domingo, 14 de novembro de 2010

Saindo da rotina

Esses dias atrás eu estava pensando sobre os programas que eu fazia com minha família quando eu era criança. Assim, quando somos crianças nós somos obrigados a andar com nossos pais, mas nós nem nos sentíamos obrigados porque era muito divertido. Hoje ainda são divertidos alguns programas em família, entretanto a inocência e a curiosidade da infância fazem com que a gente aproveite mais.

Enquanto eu pensava, lembrei-me de um programa que era o top dos anos 90 na minha cidade: ir pra beira do rio. A gente falava que ia pro “corgo” (tradução: córrego).

Eu acho que todo mundo que tem mais ou menos a minha idade já foi pro “corgo”. Era, literalmente, um programa de índio. Socar no meio do mato pra comer, nadar e beber.

Primeiro, eu e meus primos ficávamos doidos de ansiedade. Nem dormíamos na noite anterior. A gente acordava às cinco horas da manhã e ia pra cama dos nossos pais gritar:

— Já tá na hora! Já tá na hora!

Depois, a gente enfiava umas dez pessoas dentro de um carro. Não era toda a família que tinha carro, então ia todo mundo amontoado em duas longas viagens até o meio do nada.

A gente chegava muito cedo, a água ainda tava fria. Então, a gente não nadava de imediato. Ficávamos de chinelos, com os pés na água; depois, a gente se sentava na água; depois a gente pulava no rio; depois precisava de adulto pra socorrer alguma das crianças que tinha se afastado e tava se afogando lá longe.

Outra característica do lugar eram as pedras. Eu tenho os pés muito fracos. Eu tinha que andar sempre de chinelo, enquanto meus primos corriam naquelas pedras que quase cortavam o meu pé. Já teve momentos que eu tinha que nadar de chinelo. Nossa!

Aí, era a hora do almoço. Pois é! A gente juntava uns tijolos, colocava carvão, uma grelha e fazia de fogão. As panelas eram as mais velhas pra não jogar coisa nova fora, né. Era arroz, feijão e um pedaço de carne feito na churrasqueira mais na frente. As crianças de sunga e biquíni (não necessariamente ambos) enroladas numa toalha, com o nariz escorrendo, comendo num prato esmaltado e bebendo um refrigerante morno.

Nossas mães não deixavam que nós entrássemos no rio depois do almoço. Depois de quinze minutos a gente já perguntava se podia entrar.

— Não!

Depois de meia hora.

— Não!

Depois de trinta e cinco minutos e muita insistência, a gente entrava no rio. No final do dia, nós estávamos gelados, com os dedos enrugados, tremendo, com uma toalha enrolada nas costas. Mas felizes como pintos no lixo.

Hoje em dia, a moda do Triângulo Mineiro é ir à represa. Eu não gosto muito. Muitas pessoas não gostam. Mas a gente gostava de ir pro “corgo”. Então, a gente gosta de recordar os tempos da infância; do tempo que éramos simples, inocentes e humildes. Muito bom!

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