domingo, 20 de junho de 2010

O bolão no hospital


O grande dia chegou. Era a hora da Seleção Brasileira enfrentar os africanos da Costa do Marfim. Os médicos de plantão e os funcionários do hospital estavam reunidos na frente da televisão de 52’ que fica na recepção.


E apita o árbitro.

A bola rola e os funcionários do hospital vão a loucura. Todo mundo ansioso para o resultado do bolão.

— É isso aí! Não tem pra ninguém! — um faxineiro gritava.

— O que é isso — gritou o anestesista. — O bolão já é meu.

A ambulância aparece com sua sirene aguda, estrondando o hospital. O motorista entra na recepção.

— Você sabia que é proibido fazer isso? — a recepcionista gritou para o motorista. — Você não pode ligar a sirene só porque está com pressa pra assistir um jogo. Que feio!

Todos riem.

— Não era à toa. Tem uma grávida dentro da ambulância.

Os médicos ficam alvoroçados.

— Não dá pra esperar? — pergunta o obstetra.

— O bebê já tá saindo! Daqui a pouco ele nasce dentro da ambulância.

Um monte de gente sai. A grávida grita com as dores das contrações.

— Me ajuda! — ela gritava. — Me ajuda! Meu filho vai nascer.

— Nossa! Mas que hora pra entrar em trabalho de parto — grita o anestesista. — Não dá pra esperar até o Show do Intervalo?

A mulher fica sentada na maca e agarra o colarinho do anestesista.

— Meu filho já tá saindo! Daqui a pouco vai dar pra ver a cabeça do menino.

— Ah! Ainda bem — disse o anestesista. — Já que é parto normal, eu não preciso trabalhar. — Vira-se pra televisão. — Vamo lá, Brasil! Tô esperando o 2 a zero.

Continua a balbúrdia na recepção.

— Ah! Meu filho tá nascendo! Me ajuda.

— Tudo bem — diz o obstetra. — Vamos fazer o parto. Onde está seu acompanhante?

— É o pai da criança — a mulher disse. — Ele está aqui… Ué, cadê meu marido? RICARDO!
Ricardo tá roendo as unhas, olhando pra tela da televisão enquanto aposta no bolão do hospital.

— RICARDO! SEU FILHO TÁ NASCENDO, SEU IDIOTA!

Ele vai correndo para o lado da maca:

— Calma, querida! Eu tô aqui.

— O menino tá chutando!

— Vai ser jogador! — o pai grita, rindo.

— Para de piada.

— Só falei pra descontrair! Calma, querida.

— Calma é o caramba. Tá doendo.

O médico e seus assistentes se preparam. A mulher, o marido e a equipe estão preparados para o parto. Em seus lugares.

— Doutor — o marido pergunta, — será que não dá pra trazer uma televisãozinha aqui pr’o quarto?

O médico olha fundo nos olhos dele.

— Traz a televisão.

Conseguem assistir ao primeiro gol. Show do intervalo. A mulher ainda grita com as contrações.

Segundo tempo. E a Costa do Marfim vem pra cima.

— Vai, vai! — Ricardo gritava.

— É o máximo que eu posso — a mulher grita com muito esforço. Está roxa de tanta dor.

— Eu tô falando é com o Luís Fabiano.

Dois a zero. O anestesista grita.

Três a zero. Costa do Marfim marca um gol e Ricardo comemora.

— Comemorando o gol do adversário?

— O bolão! O bolão!

A mulher grita, grita e grita com mais força quando Kaká é expulso. O menino nasce com um choro.

— Tá chorando de alegria, meu filhão! Três a um. O papai ganhou o bolão, meu filho.

Agora, o anestesista fica reclamando:

— O bolão tinha que ser só pra funcionários do hospital.

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