— Não tem nada mais certo do que aquela frase: enquanto
houver amanhã, haverá preguiça — o primeiro disse.
— Como assim? — o segundo perguntou.
— É mais ou menos como o lema dos preguiçosos, conhece? Pra
que fazer hoje se eu posso fazer amanhã?
— Gostei disso! Bem pensado, bem pensado...
— E, se não houver amanhã, a gente é automaticamente
obrigado a fazer tudo hoje.
Riram.
— Eu discordo — um terceiro entra no assunto.
— Discorda?
— Claro. Parto da ideia de que a preguiça sempre existirá.
Gostei do que você disse no início, que, enquanto houver amanhã, haverá
preguiça. Mas discordo do ponto em que você disse que, se não houvesse amanhã,
seríamos obrigados a fazer tudo hoje. É claro que não! Se não houver amanhã,
pra que eu vou fazer alguma coisa hoje? Pra que eu vou consertar o carro ou
devolver o DVD na locadora se eu não vou viver mais nenhum dia?
Os dois primeiros riram alto com tamanha obviedade. Mas o
primeiro ainda tinha que contestar.
— Mas eu disse que seríamos obrigados a fazer tudo hoje no
sentido de... de... Já ouviu dizer que temos que viver o nosso dia como se
fosse o último de nossas vidas?
— Claro.
— Então! Um dia a gente acerta — completou rindo.
— Mas quem me garante que existirá o amanhã? Quem disse que
amanhã, sábado, eu vou estar aqui com vocês?
— Por isso que eu digo: faça tudo o que tem vontade de fazer
porque senão você morre com vontade.
— Mas eu não quero pensar em pequenos planos. Meros desejos
carnais. Meus planos são maiores, vão ocupar muitos dias da minha vida.
— Então, comece hoje mesmo.
— E se eu começar hoje e morrer amanhã. Tudo o que eu faria
hoje teria sido em vão. Prefiro ficar aqui no bar vendo a vida passar, tomando
uma cerveja e um torresmo com limão.
— Mas isso é um “mero desejo carnal”, como você disse.
— Eu sei. Mas, já que eu não vou poder realizar os meus
grandes planos... só a bebida é o que me resta.
Silêncio.
— E eu também tô com preguiça hoje. E, se houver amanhã...
também estarei. Quando alguém me garantir que eu não vou morrer no dia
seguinte, eu começo a trabalhar.
Um comentário:
E assim caminha a humanidade... Gostei do texto! Diálogo verídico, certo? Faço um parecido comigo mesma quase todos os dias, mas o mundo sempre tem a última palavra.
Ah, oi! (:
Postar um comentário