A moça estava sentada na lanchonete com uma amiga: sapatilha,
bolsa pendurada nas costas da cadeira. A amiga precisou ir ao banheiro para
retocar o batom.
De longe, um rapaz notou a moça “desprotegida”. Era o
momento que ele aguardava há muitos dias. Tinha ensaiado suas palavras várias
vezes diante do espelho e agora era a hora.
Antes de se levantar, ainda hesitou, mas aquilo era
necessário para a continuação de sua vida.
Ele se sentou diante da moça e cuspiu as palavras:
— E, então?
— ?
— Como é que fica a gente?
— Como fica a gente?! É... eu... Não tô entendendo!
— É, uai. Tipo, a gente se encontra todos os dias, troca
vários olhares... E, aí começa a rolar um sentimento...
— Sentimento?
— É! Essa troca de olhares vai criando um clima, sabe? Você
não notou? Te observando todos os dias é como se... é como se eu já te
conhecesse, entende? Eu virei meio que seu íntimo.
— Eu nem te conheço.
— Mas é pra isso que eu tô aqui. Eu sei que você também tá
amarradona na minha e...
— Amarradona? Eu já disse que eu nem te conheço.
— Mas e os olhares?
— Olhares? Que olhares?
— Você me olha com esses olhos apaixonados...
— Eu te olho como eu olho pra qualquer outra pessoa que
aparece na minha frente. Eu não fico te encarando, se é isso que você está
pensando!
— Eu não estou pensando em...
— Tira a mão de mim! Eu chamo a segurança. Eu tô te
avisando.
A amiga voltou com o batom retocado.
— Vamo’ embora!
— Mas a gente acabou de chegar! — a amiga disse indignada
colocando todos os seus apetrechos de maquiagem dentro da bolsa.
— Esse cara é louco.
E deixaram o apaixonado sozinho.
— Mas e os olhares? Os olhares!
Nenhum comentário:
Postar um comentário