quarta-feira, 25 de maio de 2011

Sobre segredos, cafés e cigarros

Ele tinha me ligado no dia anterior para marcar a hora e o lugar. Eu saí de casa com um boné, óculos escuros e um sobretudo. Não podia ser reconhecido!

Com as mãos no bolso, eu andava pela rua deserta e o sol, que tinha passado o dia todo escondido atrás de pesadas nuvens, se despedia num pôr-do-sol laranja pálido.

Cheguei ao endereço: um café no porão de um prédio de tijolinhos. Desci as escadas e o cheiro de mofo, café e nicotina encheram meus pulmões. Mergulhei numa atmosfera densa onde eu só podia vislumbrar o brilho dos olhos de alguns homens escondidos debaixo de seus chapéus.

Não posso negar que as minhas pernas tremeram.

Os meus sapatos faziam um barulho estridente no meio daquele burburinho grave enquanto eu caminhava abrindo espaço entre aquela espessa nuvem de fumaça.

As mesas eram separadas por divisórias de madeira cruzadas na diagonal. Não era possível nem ver nem ouvir o que os da mesa ao lado faziam.


Algo como um grunhido fez que eu olhasse pra minha direita e reconhecesse os olhos escuros do homem sentado ali. Ele tomava café e fumava um cigarro nacional. Seu anel no dedo anelar era visível de longe: de ouro com uma pedra vermelha bem esculpida.

Eu me sentei.

— O serviço foi feito?

Não sabia que ele seria tão direto! “Mas”, eu pensei, “ele não estava ali pra brincadeira”.

Eu engoli seco e respondi positivamente com um aceno. Não sei onde eu estava com a cabeça quando pensei que ele fosse dar um sorriso de satisfação.

— Ótimo — foi só o que ele disse. Seco.

Ele, então, abaixou-se e exibiu uma mala surrada e colocou-a sobre a mesa. Minhas mãos começaram a tremer. Como é que ele tinha a coragem de trazer aquilo para aquele lugar tão... ameaçador?

Olhei para os lados e dei com os olhos num olhar maligno. Decidi não mais olhar em volta.

— Aqui está o combinado. E mais um bônus por ser tão ágil. — Ele murmurou.

Ele empurrou a mala na minha direção e eu coloquei o braço sobre ela imaginando o que poderia me acontecer se alguém desconfiasse a quantidade de dinheiro que tinha ali dentro. 
No mínimo, chegaria em casa sem nada. Ou nem chegaria!

— E você me conhece! Se alguma informação vazar pra imprensa... você será responsabilizado. E eu tenho um método muito eficiente para lidar com quem me foi desleal.

Diziam que os seus capangas amarravam o pé dos traidores a uma pedra e jogavam em alto mar.

Mas eu era mais esperto. Segurei-me para que um sorriso largo não aparecesse nos meus lábios. Um dos homens mais poderosos do país, conhecido como um advogado honesto e misericordioso tinha me pagado para dar cabo da vida de um adolescente.

Eu nunca seria capaz de fazer aquilo. A mentira fora muito bem montada. Fugiria para algum lugar no hemisfério Norte e eu já tinha um plano pra que esse corrupto mentiroso me sustentasse para o resto da minha vida.

— Estamos entendidos? — ele disse numa voz mais ameaçadora.

— Claro!

Quando eu virei as costas, dei um sorriso discreto e saí com a cabeça erguida carregado minha pequena fortuna.

Um comentário:

Jota disse...

Mentira que não teve nem um tiroteio, nem uma bala perdida, nada?! kkkkk
Adorei, muito bem escrito e cativante. Parabéns!!!!