terça-feira, 10 de novembro de 2009

Açougueiro

Fui trabalhar num açougue depois de alguns anos atrás do balcão. Não foi porque eu quis, mas por falta de opção: estava sem emprego há algum tempo e precisava de grana para pagar algumas contas.

Pois é! Então eu, Beto, fui para um açougue.

Foi um pouco difícil me acostumar com o cheiro de sangue fresco, mas com algumas semanas esse cheiro foi ficando gravado no meu cérebro. O que era difícil de me acostumar era com as piadinhas de adolescentes imbecis.

Eu sei como é ser um adolescente, homem, sem ter o que fazer. O telefone está ali, nos admirando e a gente não consegue resistir. Escolhemos a nossa melhor piada (ou a pior) e ligamos para o lugar mais apropriado.

Só quando eu estou do outro lado do telefone para perceber o quanto essas piadinhas são sem-graça.

— Deixa eu te perguntar.

— Pois não — eu respondo na maior boa vontade.

— Você tem orelha de porco?

— Sim, temos.

— Você tem pé de porco?

— Sim, temos.

— E focinho de porco?

— Também.

— Então, quer dizer que você é um porco.

HAHA! Que engraçado?

Na época de adolescente, eu nunca cairia numa pegadinha dessas.

— Alô, bom dia!

— Por acaso vocês trabalham com roupa?

— Não, aqu...

— Ah, então, vocês trabalham pelados.

Muito espertinho, não?

Eu estou torcendo para não ter sido tão sem graça nos meus tempos de mocidade.

Às vezes, alguns tem a cara-de-pau de fazer ao vivo e à cores.

— Eu fiz uma encomenda para churrasco.

— Pois não.

— Eu pedi uma maminha. Você pega a minha maminha?

Eu tenho que fingir que acho graça, mas por dentro eu quero xingar a mãe dele de todos os nomes que me vierem a cabeça.

O pior é quando são as proibidas para menores.

— Quer dizer que você segura a linguiça o dia inteiro?

— Você está até enjoado de salsicha, né! Come todo dia.

Não foi fácil, não. Eu tinha que ficar sorrindo, achando graça das pessoas me insultando. É horroroso ter de aguentar essas piadinhas, principalmente quando eu sou praticamente forçado a continuar nesse emprego.
Senão, eu podia chutar o pau de barraca e dizer umas poucas e boas para alguns metidos a comediantes.

Eu não sei se eu já tenho alguns cabelos brancos, mas se tiver eu tenho certeza que foi por causa desses meses no açougue.

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