sábado, 30 de julho de 2011

Saudade

Algumas pessoas deixaram um pedaço de si comigo. E eu guardo num lugar especial.


Mas a sensação mais forte é a de que eles levaram um pedaço de mim. É uma dor tão forte e um vazio dentro do meu peito. Posso dizer que eu sei muito bem o que é esse vazio. Acho que nunca vou me acostumar com ele.

E esse estranhamento vem acompanhado de alguma coisa prendendo minha respiração. Eu ando sem rumo levando só uma pessoa no pensamento.

Você está levando um pedaço meu, mas eu não me importo. Sei que será bem cuidado. Obrigado por fazer parte dos melhores momentos da minha vida. Ah, e espero que dê gargalhadas quando se lembrar de mim.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Reconciliação

Ai, gente! Como é que eu faço com 'uns trem' desse?

Fazendo o que eu faço de melhor - assistir televisão - eu vi a um comercial super fofo que me arrepiou todos os pelos atrás da orelha. Fui correndo procurar no YouTube e fico arrepiado todas as vezes que eu assisto.

É uma coisa linda demais esse comercial do Sedex. Chama-se "Reconciliação". Eu não vou explicar nada. É só assistir e ver o quanto coisas tão simples podem nos emocionar, né.

Beijo... e espero que gostem.


terça-feira, 26 de julho de 2011

Vida [2]


"A vida é o interminável ensaio de uma peça que nunca se realizará."

Le fabuleux destin d'Amélie Poulain

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Por que?


O encontro foi marcado para o fim da tarde na praça de alimentação do shopping. Ele chegou mais cedo. Estava de blusa com listras vermelhas e pretas, calça jeans e um tênis branco.
Olhava para os lados. Detestava ser o primeiro a chegar aos lugares e ficar esperando durante muito tempo. Mas ele tinha dito pra si mesmo: ouviria sua ex-namorada pela última vez.

“Não é uma última esperança que eu estou dando. Eu estou dando é uma última chance de ela dizer o que quer me dizer. Depois... nunca mais.”

Ela e toda a sua performance conhecida foram notados de longe: minissaia, blusa rosa, bolsa, cabelo loiro, salto alto e um rebolado todo ensaiado.

“Já me arrependi.”

Ela sentou-se em frente ao ex-namorado, colocou a bolsa sobre a mesa e mostrou a sua cara de indignação que tinha sido ensaiada durante muitas horas de frente ao espelho.

— E... então? — ele começou.

— Que bom que você quebrou o gelo. — Pausa. — Você é um patife!

— Como?

— Sei lá o que é patife! Só sei que você é um.

— Ótimo!

— Você... você... é mesquinho, tá! Mes-qui-nho! Tá me ouvindo?

— Todos aqui no shopping estão te ouvindo. Só se eu fosse surdo pra não ouvir. Será que não dá pra você falar mais baixo?

— Não se faça de vítima, tá! Porque sou eu quem está sofrendo com... com... toda essa situação.

— Ai, meu Pai! Será que você pode falar logo o que você quer dizer?

Ela secou as lágrimas com o dedo mínimo pra não manchar a maquiagem.

— Eu posso saber... o motivo por você ter me dado unfollow no Twitter?

— Hã?

— Não se faça de desentendido! Você sabe muito bem do que eu estou falando, tá?

Ele escorou a testa na mão suada.

— Ontem eu estava com 873 followers. Hoje, só estava com 870. Fui procurar pelos idiotas que tinham me dado unfollow e descobri que você era um deles.

— Você é maluca!

— Me fala logo o que tá acontecendo! Tem outra piriguete no meio?

— Eu não acredito que eu vim até aqui pra ouvir essa baboseira...

— Ca-la-do! Eu quero uma explicação! A-GO-RA! Eu esperava essa atitude infantil de qualquer imbecil, menos de você. Quer dizer, agora VOCÊ se encaixa na categoria de imbecil.

Ele já estava longe.

— EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ ME DEIXOU FALANDO SOZINHA DE NOVO. VOLTA AQUI! A-GO-RA!

sábado, 23 de julho de 2011

Caçadores de Aventuras

[baseado em fatos reais]


— Que maravilha! Estamos perdidos.

— Me diga onde está a maravilha disso.

Tudo tinha começado quando decidiram fazer uma coisa que não faziam desde criança: caçar aventuras. Muitos anos atrás, eram dois garotos de 8 anos que gostavam de andar no meio do mato, inventando histórias e tesouros: os caçadores de aventuras.

Hoje, dois adolescentes crescidos resolveram relembrar os antigos tempos de criança, equipados de garrafinhas d’água, uma máquina fotográfica e uma bússola.

— Eu me lembro de ter passado por aqui antes. Tinha esses bambus jogados no chão.

— Isso ajuda muito.

— Nossa! Aonde tá o seu senso de humor?

— Perdi em algum lugar dessa mata!

Quando estamos perdidos, os primeiros minutos são engraçados. Nos minutos seguintes, percebemos a seriedade da situação. Depois, ficamos estressados com a nossa burrice e brigamos um com o outro. No fim, ficamos apavorados e qualquer inimizade fica esquecida.

Para a nossa dupla, só faltava o último estágio.

— Olha! Ali tem uma placa.

Correram para a placa escrita: “PASSAGEM PROIBIDA. ANIMAIS SELVAGENS”. E um desenho.

— Do que ‘cê tá rindo?

— De como vai ser engraçado contar essa história lá na escola.

— Ria para a morte, querido!

— Que coisa horrível de se pensar! Você não está vendo? São só veadinhos!

— Animais selvagens! Devem ser onças, cobras e... coisas horrorosas.

— Credo!

Um barulho num arbusto.

— AAAAAAAAAHHHHHH!

Os dois nem perceberam que estavam abraçados.

— EU QUERO MINHA MÃE!

— Só não faça xixi no meu pé.

O barulho no arbusto continuava. Mais rápido. Mais forte. Uma capivara sai de trás do mato.

— Viu? Capivaras também são selvagens!

Você também é um selvagem. — Pausa. — Peraí! A gente tem a bússola. — Tira a bússola do bolso. — Ela sempre aponta para o norte, né?

— Na verdade, eu não sei se essa aí aponta pro norte. Ela veio de brinde numa mochila que eu comprei.

— Não importa. A gente precisa encontrar o caminho de casa. Vamos pensar: o sol está se pondo naquele lado. O oeste, então. Pra lá é o leste. A gente saiu em que direção?

— Na direção do rio.

— Eu tô perguntando... Ah, não interessa. Deixa eu pensar! Eu acho que a gente saiu para o oeste. Então, se a gente seguir para o leste... a gente chega na chácara.

— Não sei se isso dá certo.

— Claro que dá.

Foram pelo leste. Ou pelo que eles achavam ser. Cinco minutos depois:

— Um milharal?

— A gente tem que passar no meio do milharal, senão a gente perde a direção.

— Não é isso. — Pausa para pensar. — Eu conheço esse milharal. E eu conheço aquele espantalho.

Uns passos para a esquerda e uma cerca... A chácara.

— E agora, do que ‘cê tá rindo?

— De como essa história vai ser ainda mais engraçada agora.

— Não. Você não vai contar essa história na escola mesmo.

— Claro que vou. Você urinando nas calças e pagando uma de Indiana Jones vão ser as atrações de segunda-feira.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Eu


— É muita bondade sua. Eu não mereço tantos elogios!

— Elogios? Mas eu não falei nada.

— Ah, não fique acanhada. Mas eu concordo com você. Eu sou realmente muito carismático. Eu emano esse ar de confiança, sabe? É natural! Eu não faço nenhum esforço. Nasci assim.

— Sei.

