“‘Falava-se do riso’, disse Jorge secamente. ‘As comédias
eram escritas pelos pagãos para levar os espectadores ao riso, e nisso faziam
mal. Jesus Nosso Senhor nunca contou comédias nem fábulas, mas apenas límpidas
parábolas que alegoricamente nos instruem sobre como alcançar o paraíso, e
assim seja’.
‘Pergunto-me’, disse Guilherme, ‘por que sois tão contrário
em pensar que Jesus jamais tenha rido, por acho que o riso é bom remédio, como
os banhos, para curar os humores e as outras afecções do corpo, em particular a
melancolia’.
‘Os banhos são coisa boa’, disse Jorge, ‘e o próprio Aquinate
os aconselha para remover a tristeza, que pode ser má paixão, quando não está
voltada para um mal que possa ser removido através da audácia. Os banhos
restituem o equilíbrio dos humores. O riso sacode o corpo, deforma as linhas do
rosto, torna o homem semelhante ao macaco’.
‘Os macacos não riem, o riso é próprio do homem, é sinal de
sua racionalidade’, disse Guilherme.
‘Também a palavra é sinal da racionalidade humana e com a
palavra se pode ofender a Deus. Nem tudo aquilo que é próprio do homem é
necessariamente bom. O riso é sinal de estultice. Quem ri não acredita naquilo
de que está rindo, mas tampouco o odeia. E portanto rir do mal significa não
estar disposto a combatê-lo e rir do bem significa desconhecer a força com a
qual o bem se difunde a si próprio’.”
Trecho do livro "O nome da Rosa", de Umberto Eco. A imagem é do filme de mesmo nome do diretor Jean-Jacques Annaud.
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