Eu nunca me dei bem com os esportes e nunca fui a pessoa
mais sociável do colégio; meu nome nunca esteve envolvido em algum escândalo
engraçado, nunca fui suspenso, nunca me envolvi em brigas. Nos tempos da
escola, eu era encontrado nos arredores da biblioteca, ou dentro dela, jogando
conversa fora, sendo um aluno comum.
Dentro da sala, eu estava entre os primeiros da turma. Sempre. Foi assim a minha vida inteira:
as boas notas e o bom exemplo era o mínimo que as professoras esperavam de mim.
Eu sempre me cobrei demais: eu sabia que eu nunca seria perfeito, mas eu
queria, pelo menos, passar perto de ser. E foi assim durante toda a minha vida
até os dias de hoje.
Mesmo com tudo isso, eu dizia sempre que eu era um perdedor:
I’m a loser, eu queria escrever na
minha camiseta. Eu era o menino que apanhava na escola — ou era
chantageado para não apanhar —, que era empurrado das
escadas, que era passado pra trás na fila do lanche. Mas, pensando bem, isso
nunca me fez ser um perdedor! Talvez eu fosse um pouco imbecil, mas tudo isso
que me aconteceu não fazia de mim um perdedor. Eu nunca fui um perdedor.
Eu sempre vencia; eu sempre queria vencer. Ah, como é bom
ser assim! Na grande parte da minha vida, eu me sentia o melhor. Tomei cuidado para que minhas vaidades não fossem
alimentadas, e espero que não tenham sido e consiga comprovar isso nessas linhas
que escrevo. Uma vida de muitas vitórias, muitos pódios, muitos prêmios por ser
o melhor (ou um dos). Isso me fez uma pessoa melhor? Isso aumentou a minha
auto-estima? Isso me deixou mais confiante?
Talvez, por algum tempo, tenha contribuído para eu adquirir
aquele negócio que chamam de amor-próprio, mas depois... Não me serviu de muita
coisa. E, nos últimos dias, vi que isso até me atrapalhou um pouco. A vida não
é feita apenas de vitórias; na verdade, mais de derrotas e perdas do que de
momentos de êxito. E o caminho que minha vida percorreu não me ensinou a ser um
bom perdedor.
Pouco mais de uma semana atrás, eu fui reprovado pela
primeira vez na prova de direção veicular. Que coisa tosca!, alguns devem
pensar. Talvez pensem isso por acharem que é uma prova baba ou por pensarem que
isso não é um tipo de preocupação que se carregue por dias... Enfim, eu fui
reprovado! E eu nunca pensei que essa reprovação fosse me jogar no chão, me
chutar e mostrar que eu sou um nada. Eu
sou um péssimo perdedor.
Eu me cobro demasiadamente e um erro é um passo mais
distante do ideal. Um erro é um erro. Não tem meio-termo! Mas talvez isso seja
um golpe do destino, da vida ou de sei-lá-o-que para me mostrar que eu não sou
perfeito e que eu sou humano como todas as outras pessoas; sujeito a erros e a
acertos na mesma proporção. Não adianta culpar ninguém ou chorar pelo leite
derramado. Não tem como voltar atrás e fazer aquela baliza do jeito certo ou
tentar ficar mais calmo enquanto eu tentava colocar o cinto de segurança. Eu
perdi. Pronto. Ponto.
Eu espero, no fundo do meu coração, que eu consiga enxergar
isso; que eu coloque os meus pés no chão e me esqueça de chegar sempre ao topo;
que a vida é feita de vitórias e derrotas e blá-blá-blá. Mas, até lá, eu vou
sofrer pensando que todos os motoristas do mundo são mais inteligentes que eu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário