Dessa
vez, eu não aguentei ficar calado.
Pela
internet, eu acompanho a repercussão da morte de um menino de 18 anos,
homossexual assumido, brutalmente assassinado em Inhuma, cidade do interior de
Goiás. Um recado com a mensagem “vamos acabar com essa praga” foi encontrado na
boca do rapaz e a polícia diz ser um POSSÍVEL caso de homofobia (http://migre.me/lApM7). Ao mesmo tempo, pela televisão, eu acompanhei
as notícias sobre o incêndio criminoso no Centro de Tradições Gaúchas em Santana
do Livramento, Rio Grande do Sul, motivado pela realização de um casamento
comunitário que incluiria um casal lésbico na celebração (http://migre.me/lApMK). Muita indignação e comoção nas redes
sociais. E com razão!
A
homofobia no Brasil não é crime e os gays ainda são acusados de
sensacionalismo. Os crimes homofóbicos são tratados como crimes comuns,
enquanto o número de morte dos LGBT só aumenta (Quem a homotransfobia matou
hoje? - http://homofobiamata.wordpress.com/). As
estatísticas nos saltam aos olhos, ao mesmo tempo em que somos colocados como
uma MINORIA de rebeldes promíscuos lutando contra a família.
Os
anos de opressão, os casos de violência, os assassinatos: tudo isso mete medo,
faz a gente engolir seco. E esse medo, que nos relega aos guetos e aos becos
escuros, nos faz ficar em silêncio e compactuar com um monte de argumentos
homofóbicos, como o “eles podem fazer o que quiser, mas não na minha frente”. Esse
é o objetivo desse texto.
Restringir
a vivência da minha sexualidade às quatro paredes do meu quarto é como se eu
desse razão ao indivíduo que diz “meus filhos não estão preparados pra ver
isso”. Eu sei que não é fácil, não é simples — a
família, os amigos podem colocar uma infinidade de obstáculos (cada um sabe das
suas condições) —, mas é extremamente importante ter consciência do valor de
sair do armário. Não para darmos satisfações da nossa vida sexual ao público,
mas no sentido de dizer: eu não concordo com você!
Pode parecer implicância, mas algumas simples
ações se tornam atos políticos. Dar um beijo em público, caminhar de mãos dadas
pelo shopping, marcar relacionamento sério no Facebook com um rapaz é um gesto
carinhoso, mas também uma resposta aos meus colegas de escola que me trataram
por “boiola” e “bicha” como se eu tivesse alguma doença; é uma resposta a um
homem que me jogou uma lata pela janela do carro me chamando de “veadinho”; é
uma resposta a um rapaz que, no ano passado, ameaçou me agredir depois de me dizer
que eu não merecia respeito por ser gay. É dizer que, por mais que eles se
sintam incomodados com a minha presença, eu continuarei vivendo a minha vida.
Ser gay apenas dentro de quatro paredes (do
quarto ou das boates escuras) é dizer que, sim, seus filhos não estão
preparados pra lidar com isso, vou continuar escondido nas sombras, e levar uma
vida dupla, sendo o heterossexual que todos querem que eu seja. Viver uma vida
dupla (assim como o Cláudio, personagem do José Mayer na novela “Império”) me
transformaria num sujeito fragmentado. Não ter medo de expor a minha
sexualidade é um ato significativo para mostrar que nós também devemos ter os
mesmos direitos dos casais heterossexuais. É ser capaz de me posicionar de
maneira MADURA e CONSCIENTE e poder combater cada um desses pequenos atos de
homofobia (às vezes, em formato de piadas “inocentes”). É mostrar que não somos
uma minoria qualquer que luta por privilégios, mas por cidadania.
Acho que esses pequenos atos de resistência,
esses atos de “eu não concordo!”, são apenas o início do combate. É NÃO TER
MEDO e escancarar a violência diária que sofremos. Combate à impunidade em
favor da proteção à minha cidadania. E a minha vida. E a vida dos meus amigos,
do meu namorado, dos meus conhecidos e dos desconhecidos.