terça-feira, 15 de março de 2011

Era vida real


Voltava do trabalho às 8 da noite. Cheguei no meu prédio e subi as escadas até o 3º andar. Eu nunca tinha gostado dos corredores frios daquele lugar, mas naquele dia eu sentia um vento fantasmagórico. Era como uma presença.


Olhei várias vezes sobre o meu ombro para ver se não estava sendo seguido. Sentia um medo dentro do meu peito tomando todo o meu corpo: minhas mãos suavam, minhas pernas tremiam. Era uma estranha sensação de que meu peito tremulava.

Senti um alívio quando tranquei a porta atrás de mim. Respirei fundo. O apartamento gelado, vazio e escuro. Acendi as luzes e sentei-me para me acalmar antes de tomar um banho gelado.

Deitei na cama. A última coisa de que me lembro.

Quando acordei estava deitado num banco de ônibus. Ainda era noite e minhas costas doíam. Eu estava de shorts, camisa branca e chinelos. Tinha a impressão de que tinha apanhado. Passei a mão no rosto, nos braços, mas tudo estava aparentemente inteiro.

Sentei-me, mas me abaixei rapidamente quando observei que não estava sozinho no ônibus. Lá na frente, perto do banco do motorista tinha uns três homens grandes conversando. Dava pra ouvir alguns fragmentos.

— É melhor a gente fazer o que tem pra fazer...

— Ele não pode desconfiar...

— Tem que ser rápido...

— E sem sujeira...

O meu instinto de sobrevivência me dominava. Era um arrepio que percorria a espinha e gritava para eu fugir o mais rápido que eu pudesse.

Meus olhos se encheram de lágrimas e eu segurava aquela vontade de chorar pelo medo de morrer.

Eu não queria morrer.

Eu tentava enxergar alguma coisa. Tive a impressão de ver o brilho de uma lâmina. Não sei se era possível confiar no meu senso, mas aquilo não era um pesadelo: era real.

Os homens de repente saíram do ônibus. Era a minha chance: uma luz no fim do túnel; a esperança de salvar minha vida.

Levantei-me e eu fazia movimentos mínimos para não ser notado. Mas o chinelo batia no meu pé a cada passo. O barulho me denunciaria. Eu não tenho muita facilidade para andar descalço, mas tirei o chinelos.

Olhei pelas janelas e vi que estava numa rodovia sem movimento. Seria difícil, mas eu faria de tudo para salvar minha vida.

Aquele tremor no peito, as lágrimas no olhos, as pernas bambas... Os homens conversavam ali mais adiante. As únicas luzes eram a da lua e do farol fraco do ônibus velho.

O momento crucial tinha chegado. Eu tinha que descer as escadas do ônibus e correr o quanto a minha perna aguentava.

Eu senti que não respirava há muitos segundos. Desci as escadas sem mexer os músculos. Não sei como fiz isso!

Pareceu-me que as minhas roupas em contato com minha pele fazia um barulho estrondoso.
Eu senti o ar frio da noite no meu rosto e aquela era a hora: virei-me para o lado oposto ao que os meus assassinos estavam e corri. Parecia um sonho daqueles que a gente corre, corre, corre, mas parece não ter nenhum efeito.

Meus batiam no chão e eu corria sem ver pra onde.

Um comentário:

Clara disse...

oO Que aventura, hein?
Acho que a fuga deve ter um sabor de adrenalina totalmente maravilhoso... Claro que o medo e os riscos não valem a pena, mas é um bom assunto a ser descrito.