— Na verdade, eu acho que todos nascemos com isso, mas são poucos os escolhidos, poucos os que sabem usar isso a seu favor. E eu sou um eleito. Essa minha aura de simpatia me atrai muitas coisas boas. Eu sei que todos me acham bonito, mas... beleza não é fundamental, não é mesmo? Deve haver conteúdo.

— Claro! Deve haver conteúdo!

— Que bom que você concorda comigo. Isso me faz lembrar quando eu era apenas um garoto estranho na escola e sofria bullying. Você acredita que eu sofri bullying na escola? Ninguém acredita quando eu digo. Eles dizem: “Um homem tão charmoso, inteligente, elegante sendo humilhado por outros garotos na escola... Você está mentindo!” Pois eu digo que sim! Eu era muito ingênuo e só recentemente soube usar o meu carisma de uma forma positiva.

— Ô!

— Hoje em dia, penso que aqueles meninos eram inferiores a mim. Algumas pessoas me acham metido, mas eu só sou confiante. Eu acredito na minha capacidade, na minha astúcia e em todo o meu... meu... carisma. É! Não existe um sinônimo para isso. O carisma é uma graça divina. E Deus me escolheu.

— Oh, meu Pai!

— Vejo que você está se divertindo com esse breve histórico da minha vida...

— Ô!

— ...mas vamos falar de você! E, então... o que você acha de mim?

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Caça-Palavras Psicológico

Gente, olha que legal! Eu encontrei esse Caça-Palavras na Twitpic de alguém, mas tem tanto tempo que eu nem lembro de quem.

Pois é! O negócio é assim, a gente tem que procurar palavras pelo Caça-Palavras e as três primeiras palavras encontradas vão nos descrever. [Quantas palavras!]

As primeiras palavras que eu encontrei foram Inveja, Beijo e Malícia. [ui].

Então, procurem as três palavras que te descrevem e deixa um comentário aí. Se ninguém comentar vai ser tenso. Eu acho que eu vou criar uns fakes só pra parecer que muitas pessoas leem o meu blog.

Ah, e detalhe: o negócio chama Caça-Palavras Psicológico, mas eu sempre lia Caça-Palavras Psicótico. [Risos. Muitos risos.] Hoje que eu percebi.

Então... até mais.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Héri Poti


Pois é, gente! Hoje eu tô que tô! Ontem, eu dormi pensando no Harry Potter e hoje eu acordei pensando: "Quantas pessoas no mundo já assistiram o último filme?"

Então, até a Brogodó tem cinema, mas a minha cidade não. Vou ter que esperar até o fim das férias pra voltar pra Uberlândia e assistir ao último filme.

O pior é que eu perdi a minha última chance... última chance de assistir a uma estreia do Harry Potter no cinema. Mas... fazer o que, né!

Como da última vez, resolvi postar alguma coisa relacionada ao filme. Resolvi, então, colocar um vídeo. Calma, não é tão ruim quanto o outro. Esse só tem um minuto e eu nem abro a boca. [Risos]

Já tinha um tempo que eu queria colocar um vídeo tocando teclado. Pois é! O vídeo é da música Prologue do John Williams. Ninguém conhece essa música de nome. Todo mundo fala: "Ah! A música do Harry Potter!"

Se você não está lembrado... vai lembrar quando ouvir.

Outra coisa: antes que alguém fale alguma coisa... Sim, eu estou com a mesma camisa do outro vídeo. Foi pura coincidência! Mas é que eu adoro essa camisa e nesse exato momento eu tô usando ela.

Vou deixar de conversa. Aperta o Play lá!

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Aquele encontro


Saiu de casa altas horas da noite, blusa de frio e tênis. Seus pés faziam barulho pela calçada das ruas desertas onde um vento frio soprava discreto. O bairro afastado tinha pouca iluminação e uns cachorros latiam longe.

Com as mãos nos bolsos da blusa, foi andando depressa. Entrou na penumbra de um viaduto e surpreendeu-se com um vulto que saiu detrás de um muro de concreto. Agarrou-lhe pela cintura e deu-lhe um beijo desesperado.

