Banheiro da empresa. Banheiro masculino da empresa.
O primeiro que entrou trabalhava ali há uns três anos, mas
ainda estava num dos cargos mais baixos da agência. Suas camisas eram compradas
numa loja de departamentos do shopping, suas calças e seu paletó já tinham dois
anos de uso e seus sapatos... Esqueçam seus sapatos, coitado!
Ele preferia usar o mictório ao reservado: mais prático,
mais rápido, menos água. Cada um com seus ideais. Abriu o zíper da calça e fez
o que tinha que fazer.
Uns segundos depois, outro homem muito apertado entrou;
muito apertado literalmente. Apertado no sentido de necessitado de dar vazão às
suas necessidades fisiológicas e no sentido de espremido dentro de suas roupas
curtas.
Por mais que ele encomendasse todos os seus ternos, camisas
e calças num alfaiate lá do centro, sua barriga crescia em progressão
geométrica e nada mais lhe cabia depois de um mês de uso. O uso do mictório nem
era uma escolha; os reservados eram minúsculos.
Com dificuldade, tentando mexer os seus braços presos pelo
pouco tecido, ele conseguiu arreganhar a braguilha e respirar aliviado.
Os dois ficaram ali em silencio: olhar de peixe morto para a
parede, lábios cerrados e a respiração controlada. No mictório existem mais regras
de etiqueta do que num jantar real. E qualquer erro pode ser fatal.
O primeiro era subordinado do segundo, mas ali eles não se conheciam;
o seu chefe até preferia que nenhuma palavra fosse trocada. Era melhor que
deixassem assuntos inúteis para a hora do cafezinho. Ali, os olhos não podiam
se desviar um centímetro sequer.
O de terno surrado terminou primeiro, fechou o zíper e não
lavou as mãos. O de vestuário exclusivo até preferiu que o outro saísse
primeiro: além de não conseguir mover seus braços dentro daquele terno — que,
no momento de aperto, se tornava uma camisa de força — precisou fazer um
exercício com o diafragma para diminuir a barriga e fechar a braguilha.
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