Seu sorriso era encantadoramente iluminado; os lábios bem
desenhados se abriam de um canto ao outro e aquele rosto era o mais belo que eu
já tinha visto. Seus gestos eram leves e de longe eu ouvia a espontaneidade na
sua voz. Não conseguia tirar os olhos dela: ela era a personificação de um
sonho de primavera. Esperava ver um rosto como aquele na tela grande do cinema
e não atrás de um balcão. Ela era eficiente e isso emanava da sua pele.
Eu precisava me aproximar; queria ver o seu cheiro e por
sorte talvez sentisse o seu toque macio.
Ela sorriu pra mim como tinha feito com todos os clientes anteriores;
eu tive que me controlar para não me afogar no azul profundo dos seus olhos.
Fiquei sem ar e me senti sendo transportado para dentro de seus pensamentos.
Seu sorriso era encantadoramente iluminado, mas seus olhos gritavam socorro; no
fundo eu ouvia suas vozes me pedindo ajuda. Era uma voz tão tênue, contida,
tímida...
Senti-me transportado para um mundo cinza dentro da mente
daquela musa. Eu via através dos olhos dela e, ao mesmo tempo, podia observá-la
de longe. No fim do expediente ela arrumava o cabelo na frente do espelho e se
despia do sorriso. Colocava um agasalho e saia pelos fundos. As mãos no bolso
do sobretudo e o barulho dos sapatos pelo asfalto cinza.
Os jovens passavam sorridentes ao seu lado como um borrão e ela
sonhava com seu passado. Seu coração batia forte quando via um casal apaixonado
de mãos dadas.
Um tremor percorreu sua espinha e chegou até os dedos da sua
mão direita quando ouviu uma música num rádio. Só o arrepio; sem lágrimas. Não
havia mais pelo que chorar.
Voltei para aquele momento onde eu observava seus olhos e tentava
descobrir seus segredos; ela com seu sorriso ensaiado e eu com o coração
batendo rápido de vergonha por ter invadido sua privacidade.
— Precisa de mais alguma coisa? — ela me perguntou.
Eu queria ter feito a mesma pergunta a ela. Se ela respondesse
com um não, eu insistiria até ela admitir que só queria um abraço, uma palavra
de carinho, alguém para fazer-lhe companhia debaixo dos cobertores.
Fiquei com uma cara infantil mergulhado em seus segredos e
respondi que já estava satisfeito. Eu queria ter coragem para consolá-la, para
dizer que ela não é a única que sofre por amor nesse mundo inteiro, mas... sou
tímido demais pra isso.
Fui para casa esperando que ela me perdoasse pela minha
timidez.
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