"Tem gente enganando a gente
Veja nossa vida como está"
Renato Russo
O mundo mudou; os avanços tecnológicos correm além do que
nossas pernas podem acompanhar e a quantidade de novidades que vemos em um
ano é maior do que as que duas gerações de uma família viam há duzentos anos.
Transportamo-nos para um mundo paralelo, irreal; estamos
imersos em terras virtuais desconhecidas durante a maior parte dos nossos dias.
E vivemos nesse mundo contraditório, onde as distâncias físicas estão cada vez
menores e cada vez maiores. Mantemos contato com pessoas do outro lado do
planeta através da rede computadores, ao mesmo tempo em que não conhecemos
nosso vizinho de porta, não sabemos o nome do moço da padaria; não sabemos nem
mesmo a preocupação das pessoas com as quais moramos na mesma casa. E depois
nos perguntamos a causa das depressões, das tristezas, da carência...
Nessa última semana, na faculdade, discutíamos sobre a
velocidade das inovações tecnológicas e como, depois de pouquíssimos anos,
tornamo-nos completamente dependentes delas. Não conseguimos passar um final de
semana sem energia elétrica: sim, conseguimos sobreviver sem televisão e computador
durante dois dias, mas não gostamos do banho frio e não conseguimos viver sem
as inúmeras funções de uma geladeira. Essa última, tomo-a como o centro da
casa.
Nosso professor nos perguntou o que fazíamos antes do
Facebook. Orkut, nós respondemos de imediato, rindo. E antes do Orkut?, ele
perguntou. E minha mente começou a divagar. Uau, vivo em redes sociais há seis
anos e... nem me lembro de quem eu era antes delas. Com um pouco de esforço eu
me lembrei:
Eu via mais televisão na sala sentado ao lado dos meus pais
e dos meus irmãos, brincava mais, andava mais e lia mais. Eu lia mais, escrevia
mais, sonhava mais. Não vivia mergulhado nesse território virtual durante horas
como acontece hoje em dia. Eu pensava mais sobre meu futuro e, mesmo sendo uma
criança, eu pensava mais sobre meus sentimentos, sobre o mundo, sobre as
pessoas... Eu lia mais. E eu sempre estou me perguntando: por que eu não tenho
mais tempo para ler? E eu lia mais. Conversava mais. Talvez eu fosse mais
feliz.
Talvez eu fosse uma pessoa mais real... Talvez meus sentimentos fossem mais reais, menos virtuais...
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