quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Meu amor...



Só pra começar... eu te odeio! Muito mesmo. E esse ódio que eu alimento gasta muito espaço dentro de mim. Talvez seja por isso que eu te odeie tanto: porque você ocupa muito espaço nos meus pensamentos. Dá pra parar com isso?

O estranho é que, quando você insiste em se distanciar e eu insisto em nunca mais querer te ver, eu fico desamparado: me sinto incompleto. Fico triste e sinto uma saudade tão forte do seu jeito insolente. Me dá vontade de te pedir desculpa, de poder estar do seu lado quando você precisar, de poder te abraçar quando você me pedir.

Conheci um pedaço seu quando eu era só uma criança inocente. Eu era tão bobinho naquela época e você... não tinha nenhuma importância pra mim. Mais um no meio da multidão. Mas a sua fragilidade atrás dessa sua cara séria despertou o meu... fica estranho dizer isso, mas... despertou o meu espírito materno. Poderia dizer “paterno”, mas era materno! O que eu posso fazer?

Era engraçado como eu te defendia e me sentia realizado em poder te ajudar com tantas coisas: estudos, amores... Tudo! Não precisava pagar por isso: o seu sorriso branco e os seus olhos verdes já compensavam tudo.

Como esses seus olhos verdes me deixam enfurecido!

E o seu espírito veio em outra forma. Agora, sua fragilidade estava escondida atrás de músculos e de muitos palavrões. Você se mostrava muito forte, mas eu via a tristeza nos seus olhos (sempre verdes) e as marcas de tanto sofrimento nas cicatrizes do seu rosto. Você estava mais frágil por dentro e mais carrancudo por fora. Foi difícil te arrancar algum sorriso, mas consegui arrancar um sorriso torto. E adorava te ver chorando de rir!

Eu não sei por que a minha mente se ocupou tanto de você! Você era um ponto de interrogação pra mim, assim como eu queria ser para as pessoas. Eu te odiava. Eu te odeio ainda! Já quis te dar uns murros na cara pra ver se você toma jeito. A sua cara de deboche, a sua superioridade física e, às vezes, surpreendente, intelectual, a sua despreocupação... Tudo isso me deixava furioso. Me deixa!

Eu te odeio. Queria você longe de mim. Mas, além de ser egoísta não querendo ninguém perto de você, eu era metido e achava que você não conseguiria sobreviver sem mim; não sobreviveria sem os tapas na cara, um olhar bravo e um “Já chega, agora!”.

Eu não sei se você me ouvia, mas eu espero que eu tenha sido marcante na sua vida o quanto você foi à minha.

Eu te amo! Mas eu te odeio por você fazer com que eu te ame. Eu me odeio por te amar. Você não faz nada para merecer o amor de ninguém, mas o meu instinto materno é mais forte. Eu queria cuidar de você, seu idiota!

Muito tempo depois, você me aparece mais maduro. O sorriso torto, os olhos verdes e o cabelo enrolado. Como você é irritante! Sempre tão prestativo, querendo conversar. Me pediu ajuda, mas depois, numa conversa inesquecível, percebi que era a hora de eu deixar ser ajudado por alguém.

Quando você me deu abertura eu senti um nervosismo engraçado — um frio percorrendo toda a minha perna, um excitamento que eu sentia no fundo do peito — e resolvi me deixar levar pelo momento. Foi maravilhoso poder compartilhar tantas preocupações, medos e dúvidas.

Eu te amo! Naquele momento, eu te amei muito. Tudo me fazia lembrar você. Mas eu queria te tirar da cabeça: VOCÊ NÃO CONSEGUE ME ENTENDER? Fui andar e pôr os pensamentos no lugar, mas um All Star, uma música da novela ou um par de olhos verdes faziam eu me lembrar do que eu justamente queria esquecer.

Você é insuportável!

Eu sei que ninguém é superior a ninguém, mas eu tenho a impressão que você é a mim. Detesto o seu sorriso esnobe. Quer dizer... Adoro o seu sorriso marrento. Na verdade, a única coisa que eu sei é que eu te odeio. E te amo!

Quero você longe de mim. Ai, como é ótimo poder sentir a vida passando sem você empacando o meu caminho! Poder caminhar sem pensar o que você vai pensar de mim. E sinto que você é feliz sem mim. 

Afinal, você não precisa de mim para sobreviver aos percalços da vida. Por quantas coisas você já passou sozinho? Ou por causa de alguma briga nossa ou por causa da distância mesmo? Nem sei. Você já é cobra criada.

Mas, quando eu me sinto sozinho, eu me lembro de você. Penso o quanto eu seria feliz se tivesse você do meu lado. Nunca contei a ninguém, mas já te imaginei velhinho numa cadeira de balanço; e eu ao seu lado lendo uns livros de piadas. Seu rosto enrugado, mas os olhos verdes sempre vivos. E sorrindo!

Imagino isso da mesma maneira que imagino como seria nossa infância juntos. Nós dois debaixo d’um pé de manga. E eu lendo (por que sempre lendo?) por causa da sua demora em aprender a ler. Ou não. Não sei!

Depois de muito sem te ver, achei que já tinha te esquecido. Mas ainda tremo vendo os seus olhos verdes, seus cabelos claros e cacheados, seu boné verde, seu sorriso torto, seu jeito de dançar, suas fotos engraçadas, sua blusa amarela... sentindo o seu cheiro e ouvindo a sua voz rouca.

EU TE ODEIO! Faça esse amor parar!

Mas eu ainda quero te abraçar, afagar seus cabelos e dizer que pode contar comigo. Vou a qualquer lugar pra te ajudar. E me peça ajuda: adoro isso! Nem que seja com tal menina, ou com tal menino! Tudo pra te fazer sorrir.

Eu te amo! E te odeio por isso!

2 comentários:

érica reis' disse...

OMG!! Sei que vc escreve bem, mas esse texto me surpreendeu. O coração ajudou né kkk
ps: precisamos colocar o papo em dia'

Isadora disse...

essa linha que separa o amor da raiva, né? tão pequenininha e quase invisível...

(tô morrendo de rir com a foto do post acima!)