero viver, errar, acertar. Mas você me fez refletir: o que as pessoas iriam lembrar de mim se eu morresse hoje? Enfim.
Abraço guri, se cuida!
Se voce tivesse morrido por agora, eu realmente sentiria remorso por eu ser o seu único amigo que você nunca ouviu a voz. Precisamos conversar um dia desses. Abraço :)
Não quero pensar no dia em que vc vai morrer, se eu vou estar aqui ou não, mas se estiver, não vou deixar que coloquem uma foto feia na lápide, pod'eixar (y)
érica reis
Postar um comentário