“Sexo é lindo”, um amigo sobre sexo.
“Não é porque eu quero só sexo que eu sou uma vadia”, uma
amiga sobre sexo.
“Você está ficando inconveniente. Você só fala sobre sexo”,
outro amigo sobre mim para mim.
“Amor é novela, sexo é cinema”, Rita Lee sobre sexo.
“Eu não vou no cinema hoje, não. É que eu quero assistir
novela”, eu na segunda-feira.
“Que se dane a novela! Eu vou no cinema”, eu no sábado.
Se você não nasceu na horta de alface nem foi trazido pela
cegonha, você nasceu a partir de uma relação sexual. Só por esse detalhe já me
é estranho pensar porque o sexo é um tabu pra tanta gente. Sim, para algumas
pessoas o sexo não é algo para ser discutido num churrasco em família. Política
e eutanásia são até aceitáveis, mas sexo não! E apesar disso, viemos do sexo.
Acho que falar de sexo não é uma coisa agradável porque
fazer isso é colocar limão e sal na ferida aberta. Sem sombra de dúvida, quase
todas as discussões sobre sexo envolverão, além de outras coisas, religião, e
as opiniões religiosas são defendidas mais fervorosamente que as opiniões
futebolísticas.
— O sexo serve só para procriação. Não para o prazer. Prazer
é coisa do diabo!
Falar de sexo também nos obriga a relembrar de um dos
momentos em que estamos mais vulneráveis. Durante a prática sexual você
talvez não se sinta frágil, mas colocar isso na mesa redonda é outra coisa. Não
queremos expor nossas fraquezas nem nossas bizarrices pra todo mundo. Digo isso
partindo do princípio de que até quem se gaba de se sair bem na cama tem momentos
de fragilidade, e até aquela sua tia solteirona que anda de saia e vai à igreja
todo domingo tem um fetiche de deixar seu queixo caído.
Tenho essa teoria porque eu já ouvi muito sobre sexo. Desde
que eu me entendo por ser pensante, eu reflito — horas e horas — sobre isso.
Quando eu era criança, meus ouvidos eram tampados para que eu não ouvisse
certas coisas. Acho que isso atiçou ainda mais minha imaginação e curiosidade.
Aos onze anos, tive uma aula sobre os significados de vários termos chulos. Como
essa aula foi essencial! E na adolescência... ah, na adolescência!
Minhas ideias sobre sexo, assim como sobre diversos
assuntos, eram conflitantes e eu comecei a me interessar pela opinião dos
outros. Então, passei a questionar todo mundo sobre sexo. Antes eu preferia conversar
com pessoas que eu não gostava: a ideia de que pessoas que eu amava tinham um
lado sexual não entrava na minha cabeça. Hoje eu já consigo admitir que todos
são sujeitos sexuais, mesmo sendo “virgens”.
E a partir dessas conversas e de muita pesquisa em livros e,
principalmente, na internet — mais conhecida como “terra de ninguém” —, eu
formulei a teoria de que todos temos fraquezas e bizarrices quando o assunto é
sexo.
O sexo pode nos deixar fracos porque estamos despidos
literalmente. Estamos sem a nossa segunda pele e estamos expondo todas as
nossas vergonhas para outro alguém também cheio de vergonhas. E cada um está
disposto a dar prazer para o outro, mas continua armado de todos os seus
preconceitos e medos construídos durante toda a vida. Ou não! Talvez pra você o
sexo seja algo simples, sem sentimentos, completamente corporal. Mas eu duvido
que você permanecerá inabalável se a sua companhia questionar as suas
capacidades ou as suas medidas anatômicas:
— Só isso?
— Você tava usando enchimento?
— Ai, o que é isso?
— Que cicatriz estranha!
— Sempre me disseram que era proporcional ao tamanho do
nariz. Vejo que não é verdade.
Além das fraquezas, que é algo tão pessoal, temos nossas
esquisitices. Tenho por mim que é por essas esquisitices que poucas pessoas
admitem assistir algum filme pornô acompanhado: o que te excita talvez seja
algo que provoque vômitos em mim. E quantos fetiches existem! Numa rápida
pesquisa pela internet você encontra textos, fotos e vídeos de uma infinidade
de modalidades sexuais que você sempre pensou serem fisicamente impossíveis. E
tem que gente que a-do-ra! Deixe o preconceito de lado e procure algumas
coisas. Talvez você perceba que não é o único que gosta disso ou daquilo.
Falar sobre experiências sexuais também é admitir que você faz sexo, e isso nem sempre é tão fácil.
Já presenciei alguns poucos casos de vídeos caseiros de pessoas conhecidas
fazendo sexo que vazaram para a internet. As pessoas ficaram mal faladas na
cidade e tiveram suas vidas discutidas em todas as rodas de conversa. Por quê?
Por que eles fizeram sexo? E você não faz, nunca fez ou nunca pensou em fazer?
Ou seja, essas pessoas são escorraçadas por fazerem uma coisa que todo mundo
faz. A única diferença é que eles gravaram. São moderninhos!
Nesses meus anos de pesquisa de campo também percebi o
quanto ainda somos pessoas limitadas. Sim, todos nós impomos limitações a nós
mesmos: heterossexuais, homossexuais ou bissexuais. Quando nos definimos dessa
maneira acho que estamos perdendo uma grande parcela do que o sexo pode nos
oferecer: é um corredor cheio de portas e nós escolhemos apenas uma para
entrar?
Ficamos constrangidos quando estamos na sala com a família e
de repente começa uma cena erótica na novela; ao mesmo tempo que ficamos
excitados (em outro sentido) quando assistimos a uma cena de luta. Ficamos
animados com a violência e envergonhados com o sexo: o mesmo sexo que fez com
que você fosse concebido? É isso?
Penso que a finalidade desse texto seja plantar uma sementinha
(sempre a sementinha!) na cabeça de cada leitor. Pensar sobre sexo, amor,
violência, religião, vergonha. É bom parar um pouco e pensar de onde vem todas
essas ideias que estão nas nossas mente: Por que fazer sexo assim? Posso fazer
desse outro jeito? Se não posso, quem me disse isso? Quando me disseram isso?
Por que eu tenho vergonha disso? Por que a religião quer assim e assado? O que
é amor e o que é sexo? “Por que precisamos nos esconder para fazer amor,
enquanto a violência é praticada em plena luz do dia?”.
Se quiser falar sobre sexo comigo, eu estarei de pernas
orelhas abertas. Depois que uma pessoa me disse que tinha feito sexo com um
extraterrestre e outra me perguntou se é possível engravidar pela boca eu
acho que eu não me surpreendo com mais nada.
Obrigado pela atenção.