sábado, 23 de julho de 2011

Caçadores de Aventuras

[baseado em fatos reais]


— Que maravilha! Estamos perdidos.

— Me diga onde está a maravilha disso.

Tudo tinha começado quando decidiram fazer uma coisa que não faziam desde criança: caçar aventuras. Muitos anos atrás, eram dois garotos de 8 anos que gostavam de andar no meio do mato, inventando histórias e tesouros: os caçadores de aventuras.

Hoje, dois adolescentes crescidos resolveram relembrar os antigos tempos de criança, equipados de garrafinhas d’água, uma máquina fotográfica e uma bússola.

— Eu me lembro de ter passado por aqui antes. Tinha esses bambus jogados no chão.

— Isso ajuda muito.

— Nossa! Aonde tá o seu senso de humor?

— Perdi em algum lugar dessa mata!

Quando estamos perdidos, os primeiros minutos são engraçados. Nos minutos seguintes, percebemos a seriedade da situação. Depois, ficamos estressados com a nossa burrice e brigamos um com o outro. No fim, ficamos apavorados e qualquer inimizade fica esquecida.

Para a nossa dupla, só faltava o último estágio.

— Olha! Ali tem uma placa.

Correram para a placa escrita: “PASSAGEM PROIBIDA. ANIMAIS SELVAGENS”. E um desenho.

— Do que ‘cê tá rindo?

— De como vai ser engraçado contar essa história lá na escola.

— Ria para a morte, querido!

— Que coisa horrível de se pensar! Você não está vendo? São só veadinhos!

— Animais selvagens! Devem ser onças, cobras e... coisas horrorosas.

— Credo!

Um barulho num arbusto.

— AAAAAAAAAHHHHHH!

Os dois nem perceberam que estavam abraçados.

— EU QUERO MINHA MÃE!

— Só não faça xixi no meu pé.

O barulho no arbusto continuava. Mais rápido. Mais forte. Uma capivara sai de trás do mato.

— Viu? Capivaras também são selvagens!

Você também é um selvagem. — Pausa. — Peraí! A gente tem a bússola. — Tira a bússola do bolso. — Ela sempre aponta para o norte, né?

— Na verdade, eu não sei se essa aí aponta pro norte. Ela veio de brinde numa mochila que eu comprei.

— Não importa. A gente precisa encontrar o caminho de casa. Vamos pensar: o sol está se pondo naquele lado. O oeste, então. Pra lá é o leste. A gente saiu em que direção?

— Na direção do rio.

— Eu tô perguntando... Ah, não interessa. Deixa eu pensar! Eu acho que a gente saiu para o oeste. Então, se a gente seguir para o leste... a gente chega na chácara.

— Não sei se isso dá certo.

— Claro que dá.

Foram pelo leste. Ou pelo que eles achavam ser. Cinco minutos depois:

— Um milharal?

— A gente tem que passar no meio do milharal, senão a gente perde a direção.

— Não é isso. — Pausa para pensar. — Eu conheço esse milharal. E eu conheço aquele espantalho.

Uns passos para a esquerda e uma cerca... A chácara.

— E agora, do que ‘cê tá rindo?

— De como essa história vai ser ainda mais engraçada agora.

— Não. Você não vai contar essa história na escola mesmo.

— Claro que vou. Você urinando nas calças e pagando uma de Indiana Jones vão ser as atrações de segunda-feira.

Um comentário:

Clara disse...

Nossa, que sufoco! Eu até que gosto da natureza, mas nada dessas coisas selvagens e perigosas... rsrs