segunda-feira, 26 de abril de 2010

Aquele pescoço não sai da minha cabeça

Dois amigos conversam sentados num banco de praça. Edgar, cabelo castanhos, olhos com cor de mel e sorriso branco. Amanda, de cabelos pretos presos num rabo de cavalo, olhos de um verde profundo e um corpo esbelto.

São apenas amigos.

EDGAR: Hoje eu descobri uma coisa, que eu nunca tinha pensado em todos os 19 anos de minha existência.

AMANDA: Tá. Se você for dizer que é gay, eu vou te aceitar…

EDGAR: (interrompe) Não! Eu descobri que eu sou apaixonado por… pescoços.

AMANDA: Pescoços?! Tipo, pescoços de galinha?

EDGAR: Não. Estou dizendo pescoços humanos. De pessoas.

AMANDA: Gosta, tipo, que nem os vampiros?

EDGAR: Você não está entendendo. Tem gente de gosta dos olhos, do sorriso, das mãos, dos pés das pessoas… Eu gosto do pescoço. Gosto de admirar a beleza de um belo pescoço.

AMANDA: Você tá parecendo aquelas pessoas que dizem que gostam de joelhos e de cotovelos. Sei lá! Tem gente que gosta até do branco do olho.

EDGAR: Mas nada se compara aos pescoços. Descobri essa minha paixão andando hoje pela rua. Foi de longe que eu vi aquele pescoço moreno, certinho, perfeito…

AMANDA: Pescoço certinho?! Será que tem alguém com o pescoço torto?

EDGAR: Sei lá! Só sei que quando eu vi aquele pescoço eu não parei de pensar nele. Um calor maravilhoso passou por todo meu corpo como se eu tivesse segurado um fio desencapado.


AMANDA: Isshhh… Ficou maluco!


EDGAR: Fiquei apenas imaginando o perfume que estaria impregnado naquele pedaço de corpo… Fiquei imaginando a maciez daquele pescoço, a textura daquela pele morena… Ai, ai!

AMANDA: Credo! Deu pra imaginar isso tudo? A mulher deve que já tava pensando que você queria assediá-la.

EDGAR: Mas eu só estava olhando para o pescoço.

AMANDA: Sei muito bem como os homens gostam de um pescoço. Gostam daqueles que ficam em cima de um decote bem grande.

EDGAR: Mas não tinha decote nenhum. E mesmo se tivesse eu não teria olhos para outra coisa a não ser…

AMANDA: Tá, tá. Aquele pescoço.

EDGAR: A gola da blusa terminava bem no pescoço. (Arrepio) Ai, ai… aquela gola.

AMANDA: Ai, meu Deus! Você se decide. É o pescoço ou a gola?

EDGAR: O conjunto da obra. Daria de tudo para tocar aquele pescoço com minhas mãos, meus lábios...

AMANDA: Pelo jeito você nem olhou para a cara da moça.

EDGAR: Não. Mas eu só tinha…

AMANDA: Tá, tá! Já chega. Você tem que se controlar, meu Deus! Que obsessão por aquele pescoço. A mulher deve que já tava imaginando: “Que homem safado que não para de olhar pr’os meus peitos!”. É assim que as coisas acontecem, Edgar. Os homens não podem ser levados a sério. Eles só pensam naquilo. E, mesmo sendo meu amigo, você é primeiramente homem, e… Edgar? Edgar?

EDGAR: Hã?!

AMANDA: Você tá me ouvindo?

EDGAR: É porque aquele pescoço não sai da minha cabeça.

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