quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Minha vida por um fio

Como todos os dias da minha vida, fui para a escola. A rotina incessante que todas as crianças e adolescentes tem de aguentar por anos e anos a fio.

Foi um dia cheio. Importante. Tinha prova, trabalho, visita ao laboratório e matérias importantes pra eu conseguir passar de ano. Curti os meus amigos e ri muito. Um pouco mais tarde eu me arrependi de não ter mais ainda esses momentos felizes.

Meu pescoço doía quando acabou a aula. Entrei no ônibus. A minha cidade não é a maior de todas, então, são só uns dez minutos da escola até o ponto perto da minha casa.

Da janela do ônibus eu já observava um grupo muito grande de estudantes. Não dava pra reconhecê-los direito: usavam capuzes, blusas de frio muito grossas e o tempo nublado deixava o dia mais escuro. A única coisa que eu pude perceber foi que o grupo era composto por uma maioria feminina.

Desci do ônibus e segui meu caminho.

Com o canto do olho eu percebi que, quando eu pisei fora do ônibus, quatro garotos levantaram. Não era a primeira vez que eu estava sendo seguido, mas, como nas outras vezes, meu coração quase saiu pela boca.

Continuei andando, tentando enxergar os garotos atrás de mim. Eu já os conhecia. Agora, de frente e de perto, eu podia distingui-los. Fiquei com raiva.

Eu não sei o que me dá! Quando eu conheço o cara que tá tentando alguma coisa contra mim, me dá mais raiva do que medo.

Continuava a caminhada. Afinal, tudo podia ser coisa da minha cabeça. Imaginação, medo, trauma! Mas, na próxima ação do garoto menor, eu senti que o negócio ia pesar.

Era uma arma. Uma coisa nada discreta que ele conseguia esconder debaixo daquele blusão verde musgo. Não sei direito, pois foi muito rápido, mas eu acho que o garoto de trás riu antes do menorzinho disparar o tiro.

O primeiro acertou a minha mochila. Quando eu pensei em correr, houve uma saraivada de tiros que me acertaram em cheio. Eu caí no chão e os tiros não paravam.

Foi uma das piores sensações. Era um fogo que me queimava o peito, as pernas e os braços; os olhos embaçados; os pulmões que não trabalhavam direito; o clamor pelo ar. Tentei pedir socorro, mas o ar não entrava; minha voz não saía.

Enquanto a dor me calcinava, meu coração ainda tinha a raiva antes sentida.

— Eu não acredito que esse desgraçado me matou! — eu fui capaz de pensar.

Eu ainda senti a ponta dos meus dedos dos pés e das mãos se mexerem...

Num sobressalto, num susto de sentir o oxigênio novamente em meus pulmões, eu acordei. Estava deitado na minha cama, debaixo do meu cobertor, com todos os músculos tensos. Foi o meu pior pesadelo; e o mais real. Depois disso, eu vejo o quanto a minha vida é curta e preciosa.

Um comentário:

Ғelipe Eller disse...

Me assustou, rs. Que bom que foi um pesadelo.