sexta-feira, 29 de junho de 2012

Assassinato



Tonight I saw the evil in your eyes
It’s undeniable

Eram sete da noite e o sol já se escondera completamente atrás dos arranha-céus. Ela ouvia a música pelo fone de ouvido enquanto fazia a sua corrida do dia. Esperava que as preocupações da sua cabeça evaporassem com o suor que minava da sua testa.

Pelo fone ela ouviu uma nota dissonante que congelou as suas entranhas; instintivamente, ela olhou para trás como se a música que tocava alto nos seus ouvidos tivesse lhe dado um sinal.

Ela viu. Uma silhueta nas sombras: chapéu, sapatos, terno e um cabo longo na mão direita. Uma parte dela deixou-a preocupada; a outra tentava convencê-la de aquela preocupação era bobagem. Na dúvida, resolveu apertar o passo.

Seus pés passavam pelas escuras sombras das árvores desenhadas no asfalto e a música continuava tocando na sua cabeça.

Seus pés flutuavam como num sonho ruim e ela sentia seu coração batendo perto da garganta. Num ato de coragem momentânea, ela olhou pra trás e... A sombra continuava a segui-la com pés seguros e seu punho direito girava o longo cabo de um machado.

A música gritava na sua cabeça deixando-a mais ansiosa.

Click clack
Bang bang

Ela nem pensava que poderia arrancar os fones do ouvido e se libertar daquela perturbação; ela sentia como se estivesse no seu filme de terror particular. E a sombra continuava andando. Esgueirando-se por entre as folhas das árvores, a luz da lua conseguiu iluminar o rosto sorridente do homem que tanto a assustava. Aquilo a deixou mais nervosa.

O machado dançava ao redor do corpo do homem enquanto ele andava. Ela corria e ele... simplesmente caminhava. Pra ele era uma caminhada descontraída; ele sorria espontaneamente e girava o machado como um dançarino de circo faz com suas barras de madeira.

A música zombava da mulher.

It’s murder
It’s murder

Ela corria, mas parecia que não era suficiente. Ele andava calmamente e mesmo assim parecia estar sempre no seu encalço. Ela jurava que no meio do barulho da música era possível ouvir a risada dele.

It’s murder
It’s murder
It’s bloody murder

Ela tropeçou. Era o que faltava para que ele conseguisse completar aquele pequeno espaço que ainda faltava entre eles. Ele sorria com seu corpo em cima do dela. Ela olhou pra cima e ainda conseguiu ver o contorno daquela cabeça contra a luz da lua antes do golpe.

O machado trespassou a clavícula, a espátula e parou numa das vértebras torácicas. Ele deu um último golpe para ter certeza de que tudo daria certo e continuou a caminhada rodando o machado nos dois lados do corpo. Ela não aguentaria muito.

Os fones saíram do ouvido da mulher quando ela bateu o crânio no chão. Antes de apagar completamente, ela ainda ouviu alguns ecos da música:

I don’t wanna die, I don’t wanna die

Um comentário:

igor disse...

até que enfim uma morte sangrenta nesse blog. com um machado ainda, adorei!