A primeira imagem era um enorme portão de madeira aberto no meio de uma muralha de gelo que se estendia até se perder de vista no horizonte; dele, três cavaleiros cobertos de peles negras cavalgavam seus garranos. Isso foi há mais de um ano, quando numa tarde de domingo despreocupada eu comecei assistir à primeira temporada de Game of Thrones. Não foi preciso muitos dias para que eu já estivesse de quatro pelos personagens da série.
Depois de assistir aos dez primeiros episódios da série de
TV, foi um passo muito curto para que eu comprasse os livros e me mudasse para Westeros, com uma espada de um lado e um saco de dragões de ouro do outro. Depois de vários meses, enfim, eu terminei a
leitura dos cinco livros publicados e das três temporadas produzidas pela HBO.
Foi um convívio intenso com os livros: nas rodoviárias, nos
ônibus, jogado em algum canto da minha casa, eu sempre estava com um daqueles
calhamaços de 800 páginas na mão. As
crônicas de Gelo e Fogo tornaram-se o meu vício, a minha mania constante.
Quando eu não estava lendo um dos livros, eu estava em algum blog ou site sobre
a série: mas, como diria Melisandre, a noite é escura e cheia de terrores spoilers, então encontrar algumas
revelações bombásticas era inevitável para minha mente curiosa.
No início, eu achava que era uma injustiça dizer que As crônicas de Gelo e Fogo era melhor
que Harry Potter ou que era uma
heresia dizer que era melhor que O Senhor dos Anéis, mas hoje eu dou minha cara à tapa e enfrento quem quiser me
desafiar num duelo singular (Quem é você para falar de Gayme ofi Tônis?). É como eu ouvi certa vez: essa rivalidade entre os
fãs é saudável; é como se fosse o fanatismo dos torcedores de times de futebol
transferido para o mundo nerd. Mas, por favor, prepare os argumentos antes de passar vergonha!
Eu passei o final da minha adolescência lendo fantasias infanto-juvenis
que envolviam bruxos, vampiros e semideuses, mas agora aquilo já não me
satisfaz. Agora eu passo horas e horas (pelas minhas contas foram mais ou menos
222h — nove dias e meio —para
ler a série) para passar mais um tempinho com meus
personagens favoritos.
E eu tenho certeza que quando eu ler outros livros a partir de agora vou sentir falta dos sonhos infantis e da ingenuidade da Sansa Stark, do caso incestuoso entre Jaime e Cersei Lannister, dos dragões e das “relações diplomáticas” encaradas pela Daenerys Targaryen, do sangue quente dos habitantes de Dorne, dos Caminhantes Brancos que habitam as terras Para Lá da Muralha, do amor incandescente que o Loras Tyrell sentia pelo rei Renly Baratheon, do temperamento psicopata do Ramsay Snow.
E ainda têm os planos gigantescos do
Petyr Baelish, que meu cérebro tão inexperiente não consegue descobrir o
alcance verdadeiro; as maquinações da Senhora Coração de Pedra que muito me
intrigam; a perspicácia e o poder de persuasão do Tyrion Lannister; e do
treinamento pelo qual a Arya Stark está submetida do outro lado do Mar
Estreito.
Sem falar dos juramentos honrados, das visões que aparecem nas
chamas, dos navios, dos lobos gigantes, dos bastardos, dos saques, dos
estupros, dos Sete Deuses, dos Deuses Antigos, de R’hllor, dos wargs, do Rei Menino, das descrições de
refeições que duram páginas e páginas e do inverno que está chegando.
E algumas pessoas, quando me veem com um dos livros ou
quando descobrem que eu tenho todas as temporadas da série no meu computador,
me perguntam:
— É sobre o que essa série?
— É uma fantasia medieval — eu me
limito a dizer para não tomar as próximas três horas do dia da pessoa.
— Mas qual é a história principal? Quem é o
personagem central? — algumas ainda insistem.
Bem, se você quer começar Game of Thrones esqueça essa de história principal: uma rainha, um
bastardo, o comandante de um navio, um menino paraplégico, uma menina cega ou
um fantasma podem se tornar os protagonistas em algum momento: é a partir de
seus pontos de vista que veremos a história. E qualquer um deles pode morrer na
próxima página com um punhal, uma espada ou um arakh dothraki que os cortará do ombro até a virilha. Valar morghulis! Mas um certo deus
vermelho é solícito se a prece for feita com muita fé...
Eu trouxe Game of
Thrones para a minha vida e descobri que nosso dia-a-dia é um grande jogo,
uma grande dança: só sobrevivem os que conseguem dançar conforme a música, os
que conseguem compreender significados ocultos nas palavras do oponente, os que
conseguem sorrir e chorar conforme a ocasião pedir. Jogar esse jogo com pessoas
reais é mais excitante que uma partida de cyvasse.
Game of
Thrones tanto me proporcionou momento de excitação, como os
capítulos finais de Cersei, Arianne e Sansa em O Festim dos Corvos, quanto momentos de desolação, de luto, como o
Casamento Vermelho, em A Tormenta de
Espadas (a versão da TV me deixou com taquicardia, em estado de choque)
e o antipenúltimo capítulo de A Dança dos
Dragões, que me deixou com as mãos tão trêmulas que quase não me deixavam
segurar o livro de 864 páginas!
Se formos muito otimistas, podemos esperar o próximo volume
da série, Os Ventos de Inverno, chegando
às livrarias em 2015 (eu espero que sim, George Martin!), mas, enquanto
isso, vou ir sonhando com os personagens e inventando teorias das mais absurdas
para satisfazer o meu vício.
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