quinta-feira, 12 de julho de 2012

Sem lágrimas



Seu sorriso era encantadoramente iluminado; os lábios bem desenhados se abriam de um canto ao outro e aquele rosto era o mais belo que eu já tinha visto. Seus gestos eram leves e de longe eu ouvia a espontaneidade na sua voz. Não conseguia tirar os olhos dela: ela era a personificação de um sonho de primavera. Esperava ver um rosto como aquele na tela grande do cinema e não atrás de um balcão. Ela era eficiente e isso emanava da sua pele.

Eu precisava me aproximar; queria ver o seu cheiro e por sorte talvez sentisse o seu toque macio.

Ela sorriu pra mim como tinha feito com todos os clientes anteriores; eu tive que me controlar para não me afogar no azul profundo dos seus olhos. Fiquei sem ar e me senti sendo transportado para dentro de seus pensamentos. Seu sorriso era encantadoramente iluminado, mas seus olhos gritavam socorro; no fundo eu ouvia suas vozes me pedindo ajuda. Era uma voz tão tênue, contida, tímida...

Senti-me transportado para um mundo cinza dentro da mente daquela musa. Eu via através dos olhos dela e, ao mesmo tempo, podia observá-la de longe. No fim do expediente ela arrumava o cabelo na frente do espelho e se despia do sorriso. Colocava um agasalho e saia pelos fundos. As mãos no bolso do sobretudo e o barulho dos sapatos pelo asfalto cinza.

Os jovens passavam sorridentes ao seu lado como um borrão e ela sonhava com seu passado. Seu coração batia forte quando via um casal apaixonado de mãos dadas.

Um tremor percorreu sua espinha e chegou até os dedos da sua mão direita quando ouviu uma música num rádio. Só o arrepio; sem lágrimas. Não havia mais pelo que chorar.

Voltei para aquele momento onde eu observava seus olhos e tentava descobrir seus segredos; ela com seu sorriso ensaiado e eu com o coração batendo rápido de vergonha por ter invadido sua privacidade.

— Precisa de mais alguma coisa? — ela me perguntou.

Eu queria ter feito a mesma pergunta a ela. Se ela respondesse com um não, eu insistiria até ela admitir que só queria um abraço, uma palavra de carinho, alguém para fazer-lhe companhia debaixo dos cobertores.

Fiquei com uma cara infantil mergulhado em seus segredos e respondi que já estava satisfeito. Eu queria ter coragem para consolá-la, para dizer que ela não é a única que sofre por amor nesse mundo inteiro, mas... sou tímido demais pra isso.

Fui para casa esperando que ela me perdoasse pela minha timidez.

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