No ano passado, ele freqüentava um boteco de esquina:
balconista magrelo — mais novo do que aparentava —, parede amarelada, radinho
de pilha chiando, cheiro de urina e cachaça, mesa de sinuca. Ele, de chinelo
Havaianas, camisa cavada amarela e bermuda jeans
rasgada na coxa esquerda, ficava ali coçando o saco o dia todo.
Uma mulher fez com que ele mudasse todo o figurino. Começou
por pentear os cabelos; depois comprou umas roupas novas e até um sapato em 10x
sem juros. Só não conseguiu parar de fumar. Aí, era pedir demais.
Aos poucos conseguiu segurar o coração sonhador da loira.
Ele, brega que só, mandava flores, bombons e perfumes. Às vezes, surpreendia-a
com uns versinhos, secretamente escritos pelo seu sobrinho.
Por causa da mulher, o cenário também mudou. Ele economizou
dinheiro para levar a amada — ele é muito brega! — num restaurante chique da
cidade.
Ela pôs um vestido preto e ele de camisa rosa claro.
Sentaram-se na mesa reservada e ele já sabia o que pedir: o orçamento era
limitado.
Quando ele levantou a mão para chamar o garçom¹, não notou a
presença do garçom² atrás dele carregando uma bandeja com uma garrafa de whisky e quatro copos de vidro. Mas
quando o nosso personagem soube o preço dos copos, pensou que eram cristais de
algum lugar remoto da Terra. Ou da Lua!
— Tá tudo bem, minha fofura! — ele representava para a
namorada.
Por mais que os copos e o whisky fosse o quádruplo do capital disponível, ele deixou que o
jantar continuasse. E comeram bem! A única coisa que incomodava o eterno
romântico era o olhar desconfiado dos garçons. Aqueles caras já eram treinados
pra sentir cheiro de classe média.
— Eu vou ao toalete, fofurinha! — ele disse tomando a
decisão de sua vida.
O nosso personagem entrou no banheiro seguido pelos olhares
inquisidores dos garçons. As mesas continuavam a serem servidas e o homem não
saía do banheiro. Os garçons já estavam com os dois pés atrás diante daquela
situação, mas não podiam tomar conclusões precipitadas. Era a política do
restaurante. E qualquer passo em falso lhes custaria o emprego.
A loira já estava sozinha na mesa há meia hora. E foi ela
quem pediu para que procurassem pelo seu namorado:
— Eu não posso entrar no banheiro masculino, né! — ela
dissera.
Os dois garçons muito prestativos com a loira de belos atributos,
entraram no banheiro. Os reservados foram abertos um por um... um por um... um
por um...
— Me tirem daqui!
As únicas coisas que os garçons enxergaram foram duas pernas
penduradas na janela; o resto do corpo já estava do lado de fora do
restaurante.
— Me tirem daqui! Eu prometo lavar os pratos! Só não contem
pra minha fofura!
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