— Soy mexicano! Arriba!
Eu vou matar o Enrique por ter me deixado com esse maluco.
Ele disse que foi buscar aqueles bestas dos amigos dele, mas isso faz... faz...
só trinta e quatro minutos?! Meu Deus! Achei que já tinha passado umas duas
horas.
— Tequila! Tequila. Beba una conmigo, moça bonita! — ele
disse com a língua entre os lábios. Ele acha que isso é espanhol. — Vamos beber
tequila!
— Não, muito obrigado. Eu já disse que eu não quero. Você
sabe onde o Enrique foi buscar os amigos dele?
— Para que se preocupar, bambina! — Ele acha que isso é
espanhol? — Vamos dançar mucho ao som de las cucarachas.
— Você está bêbado!
— Non estoy bêbado! Usted nunca me viu bêbado. A bebida non
tem efecto sobre mí, bambina! Venha bailar conmigo!
— Muito obrigado! Eu já disse que eu não quero dançar! De
onde você conhece o Enrique? Você são amigos?
— Conheci o Enrique nas quebradas della vita. — Falta falar
russo! — Onde non ecsistem leis dos hombres, nem dos dieuses. Lembro-me
daqueles lábios carnudos e atraentes begodes movendo-se com...
— O quê?!
— Ele é muito habilidoso com aquela boca. Enrique Língua de
Pluma.
Acho que minha cara de medo o incentivou a continuar.
— Lembro-me muito bem como se fosse ontem; ou anteontem. Na
verdade, eu acho que isso aconteceu semana passada. Éramos siete dentro de una
Variant amarela terrible: dois hombres e cinco mujeres; ou três homens e quatro
mujeres; ou... nunca soube se a Priscila era homem ou mulher. Esperava
descobrir naquele dia, mas estava muito escuro. Tequila, marihuana e las
cucarachas. Un casal, non me lembro quem era, se agarrava no banco de trás, e
eu no banco da frente querendo participar daquele delírio... Oh, sí! Era ecsitante!
Mas não alcançava. O único ao meu alcance era Enrique, com seus fartos begodes
e sua cabeleira loira. Mio santo Cristo! Que besos calientes. E, quando percebi,
Priscila e mais outras mujeres, ou outros hombres, non me lembro, participavam
do movimento e... Alguém arrancou minhas roupas e lentamente lambia a sola do
meu pé. Só podia ser Enrique Língua de Pluma.
— Quê?
— Perfectamente. Nunca pensei que aquilo fosse tan ecsitante.
São os nossos chácaras! Temos pontos em toda a extensão do nosso corpo que
interligam todos os nossos sentidos — ele falava isso e cutucava a minha nuca
com o dedo do meio. — Usted non sabe o quão ecsitante é una lambida na sola do
pé. Quer que eu mostre?
— Raquel, o que você está fazendo com esse cara?
— Enrique? Onde você se meteu? Você me deixa com esse seu
amigo perturbado e desaparece.
— É que o Vinícius...
— E onde você estava na semana passada quando disse que foi
visitar a sua tia em Juiz de Fora? Por acaso você estava numa Variant amarela
participando de um bacanal e me traindo com uma travesti chamada Priscila?
— Respeite a Priscila — o metido a mexicano falou do outro
lado da mesa. — Non hable dela na minha frente desta maneira.
— Raquel, o que você andou tomando? Você aceitou tequila
desse maluco?
— Não minta pra mim. Não negue o seu amigo na minha frente.
— Isso! Non me negue, senão eu te negarei diante do Pai.
PAI!
— Raquel, eu... nunca vi esse cara. Eu nem sei por que você
está falando com ele. E eu não sei nada sobre nenhuma travesti ou Variant
amarela. Você tomou alguma coisa?
— Esse mexicano, quer dizer... esse metido a mexicano disse
que você esfregou seu bigode nele em “besos calientes”. Onde estão esses “besos
calientes” que eu nunca recebi?
— Raquel, eu não tenho bigodes.
— Onde está a lambida no pé que eu nunca recebi? Onde está a
excitação dos meus chácaras que você nunca fez comigo?
— Quê? Raquel, eu não tenho bigodes! Eu nem tenho pelos
direito. E esse cara é um maluco. Eu nunca vi ele na minha vida.
— Tudo entre nós está acabado. Não quero ficar com um homem
que nunca me deu uma lambida no pé. E que nega os próprios amigos!
E virei as costas. Onde já se viu um absurdo desses? Vou
procurar um homem que me lamba quando eu quiser. Ainda tive tempo de ouvir o
pseudo mexicano gritando:
— Sente aqui, amigo mio, e beba una tequila conmigo!
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