domingo, 13 de maio de 2012

Coisa de filho



“Tenho às vezes vontade de ser novamente um menino, 
e na hora do meu desespero gritar por você; 
te pedir que me abrace e me leve de volta pra casa,
 e me conte uma história bonita e me faça dormir.”

Eu amo essa mulher! Somos praticamente da mesma geração e a pouca diferença de idade fez com que criássemos entre nós uma enorme cumplicidade. Sabemos o sentimento de cada um só pelo olhar; a gente não consegue esconder mentiras um do outro e é só ela me dar aquela olhada para eu saber que já tá na hora de ficar calado.

Todos nós, alguma vez na vida, já tivemos conflitos com nossas mães, mas a gente amadurece. Cresce, amadurece e aprende a dar valor nessas mulheres. A gente cresce, amadurece e percebe que podemos aprender tantas coisas com elas.

Minha mãe foi quem me ensinou a cuidar da casa, quem pegou na minha mão quando eu ainda treinava minha coordenação motora no jardim de infância, quem me explicou por telefone como fazer arroz.

Foi ela quem me ensinou que não se pode falar mal dos outros, que algum dia todos nós podemos precisar dos nossos vizinhos e que eu não posso entrar no rio depois de ter almoçado.

De uma forma natural, nós dois fomos nos aproximando cada vez mais e nos tornamos amigos. E a gente conversa como amigos conversam! Já discutimos tentamos descobrir em que novela a Adriana Esteves e o Marco Ricca se conheceram, onde foi parar o meu cachorro de pelúcia e em que DVD tem aquele clipe do Phil Collins.

Como é grande o meu amor por essa mulher! Nós do sexo masculino adoramos ser mimados quando estamos doentes, e minha mãe faz isso como ninguém. Como daquela vez que eu fiquei sem voz durante um final de semana e minha mãe me levava chá de hortelã na cama.

Isso sem falar no que ela já fez em tempos remotos da minha vida: sentiu dores nas costas enquanto eu crescia dentro da sua barriga; aguentou os meus berros (sim, eu berrava!) durante muitos anos; trocou minhas fraldas e vestiu meus macacõezinhos; penteou meu cabelo e me ensinou como me vestir; colocou comida na minha boca; me levou no hospital; e mais uma infinidade de coisas. E nunca me cobrou nada. Nunca me jogou na cara que fez tudo isso por mim e que era minha obrigação ser assim ou assado. 

Para os outros, minha mãe pode parecer séria. Sim, ela é séria. Se minha mãe não fosse tão rigorosa talvez eu não tivesse aprendido tudo que ela me ensinou: tem que ter disciplina, dedicação, esforço.

Sim, ela é séria. Mas ela também é uma comédia. Sua risada é estridente (o que eu peguei por DNA!) e sua dança é estranha. E como ela é amorosa! Acorda durante a noite pra passar a mão no meu cabelo, me dá um abraço forte quando nos encontramos e tem muita calma quando estamos estressados. Mas também é muito estressada quando todos nós estamos calmos.

Minha mãe é meu porto seguro. Quando parece que o mundo vai desabar, minha mãe vem com uma voz mansa e uma palavra calma pra pôr tudo no lugar. Isso às vezes me tira do sério, mas, no fim, era isso que eu precisava.

“Tenho às vezes vontade de ser novamente um menino; 
muito embora você sempre acha que eu ainda sou. 
Toda vez que eu te abraço e te beijo sem nada dizer, 
você diz tudo que eu preciso escutar de você.”

Te amo e não há nada nesse mundo que diminuirá o que eu sinto.

Um comentário:

Paula Peixoto disse...

"e me ensinou como me vestir" no dia que você coloca a bermuda verde com a blusa amarela ela infarta.