sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Cena de cinema

Foi um encontro totalmente inesperado. Não se encontravam há um tempo e evitavam lugares onde esse encontro seria inevitável. Se se encontrassem não saberiam o que fazer. Mas o destino está pouco se lixando para os seus desconfortos: fez com que tudo conspirasse a favor daquele encontro.

Um pensava no outro o dia todo: “Tenho que estar bem vestido quando ele aparecer” ou “Meu cabelo tá muito bagunçado?” ou ainda “Que cara idiota é essa que eu fiz agora?”. Mas, às vezes, os pensamentos voavam.

Pensavam na agenda, na rotina, nos estudos e, nessa hora nada propícia, os dois se encontraram. Levantaram a cabeça ao mesmo tempo e os olhares se cruzaram. Droga! Não dava nem pra fingir que eu não vi. Os olhos se arregalaram contra a vontade deles e os dois pararam um em frente o outro. Obrigado, destino!

Uma risada sem graça e um:

— Oi! Eh...! Tudo bem?

— Tudo, e você?

Isso é péssimo! Quando você não tem assunto, pergunta se está tudo bem na esperança de que o outro sugira algum tema para a conversa, mas ele te responde com um “Tudo, e você?”, jogando toda a responsabilidade pro seu lado.

— Ótimo. — Silêncio para pensar. — Eu... tava indo pra livraria e... Bem, muito tempo que a gente não se vê, né!

— Pois é. Não tô tendo muito tempo pra... Você tá passando bem? Por que você tá chorando?

— O quê? Hã? Não, eu... não tô chorando. É que eu tô com uma alergia de um... uma pomada. Eu...

— ?

— Olha, a verdade é que... — Nessa hora, olha decidido no olho do outro: — A verdade é que eu não tava nenhum pouco preparado pra te ver.

Uma pausa para que os sentimentos se organizassem. Depois, continuou num ritmo frenético:

— Sério! Naquele dia, eu disse que eu não gostava mais de você, mas... É impossível! Nada foi tão intenso quanto aquilo que tivemos juntos. Eu não consigo parar de pensar em você e talvez você esteja me achando um idiota por falar isso tudo, mas é que eu não consigo guardar as coisas, sabe? Eu tenho que falar olho no olho, senão... Ah, sei lá!

— Calma, calma! Tome fôlego. Não precisa ficar assim.

O outro fungou e gritou baixo (espero que saibam o que é gritar baixo):

— Ai, que raiva de você!

— Hã? Como assim?

— Você é um idiota! Essa sua pose.

— Pose? Não tô entendendo!

— Na verdade, ninguém me entende mesmo. Eu tenho raiva dessa sua pose, mas eu gosto de você. Que raiva! Eu tô com raiva de mim. E de você. Tô com raiva por você me deixar tão confuso. E eu tô com raiva de mim por não conseguir admitir que eu te amo.

— Mas você me ama?

— Vá pro inferno!

E saiu. Mas ele não está satisfeito com a sua cena.

— Tá, tudo bem — ele ainda grita de longe. — Eu assumo que eu gosto de você. Eu não consigo me “desapaixonar”, ok? Eu não consigo! É isso. Pronto, falei! Tá satisfeito?

O outro ria com o desconserto do outro.

— Para de me olhar desse jeito. Eu... eu não consigo parar de pensar em você... Eu já tentei te esquecer, mas é só eu olhar pra você que eu sinto uma bambeza nas pernas, um tremor... Os outros me acham um idiota por eu me entregar tão completamente a um sentimento, me descabelar, chorar, sentir ciúmes até o último fio de cabelo, mas... Eu sou assim, droga!

Ficaram alguns segundos se encarando.

— Eu te amo tanto. Tanto.

Virou-se para ir embora, mas aquilo não podia ficar por assim. Os romances tem que ser o mais melodramáticos possível. Tem que te arrepiar no final.

Um segurou o outro pelo braço e deu-lhe um beijo apaixonado.

E a cena termina com um beijo risonho, com dois corações aliviados e com uma sincronia que só existia entre aqueles dois.


Um comentário:

Jota disse...

Uma cena que deixa qualquer hétero com inveja.