Um grande abismo se estende infinito diante dos meus pés. Posso
escolher permanecer do lado de cá — seguro e confortável —, mas, se eu quiser
atravessar — para um lugar mais próspero e afortunado — só existe um caminho: um
par de cordas se estende paralelas de um lado ao outro do precipício e entre
elas tábuas bambas servem de apoio para os pés. O vento é muito forte, a ponte
balança incessantemente, minhas mãos estão suadas e meu coração está em
disparada. O primeiro passo é o mais doloroso, sofrido... Eu sei como é! Já
passei por outras pontes antes, mas acontece que nunca por alguma tão estreita
e inconstante. Ela é longa e só de imaginar tudo que eu terei que passar nos
próximos tempos meu corpo dói.
Fico pensando se no meio dessa ponte existirão algumas
tábuas mais firmes para que eu possa parar e respirar: estudar as
possibilidades, medir as consequências ou simplesmente repousar meu corpo
cansado.
Muitos conhecidos meus já chegaram do outro lado: por outros
caminhos — mais tortuosos e cansativos —, mas chegaram. Eles estão do outro lado gritando pelo meu nome, me
ensinando como me equilibrar nessas tábuas finas, fazendo todo o esforço para
que eu me sinta confiante. Porém nenhum deles pode subir na mesma ponte que eu
vou atravessar; nenhum deles pode segurar a minha mão para me dar mais
segurança. Esse caminho eu terei que fazer sozinho. Sozinho.
Vou seguir os conselhos dos que já atravessaram suas pontes,
mas eu terei que criar o meu próprio método, a minha maneira única de segurar
nas cordas, pisar nas tábuas e caminhar. Por mais que minhas pernas estejam hesitantes
e que minhas mãos estejam trêmulas, eu tenho que arriscar. E, depois do
primeiro passo, não tem como voltar para a minha segurança do lado de cá do
abismo: terei que continuar o caminho e vencer esse obstáculo que a vida me
colocou e que eu estou escolhendo enfrentar para depois me decidir qual outra
ponte eu escolherei em seguida. Sozinho.
O medo vai querer me derrubar da ponte e o cansaço vai me
desanimar, mas eu sei que essa decisão de querer atravessar o abismo vai me
amadurecer, vai me trazer novas experiências, vai me dar calos nas mãos e nos
pés e eu não poderei mais ser abalado por pequenos empecilhos.
Não sou mais uma criança que precisa de alguém mais velho
para atravessar a rua; eu sou um adulto que atravessa pontes.
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