quarta-feira, 19 de setembro de 2012

As canções de amor




Você já amou
Pela beleza do gesto?
Você já mordeu
A maçã com todos os dentes?
Pelo sabor do fruto,
A sua doçura e seu gesto
Já se perdeu algumas vezes?

     Sim, eu já amei
     Pela beleza do gesto
     Mas a maçã era dura
     E quebrei os dentes.
     Essas paixões imaturas,
     Esses amores indigestos
     Deixaram-me mal disposto algumas vezes

Mas os amores que duram
Tornam os amantes exaustos,
E o beijo deles demasiado maduro
Apodrece-nos a língua

     Os amores passageiros
     Têm febres fúteis,
     E o beijo demasiado verde
     Esfola-nos os lábios
     Porque ao querer amar
     Pela beleza do gesto,
     O verme da maçã
     Escorrega-nos entre os dentes.
     Ele roe-nos o coração,
     O cérebro e o resto,
     Esvazia-nos lentamente

Mas quando ousamos amar
Pela beleza do gesto,
Esse verme na maçã
Que nos escorrega entre os dentes,
Toca-nos o coração,
O cérebro e deixa-nos
O seu perfume lá dentro

     Os amores passageiros
     Fazem esforços inúteis
     As suas carícias efêmeras
     Cansa-nos o corpo

Os amores que duram
Tornam os amantes menos belos
As suas carícias usadas
Dão cabo de nós

Música As-tu déjà aimé?
interpretada por Ismael (Louis Garrel) e
Erwann (Grégoire Leprince-Ringuet) em  
Les chansons d'amour.




Trecho do filme "Les chansons d'amour",
de Christophe Honoré

sábado, 8 de setembro de 2012

Atravessando pontes



Um grande abismo se estende infinito diante dos meus pés. Posso escolher permanecer do lado de cá — seguro e confortável —, mas, se eu quiser atravessar — para um lugar mais próspero e afortunado — só existe um caminho: um par de cordas se estende paralelas de um lado ao outro do precipício e entre elas tábuas bambas servem de apoio para os pés. O vento é muito forte, a ponte balança incessantemente, minhas mãos estão suadas e meu coração está em disparada. O primeiro passo é o mais doloroso, sofrido... Eu sei como é! Já passei por outras pontes antes, mas acontece que nunca por alguma tão estreita e inconstante. Ela é longa e só de imaginar tudo que eu terei que passar nos próximos tempos meu corpo dói.

Fico pensando se no meio dessa ponte existirão algumas tábuas mais firmes para que eu possa parar e respirar: estudar as possibilidades, medir as consequências ou simplesmente repousar meu corpo cansado.

Muitos conhecidos meus já chegaram do outro lado: por outros caminhos — mais tortuosos e cansativos —, mas chegaram. Eles estão do outro lado gritando pelo meu nome, me ensinando como me equilibrar nessas tábuas finas, fazendo todo o esforço para que eu me sinta confiante. Porém nenhum deles pode subir na mesma ponte que eu vou atravessar; nenhum deles pode segurar a minha mão para me dar mais segurança. Esse caminho eu terei que fazer sozinho. Sozinho.

Vou seguir os conselhos dos que já atravessaram suas pontes, mas eu terei que criar o meu próprio método, a minha maneira única de segurar nas cordas, pisar nas tábuas e caminhar. Por mais que minhas pernas estejam hesitantes e que minhas mãos estejam trêmulas, eu tenho que arriscar. E, depois do primeiro passo, não tem como voltar para a minha segurança do lado de cá do abismo: terei que continuar o caminho e vencer esse obstáculo que a vida me colocou e que eu estou escolhendo enfrentar para depois me decidir qual outra ponte eu escolherei em seguida. Sozinho.

O medo vai querer me derrubar da ponte e o cansaço vai me desanimar, mas eu sei que essa decisão de querer atravessar o abismo vai me amadurecer, vai me trazer novas experiências, vai me dar calos nas mãos e nos pés e eu não poderei mais ser abalado por pequenos empecilhos.

Não sou mais uma criança que precisa de alguém mais velho para atravessar a rua; eu sou um adulto que atravessa pontes.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Diário de viagem [3]

E hoje foi o meu terceiro dia aqui em BH. O calor diminuiu bastante e, quando eu saí às 7 da manhã, o termômetro marcava os frescos 20ºC. Maravilhoso pra caminhada.

Meu dia continuaria maravilhoso se não fosse pela minha primeira obrigação do dia: exame de sangue. Oh, Lord! Eu disse pra médica que eu desmaiava quando alguém me enfiava (oi?) uma agulha. E essa foi a primeira vez que eu não tinha o amparo da minha mãe ou do meu pai: saí cambaleando da clínica e meu braço continua doendo até agora.


