Queria ser modelo. Imaginava-me desfilando enquanto eu caminhava como florista no casamento da minha tia.
No início, eu seria modesta e começaria na agência de modelos da cidade, que funciona num prédio desgastado no centro comercial.
Num evento na capital do estado, uma etilista me elogiaria para o dono de uma agência. Ele descobre que eu sou a modelo que ele precisava.
Compraria um apartamento no Rio de Janeiro e moraria com mais duas amigas modelos.
A agência me chamaria para uma campanha que me levaria para Nova York. De lá, viajaria para Milão, Roma, Paris, Tóquio e Berlim.
Faria um casamento com um jogador de futebol americano que acabaria em cinco meses.
Meu rosto estaria em todas as capas de revista do mundo quando eu seria considerada a modelo mais bem paga do planeta.
Me casaria novamente com um bonitão de Hollywood e teria uma linda filha: Sophia.
Voltaria para o Brasil apenas para umas aparições no São Paulo Fashion Week ou para uma propaganda publicitária.
Uma palavra-chave: QUERIA.
Queria ser essa mulher maravilhosa aí em cima se eu não tivesse engravidado aos 16, meu pai não tivesse me obrigado a casar com o pé-rapado do meu namorado, se eu não tivesse de enfiar a barriga no fogão e, quinze anos depois do casamento, minhas roupas não fossem do tamanho 56.
Eu queria…
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