Logo, um cheiro nauseante invadiu suas narinas. Não conseguia se concentrar em mais nada.

— Espera, espera! Assim não dá!

— O que foi? Fiz alguma coisa errada?

— Sei lá! Esse lugar... Nossa, esse... cheiro tá me dando dor de cabeça.

— Mas, sem esse cheiro, não tem o clima.

— Clima? Então, pra que você me pediu pra vir debaixo desse viaduto? Eu conheço esse clima do banheiro de um boteco lá perto de casa.

O outro estava com as mãos na cintura.

— Agora, sou eu que digo: assim não dá! Falando desse jeito, você quebra todo o... romantismo do negócio.

— Hã?

— É. A ideia era essa: eu te surpreender como um homem desconhecido...

— Escondido num lugar fedido?

— Um homem desconhecido, misterioso e atraente — ele corrigiu.

Segurou o riso.

— Tudo bem! — Voltou ao beijo.

Nenhum carro passaria por ali. As carícias eram mais quentes.

Engasgou.

— Cof! Cof! Desculpa, mas não dá! Tá muito forte. Essa... carniça...

— Eu também não consigo mais assim — saiu pisando forte. — Você esqueceu o significado de romantismo?

— Eu acho que foi você que esqueceu. Romantismo é caixa de bombons, flores, filme na televisão...

Olharam-se e concluíram que aquela não tinha sido a melhor ideia do casal.

— Meu carro tá ali na frente. — Sorriu.

— Pode ser na sua casa?

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Vida

A vida é como um travesti...

Não é o que você pensa que é, não serve para o que você quer e, provavelmente, vai te foder. Mas até que pode ser divertido!

terça-feira, 5 de julho de 2011

Preciso de terapia


Não consigo explicar.

Eu não sou bom com palavras. Eu sou bom com gestos e sorrisos e caretas. Também não sou bom com sentimentos. Sempre me gabei por ser o senhor de mim mesmo, mas... eu estou me sentindo completamente perdido. Eu sinto como se fosse um monte de pessoas dentro de mim gritando enlouquecidamente ao mesmo tempo. Todas elas querem se mostrar, mas um “eu-certinho” faz com que todas se ponham no seu lugar.

Quer dizer, só “eu-certinho” acha que esse é o lugar delas. O “eu-certinho” me inferniza com todas as suas regras, com toda a sua preocupação excessiva. Esse filho-da-mãe que vive dentro de mim mede todas as consequências imagináveis pra cada ação que eu vou praticar... Aí, acaba que o trouxa, que se deixa levar por esse “idiota-certinho”, não aproveita a vida que tá passando cada vez mais rápido.

Além disso, o “eu-certinho” é muito rigoroso. Acha que eu tenho que ser perfeito, que eu não posso errar, que eu não posso sair da linha um centímetro sequer. Filho-da-mãe! Eu o xingo todos os dias da minha vida, mas quando eu tô pronto pra fazer alguma coisa errada... é ele quem eu ouço primeiro. Como é que eu faço com isso?

Ao lado do “eu-certinho”, vive o “eu-problemático”. Sempre andam juntos e adoram falar sobre o que eu faço. Eu não posso nem pensar em fazer alguma coisa diferente que o “eu-certinho” já chama o “eu-problemático” pra dizerem o quanto eu sou infantil, estúpido e precipitado. Eu não devo fazer isso e isso, por causa disso e disso.

E o “eu-problemático” também aparece sozinho quando eu saio de casa. Ele adora me colocar pra baixo, dizer que eu sou feio e ridículo. Ele faz com que eu me sinta um peixe fora d’água em todos os lugares que eu estou. Às vezes, eu estou super animado, saio de casa e... aparece o traste acabando com a festa.

Outro que é grande, mas tem um cérebro do tamanho de uma ervilha é o “eu-ciumento”. Como eu consigo odiar tanto alguém que vive dentro de mim? Esse idiota não pode ver um amigo meu abraçado com outro que já começa a me cutucar. Eu tento não ligar, mas ele é muito chato e insistente. Eu acabo perdendo o controle e fico emburrado.

Quando esse desgraçado do “eu-ciumento” aparece eu não consigo me concentrar em nada. Sinto-me completamente acabado, murcho. Não consigo ler, ouvir música, nem prestar atenção na televisão. Só me vem um rosto na minha mente e um desejo imenso de vingança. Mas o meu “eu-vingativo” está nas últimas. De tanto ficar sem fazer nada, ele teve problemas no nervo ciático e tá lá, de cama. Quem tá junto comigo agora é o “eu-bonzinho”.

O “eu-bonzinho” é muito gente fina. Não tem como odiá-lo. Ele que me incentiva a fazer o bem sem olhar a quem. Mas ele é tão bonzinho que, às vezes, me dá nos nervos. Parece que ele gosta que os outros me façam de bobo. As pessoas me pisam, acabam comigo. Aí, eu tento levantar o “eu-vingativo” da cama, mas o “eu-bonzinho” não deixa. Tenta me acalmar e ainda chama o “eu-certinho” pra ajudar. Depois que eu estou em casa sem nem sentir o gosto da vingança, ainda aparece o “eu-problemático” pra me dizer que eu sou bobo mesmo.

Raramente aparece o “eu-consolador”. Ele gosta de ouvir os meus problemas. Os meus anseios mais íntimos eu só reparto com ele. Gosto de deitar no seu colo e poder conversar. Na verdade, eu gosto de contar meus problemas enquanto caminhamos juntos. Andamos a cidade inteira durante muitas tardes só pra eu falar. E ele ouve tudo atenciosamente.

Ele me entristece, às vezes, é verdade. Quando eu estou triste, o “eu-consolador” gosta de relembrar um momento feliz da minha vida. Eu rio com essas lembranças, mas... isso me entristece quando a lembrança fica embaçada, lá longe. Porém, ele me diz que tudo passa e que a felicidade não está em nenhum lugar específico: está dentro de mim. Eu sou feliz naturalmente. Sempre fui alegre sem nenhum esforço!

E ainda tem o “eu-confiante”! O meu melhor amigo e que me acompanhou nos momentos mais felizes da minha vida. Ele não gosta muito de brigar e, já que o “eu-problemático” arranja muita confusão, nos momentos de tristeza, o “eu-confiante” fica na dele. Mas eu o sinto ao meu lado. Lindo!

E quando eu fico feliz, ele é a primeira pessoa que eu chamo pra sair. A gente se arruma, toma banho de perfume e saímos cantando com um sorriso largo no rosto. Nesses dias, o “eu-problemático” fica com ciúmes e emburra. Ótimo! Eu queria que aquele momento fosse só nosso mesmo.

Ai, como ele me conforta! Ele gosta de me deixar pra cima. Os dias em que ele conversa comigo eu me sinto maravilhoso: o “eu-confiante” faz com que eu me sinta como alguém normal, porque eu sou normal. Ser diferente é normal. Quando eu penso em fazer alguma coisa, o “eu-confiante” é quem me dá um empurrão. Ele é lindo demais! Como eu gosto de dormir com ele, acordar ao seu lado e tê-lo o dia todo só pra mim. E esse eu tenho certeza que é só meu. Tá vendo? O “eu-ciumento-possessivo” já apareceu!

Todos eles e mais uma multidão conversando o dia todo dentro da minha cabeça. Eles discutem muito entre eles e depois fazem questão que eu dê um veredito. Discutem comigo o dia inteiro, por isso que, às vezes, alguém pode me ver sorrindo sozinho ou pulando de raiva no meio da rua. Eles me enlouquecem!

E quando alguém tá falando comigo e eu não tô nem ouvindo, é que algum desses malucos está me contando alguma novidade ou continuando um assunto inacabado.

No final do dia, eu quero ficar calado. Só consigo escrever, escrever, escrever. Eu tento colocá-los pra fora, deixo que falem um pouco pela ponta da minha caneta. Só isso! Eu não quero papo com ninguém.

Eu fico esperando eles cansarem e poderem dormir. Eles dormem cedo: ali pela hora da novela. Eu tenho que descansar um pouco, então. À meia-noite, quando eu já tô descansado, eu mudo completamente. Eu ainda tô meio lesado de tanta discussão, por isso eu pareço que tô bêbado. É por isso que frequentemente depois da meia-noite as pessoas dizem: “Nossa! Como você tá mudado!” E tô mesmo! Eu pareço meio noiado, mas eu tô bem.

Pronto! AGORA VOCÊS ESTÃO SATISFEITOS?

sábado, 2 de julho de 2011

Uma (boa?) notícia

(Doraci tinha marcado um encontro com David. Precisavam ter uma conversa muito séria. O encontro era às 8 no sofá da sala).

DAVID: E então, Doraci... Tô aqui!

DORACI: Pois é...

DAVID: E... então?

DORACI: O que eu tenho pra te falar é uma coisa muito... delicada.

DAVID: (apreensivo) Doraci, não me diga que você... Não, Doraci! Eu não vou aguentar. Eu prefiro permanecer na ignorância. Não me conte dos seus casos extraconjugais. Eu junto as minhas coisas e...

DORACI: Eu não disse nada disso, David.

DAVID: Mas você disse que era delicado.

DORACI: Só por causa disso você acha que eu te traí.

DAVID: ... não sei. Mas o que é, então?

DORACI: É que... eu tô grávida.

(pausa)

(pausa)

DAVID: Como é que é? Eu não entendi direito!

DORACI: Eu tô grávida.

DAVID: Grávida “grávida”? Você tá esperando um bebê?

DORACI: Pelo menos eu acho que esse é o significado de estar grávida.

(David escorou na parede e sentou-se no sofá com a mão no peito).

DAVID: Ai, meu Pai! Eu não vou aguentar isso. Eu não tô passando bem, não. Não estava preparado pra receber uma notícia dessas assim, Doraci.

DORACI: Deixe de ser exagerado.

DAVID: Eu acho que minhas vistas estão escurecendo.

DORACI: Pare com o drama, David. Não vai ser você que vai passar nove meses carregando um bebê dentro de você. Não vai ser você que vai engordar 15 quilos e ainda ter que acordar todas as noites durante muitos meses pra dar de mamar ao nosso filho.

DAVID: Doraci, que falta de sensibilidade! Eu sou o homem dessa casa. Será mais uma boca para eu alimentar. Será uma pressão no trabalho: eu estou pensando seriamente em procurar outro emprego. Esse que eu estou não é suficiente para sustentar uma criança.

DORACI: Ai, Cristo! Nós vamos ter um bebê e não um hipopótamo de estimação!

DAVID: Berço, fraldas, mamadeiras, bicos, babás, carrinho, leite... E OS ESTUDOS DA CRIANÇA!

DORACI: David, nós não vamos pôr nosso filho na escola com dois dias de vida.

DAVID: Eu não aguento essa pressão.

(Toca a campainha).

DAVID: Não estou em condições de receber visitas, Doraci.

DORACI: Mas vai ter que estar. Eu acho que é a mamãe.

DAVID: DONA ESPERANÇA? Ah, não, Doraci! E ela já sabe...?

DORACI: Vamos dar a boa notícia agora.

(Doraci abriu a porta. Dona Esperança entrou e deu um abraço na filha. Fechou a cara quando viu o genro deitado no sofá).

ESPERANÇA: Depois eu falo que é um vagabundo e ainda acha ruim. (Vira-se para Doraci). E, então, minha filha: você me disse que tinha uma notícia para me dar!

DORACI: (sorrindo) Tenho! Eu estou grávida.

ESPERANÇA: (Abraçando a filha) AAAAAHHHH! QUE LINDO, MINHA FILHA! MEUS PARABÉNS! Que felicidade que eu estou.

DORACI: Que bom que a senhora ficou feliz.

