O grande dia chegou. Era a hora da Seleção Brasileira enfrentar os africanos da Costa do Marfim. Os médicos de plantão e os funcionários do hospital estavam reunidos na frente da televisão de 52’ que fica na recepção.
E apita o árbitro.
A bola rola e os funcionários do hospital vão a loucura. Todo mundo ansioso para o resultado do bolão.
— É isso aí! Não tem pra ninguém! — um faxineiro gritava.
— O que é isso — gritou o anestesista. — O bolão já é meu.
A ambulância aparece com sua sirene aguda, estrondando o hospital. O motorista entra na recepção.
— Você sabia que é proibido fazer isso? — a recepcionista gritou para o motorista. — Você não pode ligar a sirene só porque está com pressa pra assistir um jogo. Que feio!
Todos riem.
— Não era à toa. Tem uma grávida dentro da ambulância.
Os médicos ficam alvoroçados.
— Não dá pra esperar? — pergunta o obstetra.
— O bebê já tá saindo! Daqui a pouco ele nasce dentro da ambulância.
Um monte de gente sai. A grávida grita com as dores das contrações.
— Me ajuda! — ela gritava. — Me ajuda! Meu filho vai nascer.
— Nossa! Mas que hora pra entrar em trabalho de parto — grita o anestesista. — Não dá pra esperar até o Show do Intervalo?
A mulher fica sentada na maca e agarra o colarinho do anestesista.
— Meu filho já tá saindo! Daqui a pouco vai dar pra ver a cabeça do menino.
— Ah! Ainda bem — disse o anestesista. — Já que é parto normal, eu não preciso trabalhar. — Vira-se pra televisão. — Vamo lá, Brasil! Tô esperando o 2 a zero.
Continua a balbúrdia na recepção.
— Ah! Meu filho tá nascendo! Me ajuda.
— Tudo bem — diz o obstetra. — Vamos fazer o parto. Onde está seu acompanhante?
— É o pai da criança — a mulher disse. — Ele está aqui… Ué, cadê meu marido? RICARDO!
Ricardo tá roendo as unhas, olhando pra tela da televisão enquanto aposta no bolão do hospital.
— RICARDO! SEU FILHO TÁ NASCENDO, SEU IDIOTA!
Ele vai correndo para o lado da maca:
— Calma, querida! Eu tô aqui.
— O menino tá chutando!
— Vai ser jogador! — o pai grita, rindo.
— Para de piada.
— Só falei pra descontrair! Calma, querida.
— Calma é o caramba. Tá doendo.
O médico e seus assistentes se preparam. A mulher, o marido e a equipe estão preparados para o parto. Em seus lugares.
— Doutor — o marido pergunta, — será que não dá pra trazer uma televisãozinha aqui pr’o quarto?
O médico olha fundo nos olhos dele.
— Traz a televisão.
Conseguem assistir ao primeiro gol. Show do intervalo. A mulher ainda grita com as contrações.
Segundo tempo. E a Costa do Marfim vem pra cima.
— Vai, vai! — Ricardo gritava.
— É o máximo que eu posso — a mulher grita com muito esforço. Está roxa de tanta dor.
— Eu tô falando é com o Luís Fabiano.
Dois a zero. O anestesista grita.
Três a zero. Costa do Marfim marca um gol e Ricardo comemora.
— Comemorando o gol do adversário?
— O bolão! O bolão!
A mulher grita, grita e grita com mais força quando Kaká é expulso. O menino nasce com um choro.
— Tá chorando de alegria, meu filhão! Três a um. O papai ganhou o bolão, meu filho.
Agora, o anestesista fica reclamando:
— O bolão tinha que ser só pra funcionários do hospital.
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