Foi um encontro totalmente
inesperado. Não se encontravam há um tempo e evitavam lugares onde esse
encontro seria inevitável. Se se encontrassem não saberiam o que fazer. Mas o
destino está pouco se lixando para os seus desconfortos: fez com que tudo
conspirasse a favor daquele encontro.
Um pensava no outro o dia
todo: “Tenho que estar bem vestido quando ele aparecer” ou “Meu cabelo tá muito
bagunçado?” ou ainda “Que cara idiota é essa que eu fiz agora?”. Mas, às vezes,
os pensamentos voavam.
Pensavam na agenda, na
rotina, nos estudos e, nessa hora nada propícia, os dois se encontraram.
Levantaram a cabeça ao mesmo tempo e os olhares se cruzaram. Droga! Não dava nem pra fingir que eu não
vi. Os olhos se arregalaram contra a vontade deles e os dois pararam um em
frente o outro. Obrigado, destino!
Uma risada sem graça e um:
— Oi! Eh...! Tudo bem?
— Tudo, e você?
Isso é péssimo! Quando
você não tem assunto, pergunta se está tudo bem na esperança de que o outro
sugira algum tema para a conversa, mas ele te responde com um “Tudo, e você?”,
jogando toda a responsabilidade pro seu lado.
— Ótimo. — Silêncio para
pensar. — Eu... tava indo pra livraria e... Bem, muito tempo que a gente não se
vê, né!
— Pois é. Não tô tendo
muito tempo pra... Você tá passando bem? Por que você tá chorando?
— O quê? Hã? Não, eu...
não tô chorando. É que eu tô com uma alergia de um... uma pomada. Eu...
— ?
— Olha, a verdade é que...
— Nessa hora, olha decidido no olho do outro: — A verdade é que eu não tava
nenhum pouco preparado pra te ver.
Uma pausa para que os
sentimentos se organizassem. Depois, continuou num ritmo frenético:
— Sério! Naquele dia, eu
disse que eu não gostava mais de você, mas... É impossível! Nada foi tão intenso quanto aquilo que tivemos juntos.
Eu não consigo parar de pensar em você e talvez você esteja me achando um
idiota por falar isso tudo, mas é que eu não consigo guardar as coisas, sabe? Eu
tenho que falar olho no olho, senão... Ah, sei lá!
— Calma, calma! Tome
fôlego. Não precisa ficar assim.
O outro fungou e gritou
baixo (espero que saibam o que é gritar baixo):
— Ai, que raiva de você!
— Hã? Como assim?
— Você é um idiota! Essa
sua pose.
— Pose? Não tô entendendo!
— Na verdade, ninguém me
entende mesmo. Eu tenho raiva dessa sua pose, mas eu gosto de você. Que raiva! Eu tô com raiva de mim. E de
você. Tô com raiva por você me deixar tão confuso. E eu tô com raiva de mim por
não conseguir admitir que eu te amo.
— Mas você me ama?
— Vá pro inferno!
E saiu. Mas ele não está
satisfeito com a sua cena.
— Tá, tudo bem — ele ainda
grita de longe. — Eu assumo que eu gosto de você. Eu não consigo me
“desapaixonar”, ok? Eu não consigo! É
isso. Pronto, falei! Tá satisfeito?
O outro ria com o
desconserto do outro.
— Para de me olhar desse
jeito. Eu... eu não consigo parar de pensar em você... Eu já tentei te
esquecer, mas é só eu olhar pra você que eu sinto uma bambeza nas pernas, um
tremor... Os outros me acham um idiota por eu me entregar tão completamente a
um sentimento, me descabelar, chorar, sentir ciúmes até o último fio de cabelo,
mas... Eu sou assim, droga!
Ficaram alguns segundos se
encarando.
— Eu te amo tanto. Tanto.
Virou-se para ir embora,
mas aquilo não podia ficar por assim. Os romances tem que ser o mais
melodramáticos possível. Tem que te arrepiar no final.
Um segurou o outro pelo
braço e deu-lhe um beijo apaixonado.
E a cena termina com um beijo
risonho, com dois corações aliviados e com uma sincronia que só existia entre
aqueles dois.
Um comentário:
Uma cena que deixa qualquer hétero com inveja.
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