Mais tarde, decidi almoçar num restaurante chamado Rampa que fica ali na Rua dos Tupis. A comida estava ótima: joinha especial pra lasanha! O único ponto negativo do restaurante é as toalhas de mesa furadas. Como assim, gente? Não dá pra comprar toalhas novas, não? Ai, gente, tô mais chato que o crítico do Ratatouille.

Mais uma vez passei pela Praça da Liberdade. Por quê? Existem placas por toda a cidade indicando o caminho para a Liberdade (AMENON!), então eu sempre procuro outros pontos da cidade a partir dessa praça. A foto acima é de uma das fontes na praça e, coincidentemente, eu encontrei um cartão-postal com a foto dessa mesma fonte. E, modéstia à parte, a foto ficou linda!


Olha eu na frente do coreto (postei uma foto do coreto no primeiro post da série)! Da Praça da Liberdade, eu segui para o shopping Pátio Savassi que fica na Avenida do Contorno pra assistir "O Ditador", com Sacha Baron Cohen, o mesmo criador de Borat e Brüno! 


Não queria ir no cinema do Pátio Savassi por ser uma filial do Cinemark. Eu amo o Cinemark, mas acontece que em Uberlândia, a cidade onde eu moro, também tem outra filial desse cinema; queria conhecer coisas diferentes: projeções, sons, poltronas e tals, mas foi o lugar mais acessível que eu encontrei. Além de ser o único que eu consegui encontrar "O Ditador" legendado. Filme dublado ninguém merece.

Por fim, seguindo a minha vida de ryqueza, fui jantar no McDonald's (de novo). Tinha um cantor lá na praça de alimentação do Shopping Cidade cantando Telegrama do Zeca Baleiro. Como resistir? Cantei muito!

Por isso hoje eu acordei com uma vontade danada
de mandar flores ao delegado
de bater na porta do vizinho e desejar bom dia
de beijar o português da padaria.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Diário de viagem [2]

Hoje eu acordei cedo e fui direto me servir do café-da-manhã do hotel. Isso serviu para me reforçar a ideia de que eu sou o único hóspede nesse prédio. Não vejo nenhuma vivalma entrando ou saindo na recepção, não ouço barulho de passos nem de batuques na parede, não cruzo (oi?) com ninguém nos corredores. Isso não é possível, gente! KD AS PESSOA?

Mais tarde tinha compromissos no bairro Jaraguá e resolvi ir de táxi. EIKE RYQUEZA! Mentira: o taxista estava arrotando do meu lado! Além de, em todos os sinais fechados (pegamos uns 500 nos 8km percorridos), ele mexia no celular. Oh, vontade de dar um peteleco na cabeça dele.

Na volta eu aproveitei para conhecer o sistema de transporte público de Belo Horizonte. O motorista do ônibus dirige tão educadamente que eu quase caí sentado no colo de um senhor de 70 anos! Me deu uma crise de rir tão grande! Parecia bobo rindo sozinho.

#OiOiOi

Quando eu já tinha resolvido tudo que precisava, fui passear pela cidade. Ah, que ideia maravilhosa caminhar por uma capital imensa num calor de 35ºC, umidade relativa do ar abaixo dos 30%! Me senti na casa do capeta. Que cidade quente, meu Deus! 

Mas, de qualquer forma, o movimento da cidade é uma maravilha. Eu nasci no ritmo de cidade grande. Eu me sinto meio pobre quando eu corro (porque pobre sempre tá atrasado pra pegar o ônibus ou bater o ponto lá no emprego), mas aqui todos correm: os engravatados, as madames, os turistas, eu. Me senti em casa.


Na mesma Praça da Liberdade onde eu fui ontem tinha esse... esse... esse troço aí na foto acima fazendo a contagem regressiva para a Copa do Mundo de 2014 que acontecerá aqui no Brasil (Ah, vá! Mesmo? Garoto eshperto). Segundo o site do Globo Esporte, o estádio do Mineirão em BH receberá o seu primeiro jogo no dia 14 de junho de 2014 (confira a tabela aqui).


Por fim, pensei em ir ao Cinemark do shopping Pátio Savassi, mas estava muito cansado para me dedicar a tão longa caminhada. E não queria andar de ônibus. Preferi voltar para o hotel, descansar, tomar banho e sair pra night. Uhu! E onde eu fui? Em outro shopping! Que grande novidade, Lucas! Que programa original. Vá se catar! Você quer que eu vá aonde? Vou numa casa de swing pra você não reclamar.

Shopping é coisa linda de Deus! Nas ruas do hotel onde eu estou até o Shopping Cidade tem muitos bares, lanchonetes e tals., mas não sei preços, não conheço os produtos... Quando se entra num shopping, os logos das multinacionais se abrem na sua frente. Pra ser mais original ainda, fui comer no McDonald's: o símbolo máximo do consumismo.