ESPERANÇA: Mas você tá grávida de quem?

(pausa)

(pausa)

DORACI: Er... Como assim, mamãe?

ESPERANÇA: Ora! Quem é o pai da criança?

DAVID: Como assim, dona Esperança?

ESPERANÇA: Cala a boca aí! A conversa ainda não chegou na senzala.

DORACI: Mãe, que pergunta mais... sem cabimento! Como assim? O filho é do meu marido: do David!

ESPERANÇA: Oh, minha filha! Eu não devo ter te ensinado as coisas do jeito certo. Como é que você se deixa engravidar por um paspalho desses? O Carlos Henrique, um médico tão famoso, tá lá todo disponível e você se contenta com um operariozinho de meia pataca? Qual será a próxima vez que você poderá ficar grávida?

DAVID: Que que isso, dona Esperança? Oh, Doraci, eu não vou deixar a sua mãe ficar me esculachando na minha frente.

DORACI: É, mãe! O David tem razão. Eu escolhi o David...

ESPERANÇA: Escolheu errado! Você deve ter o dedo podre.

DORACI: Nossa, mamãe. Eu tô sentindo como se a senhora não se importasse com meus sentimentos.

ESPERANÇA: É claro que eu me importo com seus sentimentos. Você vai se sentir muito ruim quando estiver passando fome por causa da incompetência desse seu marido.

DAVID: Oh, dona Esperança, a senhora tá lembrada que eu tô aqui.

ESPERANÇA: É a mesma coisa de não ter ninguém.

DAVID: Olha, aqui. Eu não vou admitir que a senhora fale assim comigo, sua... sua velha.

ESPERANÇA: Velha é a senhora sua mãe. Quer dizer... se você tiver mãe, né. Deve ser filho d’uma parideira qualquer.

DAVID: O QUÊ? A senhora que não consegue admitir que a sua filha é muito mais feliz comigo do que ao seu lado.

ESPERANÇA: Mais feliz ao seu lado? Hahahaha! Não me faça rir! Você nem... comparece, né!

DAVID: Olha quem fala! Há quanto tempo a senhora tá aposentada? Se bem que eu acho que ninguém nunca conseguiu... satisfazer a senhora, né! Como um amigo meu diria: uma velha mal comida.

DORACI: CHEEEEEEEEEEEGA! CALEM A BOCA! Eu não preciso de nenhum de vocês. Eu vou criar o meu filho sozinha. Vou alugar um quarto numa pensão e não preciso da ajuda de nenhum de vocês. (Pega sua bolsa e sai).

ESPERANÇA: Viu o que você fez?

DAVID: Eu? O problema é seu.

ESPERANÇA: Agora vai lá consolar a sua esposa.

DAVID: Esse papel é seu. A senhora que é a mãe. (Pausa) Quer dizer... Pode deixar que eu vou.

ESPERANÇA: Não! Agora sou eu que vou lá.

DAVID: Eu faço questão de ir. A senhora pode ficar aí.

(Doraci volta).

DORACI: Vocês não ouviram? Eu não preciso de nenhum de vocês.

ESPERANÇA: Minha filha, desculpa, mas é que eu não consigo me segurar quando eu tô em frente a um paspalho.

DAVID: E eu não posso deixar que a sua mãe me trate como se eu fosse o gato dela.

ESPERANÇA: Não se compare a meu gatinho...

DORACI: Pode ir parando por aí. Eu achei melhor voltar pra vocês não se matarem.

DAVID: Você acha que eu vou sujar as minhas mãos...

ESPERANÇA: Eu tenho mais o que fazer...

DORACI: CHEGA! Daqui a pouco meu filho vai nascer prematuro.

ESPERANÇA: Vamo’ mudar de assunto, então? Eu tava pensando no nome do bebê: o que vocês acham de Heliodegário? Meu Helinho!

DAVID: Mas é que eu tava pensando...

DORACI: É melhor a gente deixar esse assunto pra outro dia...