sexta-feira, 7 de junho de 2013

Loser


Eu nunca me dei bem com os esportes e nunca fui a pessoa mais sociável do colégio; meu nome nunca esteve envolvido em algum escândalo engraçado, nunca fui suspenso, nunca me envolvi em brigas. Nos tempos da escola, eu era encontrado nos arredores da biblioteca, ou dentro dela, jogando conversa fora, sendo um aluno comum.

Dentro da sala, eu estava entre os primeiros da turma. Sempre. Foi assim a minha vida inteira: as boas notas e o bom exemplo era o mínimo que as professoras esperavam de mim. Eu sempre me cobrei demais: eu sabia que eu nunca seria perfeito, mas eu queria, pelo menos, passar perto de ser. E foi assim durante toda a minha vida até os dias de hoje.

Mesmo com tudo isso, eu dizia sempre que eu era um perdedor: I’m a loser, eu queria escrever na minha camiseta. Eu era o menino que apanhava na escola ou era chantageado para não apanhar , que era empurrado das escadas, que era passado pra trás na fila do lanche. Mas, pensando bem, isso nunca me fez ser um perdedor! Talvez eu fosse um pouco imbecil, mas tudo isso que me aconteceu não fazia de mim um perdedor. Eu nunca fui um perdedor.

Eu sempre vencia; eu sempre queria vencer. Ah, como é bom ser assim! Na grande parte da minha vida, eu me sentia o melhor. Tomei cuidado para que minhas vaidades não fossem alimentadas, e espero que não tenham sido e consiga comprovar isso nessas linhas que escrevo. Uma vida de muitas vitórias, muitos pódios, muitos prêmios por ser o melhor (ou um dos). Isso me fez uma pessoa melhor? Isso aumentou a minha auto-estima? Isso me deixou mais confiante?

Talvez, por algum tempo, tenha contribuído para eu adquirir aquele negócio que chamam de amor-próprio, mas depois... Não me serviu de muita coisa. E, nos últimos dias, vi que isso até me atrapalhou um pouco. A vida não é feita apenas de vitórias; na verdade, mais de derrotas e perdas do que de momentos de êxito. E o caminho que minha vida percorreu não me ensinou a ser um bom perdedor.

Pouco mais de uma semana atrás, eu fui reprovado pela primeira vez na prova de direção veicular. Que coisa tosca!, alguns devem pensar. Talvez pensem isso por acharem que é uma prova baba ou por pensarem que isso não é um tipo de preocupação que se carregue por dias... Enfim, eu fui reprovado! E eu nunca pensei que essa reprovação fosse me jogar no chão, me chutar e mostrar que eu sou um nada. Eu sou um péssimo perdedor.

Eu me cobro demasiadamente e um erro é um passo mais distante do ideal. Um erro é um erro. Não tem meio-termo! Mas talvez isso seja um golpe do destino, da vida ou de sei-lá-o-que para me mostrar que eu não sou perfeito e que eu sou humano como todas as outras pessoas; sujeito a erros e a acertos na mesma proporção. Não adianta culpar ninguém ou chorar pelo leite derramado. Não tem como voltar atrás e fazer aquela baliza do jeito certo ou tentar ficar mais calmo enquanto eu tentava colocar o cinto de segurança. Eu perdi. Pronto. Ponto.


Eu espero, no fundo do meu coração, que eu consiga enxergar isso; que eu coloque os meus pés no chão e me esqueça de chegar sempre ao topo; que a vida é feita de vitórias e derrotas e blá-blá-blá. Mas, até lá, eu vou sofrer pensando que todos os motoristas do mundo são mais inteligentes que eu. 

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