quinta-feira, 21 de julho de 2011

Eu


— É muita bondade sua. Eu não mereço tantos elogios!

— Elogios? Mas eu não falei nada.

— Ah, não fique acanhada. Mas eu concordo com você. Eu sou realmente muito carismático. Eu emano esse ar de confiança, sabe? É natural! Eu não faço nenhum esforço. Nasci assim.

— Sei.

— Na verdade, eu acho que todos nascemos com isso, mas são poucos os escolhidos, poucos os que sabem usar isso a seu favor. E eu sou um eleito. Essa minha aura de simpatia me atrai muitas coisas boas. Eu sei que todos me acham bonito, mas... beleza não é fundamental, não é mesmo? Deve haver conteúdo.

— Claro! Deve haver conteúdo!

— Que bom que você concorda comigo. Isso me faz lembrar quando eu era apenas um garoto estranho na escola e sofria bullying. Você acredita que eu sofri bullying na escola? Ninguém acredita quando eu digo. Eles dizem: “Um homem tão charmoso, inteligente, elegante sendo humilhado por outros garotos na escola... Você está mentindo!” Pois eu digo que sim! Eu era muito ingênuo e só recentemente soube usar o meu carisma de uma forma positiva.

— Ô!

— Hoje em dia, penso que aqueles meninos eram inferiores a mim. Algumas pessoas me acham metido, mas eu só sou confiante. Eu acredito na minha capacidade, na minha astúcia e em todo o meu... meu... carisma. É! Não existe um sinônimo para isso. O carisma é uma graça divina. E Deus me escolheu.

— Oh, meu Pai!

— Vejo que você está se divertindo com esse breve histórico da minha vida...

— Ô!

— ...mas vamos falar de você! E, então... o que você acha de mim?

Um comentário:

Clara disse...

kkkkk. Esse finalzinho me lembrou de uma conversa do Professor Girafales com a dona Florinda...

Fico imaginando quem aguentaria ficar perto dessa pessoa tão carismática por mais de 10 segundos. ¬¬