Era o grande dia.
As emissoras de rádio da cidade não paravam de falar do show
do ano. Era a primeira vez que o grande ídolo brasileiro fazia uma aparição por
aquelas bandas do país e milhares de adolescentes histéricas se aglomeravam do
lado de fora do parque onde aconteceria a aparição.
Faixas amarradas na testa, camisetas estampadas com o rosto
do astro e ursos de pelúcia sendo preparados para serem arremessados pra cima
do palco. Era o grande dia.
Uma moça com trinta anos incompletos tinha preferido ir para
o hotel três estrelas — o melhor da pequena cidade — onde o cantor ficaria
hospedado. Um pôster, um caderninho para autógrafos e sua Cybershot rosa
completavam seu kit tiete.
Os assessores tinham prometido às primeiras fãs que ali
chegassem uma visita ao quarto do cantor para alguns momentos de felicidade ao
lado dele. A moça era a primeira da fila. Quantos sacrifícios ela não fazia por
quem amava!
Um segurança de terno preto apareceu na porta do hotel
levando as fãs à loucura. Agarrou a mão da moça e já não existiam obstáculos
entre ela e o cantor. Era agora. Ela tinha ensaiado tudo que era pra ser dito num
momento como aquele.
— Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaah! EU TE AMO! — Ela se agarrou no
pescoço do cantor. — Sempre quis te conhecer. Me dá um autógrafo?
— Claro! Qual é seu nome?
— Luiza.
— Lu-i-za! Um-bei-jo! Pronto. Aqui seu caderninho. Quer tirar
uma foto? — ele perguntou quando viu a câmera na mão dela.
— Sim, sim! Vem cá. — Puxou ele pelo pescoço, encostaram
bochecha com bochecha e o flash cegou
o ídolo.
— Aqui, Luiza! Vou te dar um CD de presente. Autografado.
— Aaaah! Eu adoro seu CD. Já ouvi todas as músicas.
— Mesmo? E qual é a música que você mais gosta?
Silêncio.
— É... Aquela que fala assim: ♪ Não vou mais te enganar: eu não sou o homem que você tanto sonhou ♪
— Você... Você tem certeza que a letra é assim, mesmo?
— Sim, sim. ♪ Se é
certo ou errado pago as consequências. Posso ser julgada por um pecado de amor
♪
O cantor riu sem graça.
— Luiza, eu nunca gravei essa música.
— Claro que gravou, Bruno?
— Não, meu nome não é Bruno. Eu sou o Luan Santana.
— Quem?
— Luan Santana. ♪ Te
dei o sol, te dei o mar pra ganhar seu coração. Você é raio de saudade, meteoro
da paixão ♪
— Luan e Santana? Não conheço. Eu achei que você fosse o
Bruno Dias.
— Não, não sou — Luan Santana respondeu enquanto tirava o CD
autografado das mãos da moça.
— Olha, eu vou te contar a verdade, então. Eu só estou aqui
por causa da minha sobrinha. Ela é que chama Luiza. Meu nome é Rose. Eu só vim
pegar um autógrafo pra ela porque ela tá internada e nem vai poder ir no show,
coitada.
— Mesmo? Nossa, Rose, que chato! Pode ficar com o CD, então.
E mande um beijo pra Luiza.
— Não, eu não quero CD nenhum! Ela também pensou que você
fosse o Bruno Dias. Nem sei quem é Luan e Santana! Mas eu vou contar pra ela
que eu conversei com você. A propósito, você é o Luan ou o Santana?