Nos últimos meses tenho lido e refletido bastante sobre o
desenvolvimento de roteiros e livros justamente pela minha pretensão em me
enveredar por esses caminhos num futuro não muito distante. É claro que
enquanto penso em minhas pretensões literárias, sonho em ser um grande
escritor. Ninguém sonha em ser um profissional medíocre: queremos fazer algo
diferente; queremos que, de alguma maneira, tenhamos algum destaque no meio da
multidão. E eu, como qualquer um, não sonho em ser um escritor esquecido na
prateleira de um sebo.
Dessa maneira, vejo o quanto é importante entender o mundo
para o qual queremos vender nossa obra. Se dermos sorte (na verdade, eu não sei
se devo usar essa palavra), nossa ideia perdurará séculos e fará a alegria de
gerações posteriores: Romeu e Julieta,
do Shakespeare, A Escrava Isaura, do
Bernardo Guimarães, e Titanic, do
James Cameron, estão aí para não me deixar mentir.
Penso que essas são obras que emocionam geração após geração
justamente pelo fato de conseguir traduzir com habilidade sentimentos muito
próprios que, de certa maneira, permaneceram intactos com o passar dos anos. E
que meus professores de História não leiam isso!
São histórias que tratam de questões próprias de seus
tempos, mas que conseguiram ser tão universais que continuam nos convencendo
até hoje. Acho que esse é o ponto-chave de um roteiro, livro ou qualquer outra
obra literária ou audiovisual. Conseguir entender e traduzir sentimentos de uma
época é uma habilidade imprescindível para quem produz histórias. Nesse
sentido, preciso elogiar o trabalho encantador produzido no horário nobre da TV
Globo.
A Globo talvez seja essa potência televisiva justamente pelo
fato de conseguir dar conta dessas questões contemporâneas às suas produções:
não só os medos, desejos e ambições de uma época, mas também preocupações
sociais como a dependência química, o alcoolismo, a esquizofrenia e, mais
recentemente, o tráfico de pessoas. A nova novela das nove, Amor à Vida, ainda não mostrou esse seu
lado característico das novelas do horário, mas já teceu uma linda história de
amor. Linda e, ainda mais importante, convincente!
Não posso desconsiderar que uma novela é uma obra coletiva,
mas o trabalho de roteiro do Walcyr Carrasco é sublime. Carrasco é o responsável
por fazer com que eu me apaixonasse pelos clichês em suas novelas das seis;
errou um pouco a mão em suas novelas das sete, mas voltou com diálogos
profissionais em Gabriela.
Amor à
vida é cheia de clichês, mas, nas mãos certas, eles ganham outro
tempero: o vilão ambicioso que tem inveja da irmã; essa irmã, uma moça rica e infeliz,
cansada de sua vida monótona, se apaixona e foge com um hippie que ela conhece no Peru; esse ato causa o descontentamento
(isso é eufemismo!) da mãe autoritária...
Uma história de amor protagonizada
por Paola Oliveira, a nova Regina Duarte das novelas, Malvino Salvador, que
mostrou um profissionalismo surpreendente no papel do recém-viúvo Bruno (alguém
sabe se ele entrou numa fonoaudióloga?), Juliano Cazarré, que emplaca o
terceiro sucesso consecutivo no horário das nove com três textos excelentes,
Mateus Solano, que tirou a sorte com o personagem mais interessante dos últimos
anos, e Suzana Vieira, que está tendo a oportunidade de mostrar que é uma atriz
de primeira linha depois de tantos anos fazendo personagens espalhafatosos (e
chatos) do Aguinaldo Silva.
Walcyr Carrasco, assim como o aclamado João Emanuel Carneiro, tem senso de humor e uma habilidade com tiradas e situações inusitadas que me deixa eufórico no sofá. Consegue mostrar em Amor à Vida a classe C que é tão aguardada na recente dramaturgia, mas coloca o núcleo rico da novela no centro da história; o que já me fazia falta. É uma novela ágil, com enquadramentos de câmera que eu nunca tinha visto em novelas e que, como disse um crítico, promete consolar os viúvos da Carminha de Avenida Brasil.
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