Agora acabou! Nesse momento estou me recuperando de tudo isso com a janela do meu quarto aberta, com o ventilador ligado, tomando água a cada expiração. Bem-vindo ao outono mineiro.

domingo, 2 de setembro de 2012

Diário de viagem

A minha vida virou de pernas pro ar em uma semana. No domingo passado, eu estava em Uberlândia me recuperando de uma festa que eu tinha ido no dia anterior; na terça-feira, eu comemorei o aniversário da minha tia nessa mesma cidade; na quarta-feira, fui avisado de que precisava viajar para Belo Horizonte até segunda-feira (amanhã). Eram menos de quatro dias para fazer reservas no hotel, comprar a passagem de ônibus, arrumar as malas e ir sozinho pra uma cidade desconhecida. E cá estou na capital mineira!

Meu sonho era conhecer Belo Horizonte: não conhecer BH é ser um péssimo mineiro (eu era até hoje). Fiquei super animado com a possibilidade de conhecer essa cidade. Mas fiquei com muito  medo. Entrei no ônibus em Patrocínio à 00:25 hr e só chegaria aqui em Belo Horizonte seis horas depois. Muito tenso!


Não consigo dormir em viagem, então já me preparei pra ficar acordado a noite toda. Até liguei uma musiquinha pra relaxar, mas, por acontecimentos irrelevantes, tive que sentar num lugar do ônibus que não me é nenhum pouco agradável. Eu fiquei enjoado, a fome e a sede foram apertando e até a leitura estava me fatigando. Depois de duas horas de viagem, eu já queria pular da janela do ônibus.

Logo quando cheguei em Belo Horizonte eu já peguei um táxi pro hotel (Me sinto o cara quando ando de táxi. Pobre é foda!): parecia um zumbi. Caí na cama já pensando na programação da tarde. Só se eu fosse bobo pra ficar na internet numa cidade com tanta coisa lá fora.


Primeiro, eu catei esse Guia Turístico do hotel. Calma, gente! Eu já devolvi. Já tinha uns lugares em mente pra visitar, então, fui enfiando a cara. Mas as ruas daqui são muito, muito, muito complicadas. Em Patrocínio é tudo quadradinho; aqui, as ruas fazem zigue-zague, contornos e voltas gigantes que... Meu Deus! Andei essa cidade inteira pra encontrar um lugar pra comer.



Por acaso, um rapaz de belos olhos azuis (POR QUE EU NÃO TENHO OLHOS AZUIS?) me entregou um panfleto desse restaurante. Depois de passar por tantos botecos de esquina, aquele ali era restaurante de luxo. A comida é boa, com um tempero diferente (espero que esse "tempero diferente" não seja comida estragada) e o moço do balcão é gentil. Tava tocando um blues maravilhoso, tinha uns franceses conversando animadamente na mesa ao lado e o restaurante era todo decorado com quadros do Bob Marley, The Beatles, Elvis Presley e Pin-ups maravilhosas (já posso ser crítico de restaurantes).

Depois de comido (oi?), já fui com toda minha dedicação para a Praça da Liberdade. Não sabia onde era, mas fui. Mas no mapa parecia bem mais simples. Que lugar difícil de ser encontrado, meu Deus! 


Essa foto aí de cima é o Palácio da Liberdade (que fica na praça com o mesmo nome) que, segundo meu Guia fica aberto pra visitação nos domingos pela manhã. Deixa eu copiar mais uma parte do Guia: "É a sede do Governo de Minas, inaugurado em 1898, foi palco de grandes decisões que mudaram a história política do país." Mas o mais legal ainda estava por vir.


Muito da minha vontade de conhecer Belo Horizonte tinha aparecido quando eu assistia a minissérie JK, em 2006. Eu já imaginava que alguma cena tinha sido gravada aqui nessa cidade. Quando eu cheguei à Praça da Liberdade eu pensei que ali seria um lugar perfeito para as gravações: a arquitetura ao redor da praça nos transporta para o passado. E eu fui transportado para uma cena da minissérie. Eu tive certeza que as cenas tinham sido gravadas ali. Eu gosto muito dessas lembranças repentinas, dessas sensações de déjà vu. Eu lembrei exatamente da cena em que o Juscelino (Wagner Moura) via a Sarah (Débora Falabella), sua futura esposa, pela primeira vez. Eu me senti dentro da minissérie (fotos aqui e aqui). Foi maravilhoso. É preciso entender minha paixão por novelas para compreender essa emoção.


Por fim, eu fotografei esse obelisco que fica na Praça Sete de Setembro (cruzamento das avenidas Afonso Pena e Amazonas). Esse obelisco é chamado de Pirulito. O porquê desse nome... aí já é para o Sr. Google. Segundo o Wikipedia, tem 7m, é feito de granito, foi desenhado pelo arquiteto Antônio Rego e construído pelo engenheiro Antônio Gonçalves Gravatás.

Essa foi a primeira parte do Diário aqui em BH: espero ter tempo para atualizar o blog todos os dias até o fim da minha estadia para eu contar mais um pouco das minhas impressões e blá-blá-blá. Até mais.