sexta-feira, 7 de maio de 2010

O Coaxar Assassino


Meu nome é Flávio e eu quero dar o meu testemunho. Testemunho talvez seja formal demais, ou talvez todos estejam pensando que eu vou falar sobre algum vício, algum defeito ou... sei lá! Mas não sei qual outra palavra usar: testemunho, depoimento. O que preferir!


O que interessa é a minha história com o sapo. Não foi fácil procurar essa imagem no Google. Não por ser difícil de encontrar, mas pelo horror de ver vários sapos na tela do meu computador.

A história aconteceu quando eu morava na fazenda e levava uma vida normal. Uma pacata vida na zona rural da minha cidade.

Eu tinha vários amigos e gostávamos de fazer qualquer coisa. Qualquer coisa, que, de preferência, envolvesse perigos. Às vezes, não de morte, mas de pelo menos levar uma surra quando eu chegasse em casa.

Havia vários sapos naquela região e, às vezes, gostávamos de fazer umas experiências com animais.

Vocês nem imaginam o quanto eu estou arrepiado de estar lembrando daquilo.

Queríamos enterrar um sapo. Isso! Um sapo. Parecia tão inocente enterrar um único sapo. Um mísero sapo. Parecia inocente. Nós, inocentes, enterramos o sapo. Digo "enterramos" para diminuir minha culpa. Porque eu enterrei sozinho.

Esperaríamos até o dia seguinte para ver em que aquilo ia dar.

Mas naquela noite eu nem sabia se o dia seguinte existiria pra mim.

Ouvi batidas na janela do meu quarto. A janela era de madeira e as batidas eram leves. Eu achei que fosse o vento, ou um galho qualquer. Mas não havia vento, não havia galho.

As batidas continuavam.

Eu não tive coragem de ir abrir a janela. Ela se abriu sozinha. Eu achei que fosse sozinha.

Um sapo estava no umbral, coaxando de um modo assassino. Sim. Um coaxar assassino. Não sei descrever algo dessa espécie, mas, pelo seu timbre, eu pude reconhecer suas intenções.

Seus olhos vermelhos, sua pele áspera, seu todo assustador.

Eu tentei gritar, mas o grito estava preso na minha garganta. Comecei a me debater na cama, enquanto o sapo dava pulos em minha direção. Esbarrei num abajur, bati meu pé na porta, a cama estava quase desmontando, o sapo quase em cima de mim; eu sabia que era meu fim.

Meu pai abriu a porta e acendeu a lâmpada do meu quarto na fazenda.

Eu senti o ar voltando aos meus pulmões. Minha boca estava seca.

E o sapo...

Não estava mais ali. Tinha desaparecido.

Não sei se ele apareceu nas noites seguintes. Mudei-me pra cidade no dia seguinte. E durmo com as janelas trancadas. Estou bem melhor depois de um ano, mas ainda olho para janela esperando ouvir o coaxar assassino.

Um comentário:

giulia s. farias disse...

SAUDHAIUSDHUI eu gostei, foi criativo!