Tonight I saw the evil in your eyes
It’s
undeniable
Eram sete da noite e o sol já se escondera completamente
atrás dos arranha-céus. Ela ouvia a música pelo fone de ouvido enquanto fazia a
sua corrida do dia. Esperava que as preocupações da sua cabeça evaporassem com
o suor que minava da sua testa.
Pelo fone ela ouviu uma nota dissonante que congelou as suas
entranhas; instintivamente, ela olhou para trás como se a música que tocava
alto nos seus ouvidos tivesse lhe dado um sinal.
Ela viu. Uma silhueta nas sombras: chapéu, sapatos, terno e
um cabo longo na mão direita. Uma parte dela deixou-a preocupada; a outra
tentava convencê-la de aquela preocupação era bobagem. Na dúvida, resolveu
apertar o passo.
Seus pés passavam pelas escuras sombras das árvores
desenhadas no asfalto e a música continuava tocando na sua cabeça.
Seus pés flutuavam como num sonho ruim e ela sentia seu
coração batendo perto da garganta. Num ato de coragem momentânea, ela olhou pra
trás e... A sombra continuava a segui-la com pés seguros e seu punho direito
girava o longo cabo de um machado.
A música gritava na sua cabeça deixando-a mais ansiosa.
Click
clack
Bang
bang
Ela nem pensava que poderia arrancar os fones do ouvido e se
libertar daquela perturbação; ela sentia como se estivesse no seu filme de terror
particular. E a sombra continuava andando. Esgueirando-se por entre as folhas
das árvores, a luz da lua conseguiu iluminar o rosto sorridente do homem que tanto
a assustava. Aquilo a deixou mais nervosa.
O machado dançava ao redor do corpo do homem enquanto ele
andava. Ela corria e ele... simplesmente caminhava. Pra ele era uma caminhada descontraída;
ele sorria espontaneamente e girava o machado como um dançarino de circo faz
com suas barras de madeira.
A música zombava da mulher.
It’s
murder
It’s
murder
Ela corria, mas parecia que não era suficiente. Ele andava
calmamente e mesmo assim parecia estar sempre no seu encalço. Ela jurava que no
meio do barulho da música era possível ouvir a risada dele.
It’s murder
It’s murder
It’s bloody murder
Ela tropeçou. Era o que faltava para que ele conseguisse completar
aquele pequeno espaço que ainda faltava entre eles. Ele sorria com seu corpo em
cima do dela. Ela olhou pra cima e ainda conseguiu ver o contorno daquela
cabeça contra a luz da lua antes do golpe.
O machado trespassou a clavícula, a espátula e parou numa
das vértebras torácicas. Ele deu um último golpe para ter certeza de que tudo
daria certo e continuou a caminhada rodando o machado nos dois lados do corpo. Ela
não aguentaria muito.
Os fones saíram do ouvido da mulher quando ela
bateu o crânio no chão. Antes de apagar completamente, ela ainda ouviu alguns
ecos da música:
I don’t wanna die, I don’t wanna die
Um comentário:
até que enfim uma morte sangrenta nesse blog. com um machado ainda, adorei!
Postar um comentário