sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Pânico na lotérica

Nós sempre dependemos de bancos ou de lotéricas para resolver nossos problemas. Eu não consigo passar muito tempo sem visitar uma lotérica. Foi assim nessa semana.

Precisava pagar um boleto bancário e fui animado para a lotérica que fica em frente à Praça da Igreja. A animação diminuiu quando, do lado de fora, eu vi a quantidade de pessoas na fila.

Essa é a lotérica mais segura da cidade, como dizem por aí. Já foi assaltada duas vezes, mas isso é de praxe em qualquer lugar do mundo. Tinha detector de metais e tudo.

Passei pela porta giratória que tem detector de metais e entrei na fila. Contei: eram oito pessoas na minha frente. Não era nada animador. Percebi que o ar lá dentro estava abafado. Lembrei que a última vez que estive ali tinha ar condicionado.

Tinha muito tempo para observar tudo por ali. Uma placa indicava o valor da Mega-Sena acumulada, olhava para a data do pagamento do Bolsa Família, o resultado da Telesena pregado numa parede.

Também observava as pessoas: tem uma mulher da Caixa Econômica que trabalha ali fazendo empréstimos; tinha um homem que julguei ser trabalhador rural que marcava números num desses jogos; senhorinhas que tinham privilégio na fila do lado direito.

Uma observação: senti falta do guarda que sempre ficava ali expondo sua arma e seu cassetete. Eu prestei atenção nesse fato um pouco mais tarde.

A fila continuava. Entraram dois garotos: um adolescente branco de cabelos pretos penteados, ou despenteados, como muitos outros adolescentes usam atualmente; o outro era um garoto loiro que eu tinha conhecido uns anos atrás, mas não me lembrava o nome dele. Só sei que eu não gostava dele na época.

O garoto loiro comentou com o outro:

— Essa porta não apita nada! Entrei com o celular e nem deu sinal.

— Pois é!

— Então! Isso não serve pra nada.

Meu pensamento estava a mil. Não conseguia me concentrar direito por causa do assunto dos dois amigos atrás de mim.

— Comprei uma moto agora.

“Duvido”, eu pensava.

— Sério? — o loiro perguntou.

— Tô te falando. Pode ir lá em casa pra ver. Tá com meu irmão!

— Que irmão?

— O Eduardo.

Ai, meu Deus. Tava me concentrando para não me concentrar no assunto atrás de mim.

Quando pude pensar sozinho dentro da minha cabeça, liguei os fatos: “Percebi que o ar lá dentro estava abafado”, eu tinha pensado. “Isso não serve pra nada”, o garoto tinha dito sobre o detector de metais. Lembrei de outro pensamento meu: “senti falta do guarda que sempre ficava ali expondo sua arma e seu cassetete”.

Meu Deus! Comecei a imaginar coisas: um criminoso tinha arranjado um jeito de tirar o guarda dali. Bastava uma ligação ou um chamado.

— Ei — o criminoso teria chamado —, meu filho tá passando mal ali na rua. Tem como me ajudar.

“E agora, meu Deus”.

Depois, esse criminoso, ou a dupla, teria desligado a energia elétrica do lugar; isso explicava o ar condicionado e o detector de metais estarem desligados.

Outro pensamento me veio à cabeça: “Já foi assaltada duas vezes”.

Eu só estava concentrado na fila, agora. Queria que aquilo acabasse. Eu tremia de excitação quando eu era o próximo a ser atendido. Paguei o negócio o mais rápido que pude e saí da lotérica.

Eu já estava ficando louco ali dentro. Não sei se eu agüentaria se um assaltante tivesse entrado na lotérica com uma arma na mão. Teria desmaiado.

Não se preocupem. Já estou a salvo aqui em casa, imaginando: onde nós, cidadãos atuais, vamos parar com esse medo?

Um comentário:

Júlia disse...

Gostei daqui, to seguindo.
Beijo.