domingo, 22 de janeiro de 2012

Plano Diabólico



Ele sorria pensando em todos os seus desejos que se realizariam na próxima semana. Ele dividia o prédio de dois apartamentos com uma professora de Educação Física que tinha cheiro de lavanda e usava tênis antiderrapantes. A professora viajaria de férias e ele poderia pôr em prática o seu plano diabólico.

A escolhida era uma mulher ruiva, de uns quarenta anos que ia à padaria todos os dias as seis e quarenta e cinco da manhã. Ela usava short florido, chinelo de dedo, cabelo preso e andava com o chaveiro pendurado no dedo indicador. Ela tinha cheiro de água sanitária e ele a odiava.

Ele a odiava e queria vê-la morrer. Mas antes ela sofreria em suas mãos. Ele queria ver o medo e o sofrimento nos olhos dela; queria que ela implorasse por clemência; queria que ela chorasse.

Ele preparou todo o material necessário muito antes das férias da vizinha professora. 
Comprou as facas que eram amoladas todas as noites num ritual à luz da lua; comprou um machado que seria de extrema utilidade para os retoques finais; comprou velas, muitas velas e incensos que ele acendia por todo o apartamento; e mel. Ele gostava de mel. Passado no pão de fôrma. Era o que ele comia enquanto observava a mulher ruiva indo à padaria as seis e quarenta e cinco da manhã.

Quando a professora entrou de férias, ele ficou animado com a perspectiva de realizar o seu sonho. Seus rituais eram mais frequentes e intensos. O apartamento era iluminado apenas pelas dezenas de velas. E ele no centro de todas elas, sentado de pernas cruzadas, completamente nu.

Enfim, a professora viajou. Antes de ir, ela passou no apartamento do vizinho para se despedir e dar o número do seu celular. Ele garantiu que ligaria para ela se alguma coisa acontecesse com o apartamento dela. A vizinha nem estranhou o fato de ele ter mostrado só o rosto por uma fresta na porta: a bagagem estava pesada e as tão merecidas férias a aguardavam ansiosamente.

Ele ouviu o carro da professora se distanciando e ficou excitado como nunca ficara com nenhuma mulher. Quer dizer, ele nunca tinha estado com uma mulher.

Encaminhou-se para seu quarto e observou sua cama com as amarras preparadas para receber a hóspede. Ele imaginava a cena com clareza agora. A vizinha ruiva ficaria amarrada na cama, nua, com uma mordaça e ele começaria com os jogos: facas, sangue, sal, limão, chicotes, tesouras, cigarros e mel. Ele gostava de mel. Ele se besuntaria de mel quando a vizinha ruiva estivesse gritando de dor. Ou prazer, quem sabe.

E o grand finalle: o machado o ajudaria a fazer com que ela coubesse direitinho dentro da mala guardada dentro do guarda-roupa.

O nosso personagem não conseguiu dormir na véspera. Estava muito nervoso. Às cinco da manhã reacendeu as velas e no meio da sala começou sua meditação. Quando foi chegando a hora de capturar sua presa, ele vestiu sua túnica branca. Iria sem nenhuma peça de roupa por baixo da túnica, mas precisou de algo para disfarçar a sua ereção.

Eram seis e trinta e cinco e ele estava na espreita. Não tremia. Sorria discretamente. Seus dedos no chão frio estavam rijos. Deixou tudo pronto.

Saiu para as escadas cinco minutos antes de a vizinha ruiva sair para a padaria. Descia cada degrau vagarosamente sentindo a temperatura do piso. Mas, além de frio, o piso estava escorregadio. Ele segurou no corrimão e conseguiu manter o equilíbrio. Só por um segundo. 

Agora, deslizou bruscamente e seu corpo rolou pelos degraus do prédio. Batia o corpo no chão e ele pôde sentir os seus ossos se partindo.

Antes de se vestir por completo com a escuridão da morte, amaldiçoou a vizinha professora que sempre lhe aconselhara a usar tênis antiderrapantes.

E às seis e quarenta e cinco, a ruiva foi à padaria.

Um comentário:

Babi Farias disse...

Que fim genial! Me vi surpresa, tudo planejadinho e o maldito não conseguiu. Bem feito. rs