Meu nome é Melissa, mas eu prefiro que me chamem de Mel. É um nome mais leve e mais doce (dispenso trocadilhos). Tenho 18 anos e escrevo esse texto para contar uma das muitas histórias que me aconteceu nesses anos de minha vida.
É a história do japonês do 82. Sim! Essa era a única informação que eu tinha daquele homem pelo qual me apaixonei. Não é exagero. Na adolescência, é permitido se apaixonar por qualquer um, até mesmo um desconhecido que eu só vi uma vez na vida num carro em alta velocidade.
Eu voltava de uma festa com sete pessoas amontoadas num carro popular, daqueles bem apertadinhos. A turma tava toda animada, rindo alto e falando mais bobagem do que qualquer outro dia. Muito bom.
Eu tava espremida contra a janela do carro e olhava a rua de vez em quando. Passamos por um lugar que eu não conhecia muito bem e, aí, eu tive aquela visão maravilhosa (Não sou nenhuma tarada. Eu tinha 17 anos, na época. Não pensem mal da minha pessoa). Sim! Era um exemplo de deus grego.
Era um japonês, com o cabelo preto (não daqueles lisinhos que os japoneses têm) jogado pro lado, sem camisa. Tá! Talvez vocês estejam me perguntando: qual a diferença se ele está com ou sem camisa? Muita, eu lhes respondo. Eu nunca vi um japonês tão sarado feito esse. Não era nada exagerado, só o máximo para fazer meu pescoço ficar virado pra trás. (Não me perguntem porque ele estava sem camisa altas horas da noite).
Eu pensei: eu quero vê-lo outra vez, né! Foi quando eu pensei que nunca mais encontraria o tal japonês, que eu vi o número da casa dele: 82. Olhei em volta e vi uma padaria em frente à casa do dito cujo (sempre procurem um ponto de referência nesses casos). Tudo certo: amanhã, depois de amanhã e o resto do ano eu estaria ali.
Voltei no dia seguinte e fiquei sentada numa das mesas da padaria. Comi uns pães de queijo e um suquinho (não podia aparecer de qualquer jeito para o amor da minha vida, né!) e esperei. Muito. Ele não apareceu.
Voltei no outro dia e não demorou muito o japonês apareceu. O portão da garagem abriu e ele tirou aquele carrão pro lado de fora. Não entendo muito de carro, mas eu tenho certeza que aquele não era carro de qualquer Zé-ninguém, não. Um carrão de deixar qualquer garoto idiota, metido a gostosão, babando de inveja.
Ele apareceu com uma camisa regata branca, um short preto e um balde de água. Começou a lavar o carro e logo a camisa branca do homem tava transparente. Jesus, Maria e José!
— Você tá precisando de alguma coisa?
Era o garçom que tinha me perguntado. Foi só quando ele falou comigo que eu percebi que eu tava com a mão no peito, quase morrendo sem ar.
— Está tudo bem — eu respondi. — Obrigada.
Eu não podia acreditar naquilo: Ele tirou a camisa e continuava a lavar o carro todo molhado. Eu precisava ligar pra Pri. Talvez amanhã ela queira vir comigo. Ela vai cair de costas quando ver o japonês.
Continuava olhando aquele homem na minha frente quando eu tive uma ideia. Ia andar pela calçada e ia tropeçar. Claro que era um acidente. Eu nunca faria isso por querer.
Paguei o moço da padaria e, já estava saindo, quando um carrão — da mesma categoria do outro — parou em frente à casa 82. Um homem loirão, de terno, saiu do carro. Ele atravessou a rua, abraçou o japonês e deu-lhe um beijo na boca.
Vou contar que não foi acidente: eu caí de verdade. Os dois no maior amasso lá no passeio. Meu Deus do Céu!
Fui embora um pouco decepcionada. Nada contra homem que beija homem, mas… é um a menos né. Dois a menos! Hoje, aquele japonês ainda aparece nos meus sonhos de vez em quando. Na verdade, eu nem sei se ele era japonês, mas…