sábado, 7 de abril de 2012

Minha Fofura


No ano passado, ele freqüentava um boteco de esquina: balconista magrelo — mais novo do que aparentava —, parede amarelada, radinho de pilha chiando, cheiro de urina e cachaça, mesa de sinuca. Ele, de chinelo Havaianas, camisa cavada amarela e bermuda jeans rasgada na coxa esquerda, ficava ali coçando o saco o dia todo.

Uma mulher fez com que ele mudasse todo o figurino. Começou por pentear os cabelos; depois comprou umas roupas novas e até um sapato em 10x sem juros. Só não conseguiu parar de fumar. Aí, era pedir demais.

Aos poucos conseguiu segurar o coração sonhador da loira. Ele, brega que só, mandava flores, bombons e perfumes. Às vezes, surpreendia-a com uns versinhos, secretamente escritos pelo seu sobrinho.

Por causa da mulher, o cenário também mudou. Ele economizou dinheiro para levar a amada — ele é muito brega! — num restaurante chique da cidade.

Ela pôs um vestido preto e ele de camisa rosa claro. Sentaram-se na mesa reservada e ele já sabia o que pedir: o orçamento era limitado.

Quando ele levantou a mão para chamar o garçom¹, não notou a presença do garçom² atrás dele carregando uma bandeja com uma garrafa de whisky e quatro copos de vidro. Mas quando o nosso personagem soube o preço dos copos, pensou que eram cristais de algum lugar remoto da Terra. Ou da Lua!

— Tá tudo bem, minha fofura! — ele representava para a namorada.

Por mais que os copos e o whisky fosse o quádruplo do capital disponível, ele deixou que o jantar continuasse. E comeram bem! A única coisa que incomodava o eterno romântico era o olhar desconfiado dos garçons. Aqueles caras já eram treinados pra sentir cheiro de classe média.

— Eu vou ao toalete, fofurinha! — ele disse tomando a decisão de sua vida.

O nosso personagem entrou no banheiro seguido pelos olhares inquisidores dos garçons. As mesas continuavam a serem servidas e o homem não saía do banheiro. Os garçons já estavam com os dois pés atrás diante daquela situação, mas não podiam tomar conclusões precipitadas. Era a política do restaurante. E qualquer passo em falso lhes custaria o emprego.

A loira já estava sozinha na mesa há meia hora. E foi ela quem pediu para que procurassem pelo seu namorado:

— Eu não posso entrar no banheiro masculino, né! — ela dissera.

Os dois garçons muito prestativos com a loira de belos atributos, entraram no banheiro. Os reservados foram abertos um por um... um por um... um por um...

— Me tirem daqui!

As únicas coisas que os garçons enxergaram foram duas pernas penduradas na janela; o resto do corpo já estava do lado de fora do restaurante.

— Me tirem daqui! Eu prometo lavar os pratos! Só não contem pra minha fofura!

Nenhum comentário: